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Trump anuncia ataque à Síria em resposta ao uso de armas químicas

Presidente norte-americano também advertiu a Rússia e o Irã, que apoiam o governo sírio

postado em 13/04/2018 22:18
Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump
Em um pronunciamento na noite desta sexta-feira (13/4), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que ataques contra a Síria estão em marcha. Os ataques seriam uma resposta ao possível uso de armas químicas pelo regime de Bashar al Assad no último dia 7, na cidade de Duma.
"Ordenei às forças armadas dos Estados Unidos que lancem ataques de precisão contra alvos associados à capacidade de armas químicas do ditador Bashar Al Assad", disse Trump.
O presidente americano ressaltou que os ataques ocorrerão "até que o regime sírio deixe de utilizar armas químicas contra civis". "Sustentaremos esta ação tanto quanto for necessário", disse.
Ainda no discurso, Trump classificou o uso de armas químicas como "crimes de um monstro" e advertiu a Rússia e o Irã, que apoiam o governo sírio.

Rússia e Irã, disse Trump, são "responsáveis por apoiar, equipar e financiar o regime criminoso" da Síria. Por isso, a Rússia "descumpriu suas promessas" de impedir que o governo de Assad use armas químicas, acrescentou.
Também de acordo com o presidente norte-americano, os ataques ao país do Oriente Médio serão coordenados com a França e o Reino Unido. Em Londres, a primeira-ministra britânica, Theresa May, disse que não havia "alternativa prática" ao uso da força na Síria, ao anunciar que o Reino Unido se uniu à França e aos Estados Unidos para lançar ataques contra a Síria.

"Esta noite autorizei as Forças Armadas britânicas a realizar bombardeios coordenados e dirigidos para degradar as capacidades de armas químicas do regime e impedir seu uso".

Em Paris, o presidente francês, Emmanuel Macron, confirmou que a França participou da operação conjunta, destacando que os bombardeios estavam "circunscritos às capacidades do regime que permitem a produção e o uso de armas químicas".

"Não podemos tolerar a banalização do uso de armas químicas", explicou o presidente em um comunicado.
Pouco depois do discurso de Trump, forte explosões foram ouvidas pela população da capital, Damasco. Os ataques, que teriam alvos múltiplos, também foram relatados pela TV estatal do país, que ainda destacou que a defesa antiaérea síria entra em ação contra a "agressão" americana.
Momentos antes do pronunciamento à Nação de Trump, o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, que está em Lima participando da Cúpula das Américas, deixou repentinamente um banquete sem dar explicações e retornou ao hotel onde está hospedado, segundo jornalistas que o acompanham na viagem.

Mais cedo, a porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert, anunciou que os Estados Unidos tinham provas de que Assad havia de fato lançado o ataque com armas químicas na região de Duma.

"Não direi quando tivemos a prova. O ataque ocorreu no sábado e sabemos que foi um ataque químico", disse Nauert à imprensa, em Washington, acrescentando que apenas alguns poucos países, como a Síria, tinham "esse tipo de armas".

A porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, afirmou que a Rússia também era responsável pelo ocorrido porque "fracassou em impedir que ocorresse um ataque com armas químicas".

O presidente americano manteve seguidas reuniões de consulta nos últimos dias com seus conselheiros militares e aliados no exterior para definir uma reposta às denúncias de ataque químico.

No Conselho de Segurança da ONU, António Guterres, fez também nesta sexta-feira um apelo dramático a agir com "responsabilidade" para evitar uma "escalada militar total" na Síria.

Armas químicas

Uma equipe da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) inicia neste sábado (14/4) sua investigação na cidade síria de Duma, alvo de um suposto ataque químico condenado por vários países ocidentais.

O regime de Bashar al Assad, apoiado por Rússia e Irã, nega qualquer recurso a armas químicas e acusa os rebeldes de "fabricar" o ataque, enquanto Estados Unidos e França não descartam uma retaliação.

As forças do regime sírio impedem o acesso a Duma, o que não permite que a imprensa verifique de maneira independente as acusações.

O que se sabe sobre o ataque:

O que aconteceu
No sábado, dia 7 de abril, Duma - o último bastião rebelde na região de Damasco - sofre um intenso bombardeio do regime após mais um fracasso nas negociações para se organizar a saída dos combatentes do grupo Yaish al Islam.

Por volta das 16H00 local ocorre um ataque aéreo sobre a rua Omar bin Al Jatab, e segundo diversas ONGs, como o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), há dezenas de casos de intoxicação.

A Rede Síria dos Direitos Humanos e o Centro de Documentação de Violações denunciam um ataque com cloro.

Um segundo ataque ocorre às 19H30 local e atinge zonas próximas à Praça dos Mártires. As vítimas apresentam sintomas como queimaduras nos olhos e espuma na boca, o que sugere algo mais forte que o cloro, possivelmente um agente neurotóxico com o gás sarin, segundo especialistas.

Mohamed, um médico de Duma, disse à AFP que na noite de sábado atendeu ondas sucessivas de feridos. "Chegavam sufocados, havia um forte cheiro de cloro".

Um vídeo publicado por socorristas dos Capacetes Brancos gravado após o ataque mostra vários corpos, incluindo de crianças, espalhados pelo chão, todos com espuma branca na boca.

A veracidade das imagens não pôde ser confirmada de maneira independente.

No domingo, o regime anunciou um acordo nas negociações e quatro dias depois o Yaish al Islam entregou suas armas pesadas e abandonou a cidade. "O ataque químico nos levou a aceitar", disse Yaser Delwan, um dos líderes do grupo.

Quantos morreram no ataque?
Os Capacetes Brancos e a ONG Syrian American Medical Society afirmam que mais de 40 pessoas morreram e cerca de 500 apresentaram "sintomas de exposição a agente químico".

A Organização Mundial de Saúde, baseada em informações de parceiros locais, avalia que "mais de 70 pessoas refugiadas em porões morreram e que 43 óbitos estão vinculados diretamente a sintomas coerentes com uma exposição a produtos químicos altamente tóxicos".

Quais são os responsáveis?
Como nas ocasiões precedentes, o regime de Bashar al Assad nega ter recorrido a armas químicas.

A Rússia descarta as acusações. "Nossos especialistas militares já foram ao local (...) e não descobriram qualquer sinal de cloro ou outra substância química utilizada contra civis", declarou o ministro russo das Relações Exteriores, Serguéi Lavrov.

Nesta sexta-feira, o Exército russo assegurou ter "provas que mostram a participação direta da Grã-Bretanha na organização desta provocação em Ghuta Oriental", a região onde se encontra Duma. Moscou acusa Londres de ter exercido "uma forte pressão" sobre os Capacetes Brancos "para encenar esta provocação premeditada".

O regime sírio já foi acusado de outros ataques químicos, como ocorreu em Khan Sheikhun (noroeste), onde especialistas da ONU e da OPAQ identificaram o emprego de gás sarin. O ataque contra esta localidade rebelde deixou mais de 80 mortos.

O que farão os investigadores?
Os investigadores da OPAQ podem analisar "amostras químicas, ambientais e biomédicas", interrogar vítimas, testemunhas, pessoal médico e participar de necropsias, explica a organização.

Um dia após o início da missão a equipe apresentará um primeiro "relatório da situação" e 72 horas após seu regresso a Haia, onde está a sede da OPAQ, fará um "relatório preliminar". O texto final sairá no prazo de 30 dias.

O regime sírio assegura que colaborará com os investigadores.
Com informações de agências

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