Agência France-Presse
postado em 22/04/2018 18:40
Os paraguaios votaram, neste domingo, para eleger seu próximo presidente, entre o candidato de direita Mario Abdo Benítez, proveniente de uma família vinculada à ditadura de Alfredo Stroessner e favorito nas pesquisas, e o liberal Efraín Alegre, apoiado por uma coalizão de centro-esquerda.
O Tribunal Eleitoral calcula que a participação alcançou cerca de 65% dos 4,2 milhões de eleitores, em um ambiente de pouco entusiasmo e mobilizações. Não há relatos de incidentes.
"A partir de agora aguardamos os resultados que vierem chegando dos centros", disse à imprensa Luis Salas, diretor do Tribunal, ao anunciar o fechamento das mesas de votação.
Hegemonia colorada
Abdo Benítez, de 46 anos, é o favorito nas pesquisas, com até 20 pontos de vantagem sobre Alegre.
O Paraguai, que saiu de uma ditadura de 35 anos em 1989, viveu sob a hegemonia do partido Colorado durante os últimos 70 anos, com a única exceção do governo do ex-bispo e ex-presidente de esquerda Fernando Lugo (2008-2012), que foi destituído em um julgamento político um ano antes de concluir seu mandato.
"Ganhei credenciais democráticas em minha trajetória política", declarou Abdo Benítez ao rejeitar, neste domingo, as críticas que recebe devido à proximidade de sua família com Stroessner.
Embora se distancie da ditadura lembrando que à época da derrocada de Stroessner tinha apenas 16 anos, em 2006 ele foi ao funeral do ex-ditador, que se exilou em Brasília.
Aos 46 anos, "Marito", como é conhecido popularmente, estudou administração nos Estados Unidos.
Seu programa propõe manter a política econômica do presidente Horacio Cartes, baseada nas exportações agrícolas, que permitiu ao Paraguai crescer a um ritmo de 4% por ano por mais de uma década.
Também pretende realizar uma reforma do Poder Judiciário, que considera corrupto.
O Paraguai está em 135; lugar entre 180 países em um ranking de corrupção elaborado pela organização Transparência Internacional.
Pobreza e desemprego
Alegre, um advogado de 55 anos que começou sua atividade política em oposição à ditadura, tenta pela segunda vez chegar à presidência.
Nas últimas eleições, em 2013, nas quais teve o apoio somente de seu partido Liberal, perdeu para o atual mandatário.
Mas desta vez conseguiu reeditar a coalizão com a Frente Guasú (Frente Ampla) e outros grupos de esquerda que em 2008 tinham dado a vitória a Lugo.
Alegre promete atacar a pobreza com um impulso à economia familiar camponesa, frente aos imensos desenvolvimentos agrícolas para a exportação, e com reduções da tarifa de energia elétrica para impulsionar os investimentos na indústria e gerar empregos.
Paraguai, um país rico em hidroeletricidade mas sem saída para o mar, não consegue reduzir seu índice de pobreza na mesma velocidade em que sua economia cresce.
A pobreza afeta 26,4% da população e a informalidade atinge 40% da economia, segundo os especialistas.
"O número de pobres está ligado ao fato de que não há emprego. Só 3% das empresas no Paraguai são grandes empresas. A informalidade faz com que o índice de pobreza seja alto", disse à AFP Gladys Benegas, diretora do Instituto de Pesquisas em Competitividade do Paraguai.