postado em 15/04/2018 11:36
Focada e militarmente restrita, a operação conduzida pelos Estados Unidos contra o regime de Damasco não ajuda a esclarecer a estratégia americana na Síria e não deve acabar com o impasse diplomático após sete anos de uma guerra cada vez mais complexa.
"Missão cumprida", comemorou no sábado (14/4) o presidente americano Donald Trump, algumas horas depois de ter anunciado solenemente os ataques "de precisão" em resposta ao suposto ataque químico realizado em 7 de abril em Duma, na região de Ghuta Oriental.
Em Washington, destaca-se a "coalizão" que o presidente americano conseguiu formar com "dois outros membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU", a França e o Reino Unido.
Tratou-se de "uma resposta aliada", ressaltou uma autoridade americana que pediu para não ser identificada, "diferentemente dos Estados Unidos quem agiam sozinhos há um ano", nos primeiros ataques ordenados por Trump depois de um precedente ataque químico.
Apesar do destaque na imprensa, a "missão" foi limitada ao máximo, após uma semana de ameaças e intensas negociações que provocaram especulações sobre a possibilidade de ataques de maior envergadura.
"Os alvos estavam estritamente relacionados à produção ou armazenamento de armas químicas", enquanto "os meios para lançá-las não foram atingidos", assegurou à AFP Faysal Itani, pesquisador do think tank Atlantic Council em Washington.
"Estes ataques podem enviar ao presidente sírio Bashar al-Assad a seguinte mensagem: ;você não tem o direito de lançar ataques químicos, mas para todo resto está ok, continue;", estima.
Os Estados Unidos disseram claramente que não têm a intenção de interferir, além desse objetivo, no conflito entre o poder sírio, apoiado pela Rússia e o Irã, e os rebeldes.
"Nossa estratégia síria não mudou", ressaltou no sábado a embaixadora americana na ONU, Nikki Haley.
"Qual estratégia?", pareceu questionar a maioria dos especialistas.
Processo de paz "bloqueado"
Ao julgar "legítimos" os ataques ocidentais, o presidente do Council Foreign Relations, Richard Haass, constatou no Twitter que "não há mudança visível na política americana em relação à Síria".
"Os americanos não agiram para enfraquecer o regime", assegura este respeitado ex-diplomata.
Outro ex-chefe do departamento de Estado, Nicholas Burns, defendeu "manter as forças americanas no norte da Síria" contra o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) e a criação de uma "coalizão diplomática americano-árabe-europeia" para "contrabalançar a influência negativa do trio Rússia-Irã-Síria".
Oficialmente, a "estratégia" americana foi detalhada em janeiro por Rex Tillerson, então secretário de Estado de Donald Trump. Fazia menção a uma presença de longo prazo das forças americanas contra o EI, mas ressaltava dois outros objetivos colaterais: contribuir para a partida de Bashar al-Assad e contrabalançar a influência do Irã.
Funcionários do governo continuam a se referir a este discurso, mas o presidente Trump, que desde então demitiu Rex Tillerson, surpreendeu recentemente ao pedir um retorno rápido de seus militares, antes de finalmente desistir de estabelecer um cronograma de retirada sob a pressão de seus conselheiros e aliados.
Além disso, o governo americano garante que está determinado a impulsionar o processo de paz de Genebra, sob os auspícios da ONU. Embora reconheça que esteja "totalmente bloqueado", nas palavras de uma autoridade, que culpa o regime sírio "que se recusa a participar nas discussões", e os russos "que não querem fazer pressão suficiente" sobre Damasco.