Agência France-Presse
postado em 13/04/2018 17:56
Nações Unidas, Estados Unidos -Estados Unidos, França e Reino Unido mantiveram, nesta sexta-feira (13), a pressão sobre o regime sírio pelo suposto uso de armas químicas no conflito, apesar das reiteradas advertências da ONU sobre uma "escalada total" na guerra.
O clima foi marcado por ameaças de ação armada de países ocidentais na Síria. A embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Nikki Haley, citou a possibilidade de ataques aéreos nesta semana, mas insistiu que o presidente americano, Donald Trump, ainda não havia tomado "a decisão final".
Apesar de se dizerem convencidos da responsabilidade do regime de Bashar al-Assad no ataque que teria deixado mais de 40 mortos no último sábado em Ghuta Oriental, perto de Damasco, os países ocidentais pareciam hesitar diante dos temores de uma "escalada militar total" na Síria, segundo as palavras do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres. Sobretudo após as ameaças de resposta da Rússia.
Trata-se de uma procrastinação para Nikki Haley, que pareceu perder a paciência nesta sexta-feira em uma reunião do Conselho de Segurança convocada a pedido de Moscou.
"Em algum momento, teremos que fazer alguma coisa", disse ela. "Vocês deveriam dizer: ;já chega;", acrescentou, citando os muitos vetos russos na ONU a uma investigação do uso de armas químicas pelo regime sírio.
"Caso os Estados Unidos e seus aliados decidam agir na Síria, será em defesa de princípios com os quais todos concordamos", alertou Haley ao Conselho de Segurança, em alusão ao repúdio ao uso de armas químicas.
Mas o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, expressou sua preocupação com as "crescentes tensões".
"A incapacidade de encontrar um compromisso para estabelecer um mecanismo de investigação ameaça levar a uma escalada militar total", alertou, pedindo aos membros do Conselho de Segurança que "ajam com responsabilidade nessas circunstâncias perigosas".
Em Washington, a porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert, assegurou que os Estados Unidos têm a "prova" de que efetivamente houve um ataque químico em Duma e que o governo sírio é o responsável.
"Não direi quando soubemos. O ataque aconteceu no sábado e sabemos que foi um ataque químico", disse Nauert à imprensa, acrescentando que apenas alguns poucos países, como a Síria, têm "esse tipo de armas".
Perguntada se o governo americano tinha provas de que o governo de Assad estava por trás do ataque, Nauert se limitou a dizer que "sim".
- Aliados somam pressão -
O representante da França, François Delattre, apontou para a necessidade de "deter a escalada química" e destacou que a as Nações Unidas não poderiam "permitir que um país desafie o Conselho de Segurança e o direito internacional".
Delattre acrescentou a França "assumirá a responsabilidade" e apontou que o governo sírio tinha tomado um "caminho sem volta".
Já a embaixadora britânica Karen Pierce apontou que a Rússia impulsionava uma violação das normas internacionais apenas para sustentar o governo sírio.
"Não vamos sacrificar a ordem internacional que construímos coletivamente pelo desejo russo de proteger seu aliado a qualquer preço", apontou.
Na opinião de Pierce, as ações da Rússia na Síria são "prejudiciais à nossa segurança".
- Reação e resposta -
Em resposta às ameaças, a Síria advertiu a ONU que não teria "outra escolha" senão se defender caso fosse atacada.
"Isto não é uma ameaça, é uma promessa", afirmou o diplomata sírio em meio a um grave silêncio na sala do Conselho de Segurança.
Na quinta-feira, o embaixador da Rússia na ONU, Vassily Nebenzia, disse que a prioridade era "evitar o perigo" de um confronto militar direto entre os Estados Unidos e a Rússia, que mantém tropas na Síria.
"Estamos tentando impedir o massacre de inocentes", explicou na quinta o secretário americano de Defesa, Jim Mattis, citando a perspectiva de ataques aéreos iminentes por parte dos americanos, franceses e, talvez, britânicos.
No entanto, "no plano estratégico, a questão é saber como evitar uma escalada fora de controle", acrescentou.
O presidente russo, Vladimir Putin, alertou seu colega francês, Emmanuel Macron, contra qualquer "ato imprudente e perigoso" na Síria, que poderia ter "consequências imprevistas".
A fim de "trazer de volta a paz e a estabilidade" na Síria, Emmanuel Macron disse a Vladimir Putin, durante uma conversa por telefone, que o diálogo deveria "se intensificar" entre Paris e Moscou, de acordo com o palácio do Eliseu.
- Técnicos chegam a Ghuta -
Enquanto isso, o presidente da Turquia, Recep Tayip Erdogan, disse à imprensa de seu país que as tensões entre Rússia e Estados Unidos pareciam "se acalmar".
Erdogan ficou em uma espécie de fogo cruzado nesta crise, já que a Turquia é aliada dos Estados Unidos na Otan, mas o país está alinhado com Rússia e Irã no conflito sírio.
A Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ), que deve se reunir na segunda-feira, disse que seus especialistas estavam a caminho da Síria e começariam a trabalhar no sábado.