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Trump está moralmente incapacitado de ser presidente, diz ex-diretor do FBI

O ex-diretor do FBI também comentou na entrevista como Trump "fala sobre as mulheres e as trata como se fossem pedaços de carne"

Agência France-Presse
postado em 16/04/2018 14:44
Em seu livro, Comey descreve Trump como um desonesto e egocêntrico, chefe da máfia e afirma que o presidente solicitou ao então diretor do FBI sua lealdade pessoal

James Comey, demitido ano passado, criticou, em uma entrevista, o presidente americano, que ele considera "moralmente incapacitado" para governar o país. Donald Trump não demorou a responder e acusou o ex-diretor do FBI de ter cometido vários delitos.

As declarações Comey representam o episódio mais recente de uma guerra de palavras que com Trump, que algumas horas antes - em uma série de mensagens no Twitter - criticou o ex-diretor do FBI e sugeriu que ele deveria estar preso.

A entrevista de Comey ao canal ABC foi exibida antes do lançamento, na terça-feira, de seu livro de memórias, "A Higher Loyalty: Truth, Lies and Leadership" (Uma lealdade maior: verdade, mentiras e liderança), no qual ele descreve os contatos com o presidente republicano.

"Não acredito que ele esteja medicamente incapacitado para ser presidente. Eu acredito que ele está moralmente incapacitado para ser presidente", disse Comey a respeito de Trump, em sua primeira entrevista desde que foi demitido em maio de 2017.

Trump demitiu Comey de forma abrupta, inconformado com a investigação de um possível conluio de sua campanha eleitoral em 2016 com Moscou para prejudicar a candidata democrata Hillary Clinton.

O ex-diretor do FBI também comentou na entrevista como Trump "fala sobre as mulheres e as trata como se fossem pedaços de carne. Ele disse ainda que o presidente "mente constantemente sobre assuntos grandes e pequenos".

Comey afirmou que servir o governo Trump cria um sério dilema ético. "O desafio com este presidente é que ele será uma mancha para todos a seu redor", declarou à ABC.

"E a pergunta é: quando uma mancha é muito grande e o quanto a mancha eventualmente deixa você incapaz de alcançar o objetivo de proteger e servir o seu país?", questionou.


Material comprometedor?

Em seu livro, Comey descreve Trump como um desonesto e egocêntrico, chefe da máfia e afirma que o presidente solicitou ao então diretor do FBI sua lealdade pessoal. "Nunca pedi lealdade pessoal a Comey. Nem sequer conhecia ele. É somente outra de suas muitas mentiras. Seus ;memorandos; são de autosserviço e FALSOS", escreveu o presidente no Twitter antes da exibição da entrevista.

O presidente também afirmou que Comey administrou "estupidamente" uma investigação sobre Hillary Clinton, concentrada no uso por parte da democrata de um servidor privado de e-mail quando ela era secretária de Estado.

Em outro tuíte, Trump comentou diretamente o lançamento do livro: "As grandes perguntas não são respondidas no livro de Comey, como por exemplo como entregou informação confidencial (prisão), por que mentiu ao Congresso (prisão)?", entre outras coisas.

Na entrevista, Comey disse que não tinha certeza se os russos teriam ou não material comprometedor que poderia ser usado para extorquir Trump, relacionado a atividades anteriores à eleição ou a suas ações durante a campanha. "Acredito que é possível. Não sei", respondeu.

Possível obstrução

Comey também disse que o presidente pode ter praticado obstrução de justiça quando pediu a ele que abandonasse uma investigação sobre seu ex-conselheiro de Segurança Nacional Michael Flynn. "Certamente há alguma evidência de obstrução de justiça", disse Comey. "Dependerá de outras coisas que aconteceram em consequência de sua tentativa".

Trump e seus aliados enfrentam as declarações de Comey na imprensa com ataques ao modo como o ex-diretor do FBI gerenciou a investigação sobre os e-mails de Clinton. Comey admitiu na entrevista que sua convicção de que Hillary Clinton venceria as eleições presidenciais de 2016 influenciou sua forma de administrar a investigação sobre a democrata.

O ex-diretor do FBI disse que a decisão de anunciar a reabertura da investigação sobre o uso por parte de Clinton de um servidor privado de correio eletrônico quando era secretária de Estado - apenas 11 dias antes da votação - tinha o objetivo de assegurar a legitimidade da eleição.

"Não recordo de ter afirmado, mas tinha que ser assim, porque ela seria eleita presidente e se eu escondesse isto do povo americano, ela seria ilegítima no momento em que fosse eleita, no momento que isto fosse revelado", disse Comey.

Hillary Clinton já afirmou que considera o anúncio de Comey sobre a reabertura da investigação provocou sua derrota. Trump escreveu no Twitter sobre o episódio: "Ele tomou decisões baseado no fato de que pensava que ela venceria e que ele queria um trabalho. Canalha" (slimeball, ou bola de gosma na tradução literal da palavra).

Em seu livro, Comey destaca que respeita a natureza confidencial da investigação do procurador especial Robert Mueller na busca de respostas sobre o eventual conluio da campanha eleitoral de Trump com os russos e a possível obstrução de justiça por parte do presidente.

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