Mundo

Urnas definem hoje presidente e parlamento do Paraguai

O governista Mario Abdo Benítez, do Partido Colorado, e o opositor Efraín Alegre, do Partido Liberal, disputam hoje o cargo de presidente. Parlamento passará por renovação total

Rodrigo Craveiro
postado em 22/04/2018 08:00 / atualizado em 19/10/2020 13:09

Mario Abdo Benítez, Partido Colorado Filho de ex-secretário pessoal do general Alfredo Stroessner, o candidato do governista Partido Colorado luta para provar suas credenciais democráticas e republicanas. Com 46 anos, graduado em marketing nos EUA, Marito tenta se desvencilhar do passado. %u201CEu lamento a parte negra da história, mas, como muitos paraguaios, acho que não deve ser uma desculpa para manter uma divisão entre compatriotas. Eu tinha 16 anos quando Stroessner caiu%u201D, afirma. Divorciado de Fátima María Díaz Benza, com quem teve dois filhos, Abdo se casou novamente com Silvana López Moreira Bo, filha de uma família de alta sociedade de Assunção. O pai de Marito %u2014 um dos primeiros prisioneiros da democracia instalada após a queda de Stroessner %u2014 foi processado por enriquecimento ilícito. Em 2013, Mario Abdo Beníte foi eleito senador e, depois, presidente do Congresso, em 2015.

Mais de 4,2 milhões dos 7 milhões de paraguaios vão às urnas hoje para escolher o presidente e o vice, além de 45 senadores, 80 deputados e 17 governadores, em uma lista de 15.597 candidatos. O governista Mario Abdo Benítez, favorito nas pesquisas e candidato do direitista Partido Colorado, e o advogado Efraín Alegre, do Partido Liberal, disputam a vaga no Palacio de los López para um mandato de cinco anos. As principais pesquisas apontam até 20 pontos percentuais de vantagem para Benítez. No entanto, uma sondagem da consultoria Ati Snead e Associados sugere empate técnico: 42,9% para o aliado do presidente Horacio Cartes e 44,6% para o opositor Alegre, avalizado por uma coalizão de centro-esquerda da qual faz parte o ex-bispo e ex-presidente Fernando Lugo (2008 e 2012).

Segundo a Ati Snead, a taxa de indecisos gira em torno de 11,3%, e um triunfo de Benítez dependeria de um comparecimento às urnas de pelo menos 70% dos eleitores. Como a votação ocorre em turno único, o sucessor de Cartes deverá ser conhecido poucas horas depois do fechamento das 1.099 seções eleitorais, às 16h (17h em Brasília). “Se Abdo Benítez vencer, será por um voto de castigo a Horácio Cartes, que teve um governo muito excludente”, comentou Sneard à agência France-Presse. Todo o processo será supervisionado por observadores da União Europeia e da Organização dos Estados Americanos. 

“Estas serão as sétimas eleições presidenciais realizadas no Paraguai desde 1989, quando se encerrou a ditadura e começou o processo de transição rumo à democracia. O Partido Colorado (PC) ganhou todas as votações do último meio século, à exceção da de 2008, vencida por Fernando Lugo”, explicou ao Correio Alfredo Boccia Paz, escritor, médico e colunista político do jornal Última Hora. “O candidato favorito é Mario Abdo Benítez, mas as pesquisas estão muito desprestigiadas no país. Há muita gente sustentando que a diferença entre os dois candidatos é bastante estreita.”

Primárias


Nas primárias do PC, a vitória sobre Santiago Peña e o atual presidente significou a ruptura de Benítez com o cartismo — evidente nos duros discursos contra o mandatário, que termina o governo com alto grau de repulsa popular, com poucas conquistas sociais e com denúncias de corrupção. “Benítez deixou essa postura de lado e se aproximou bastante de Cartes, chegando a aparecer ao lado dele em vários atos de campanha. A vantagem de Marito nas pesquisas diminuiu de modo considerável nas duas duas últimas semanas”, afirmou Paz, ao citar o apelido de Benítez.
 
Efraín Alegre, Partido Liberal Advogado e militante do Partido Liberal desde jovem, tem 55 anos, é católico praticante e declaradamente avesso ao aborto e ao casamento homossexual. Apoiado pela Aliança Ganhar, disputa a eleição pela segunda vez em cinco anos. Em 2013, foi derrotado pelo atual presidente, o empresário milionário Horacio Cartes. Filho de um latifundário e comerciante do departamento de Misiones (sudeste), é o oitavo de 12 irmãos. Tem quatro filhos e é casado com Mirian Irún há 26 anos. Entrou para  a política no início da redemocratização, após a ditadura de Stroessner. Formado em direito, trabalhou como parlamentar durante 15 anos. Propõe reduzir ao mínimo as tarifas de energia elétrica e pretende oferecer saúde gratuita para os necessitados, o que levou o adversário, Mario Abdo Benítez, a chamá-lo de populista. 
 
O potencial futuro presidente do Paraguai tem o passado como principal inimigo. Filho do ex-secretário particular do general Alfredo Stroessner (1954-1989), Benítez acabou vinculado à história da ditadura, ainda que involuntariamente. “Quando Stroessner caiu, ele era um garoto de 16 anos, que  foi estudar nos Estados Unidos e, ao regressar, tornou-se parlamentar e manteve uma conduta de tolerância e abertura. É uma pessoa com credenciais democráticas”, reconhece Alfredo Paz. O Partido Liberal usa a ligação com Stroessner na tentativa de macular a campanha de Benítez e romper com a hegemonia do Partido Colorado. O colunista político minimiza o impacto da  associação e sublinha que a queda do regime militar ocorreu  três décadas atrás.

Efraín Alegre prometeu saúde gratuita para os mais pobres e a redução das tarifas de energia elétrica, a fim de incentivar investimentos e promover o emprego, combatendo a alta taxa de informalidade. Tanto Alegre quanto Benítez se opõem ao casamento gay e ao aborto. “Eu sou pela vida, sou contra o aborto e a descriminalização, em todos os casos. Pessoalmente, acho que ninguém deve bancar Deus e decidir sobre a vida e a morte de uma pessoa”, disse Alegre à agência France-Presse.

Para o sociólogo José Carlos Rodríguez, professor da Universidad Nacional de Asunción, o domínio dos colorados se explica pelo fato de a política paraguaia não ter enfrentado uma transformação. “Isso se deve ao clientelismo. O Partido Colorado se mostra como maior provedor. A sociedade dos pobres busca apoio nos ricos. No Paraguai, não existe uma classe média. Por aqui, se compra até 40% dos votos”, lamentou ao Correio. Além da pobreza, que atinge 26,4% da população, o próximo presidente terá de lidar com graves problemas, como a delinquência, a corrupção no Poder Judiciário e a marginalização das mulheres e dos agricultores. “Por aqui, não se paga o salário mínimo, a educação e a saúde estão muito mal. A pobreza tem causado angústia no eleitorado.” 

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação