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Atentados em Cabul matam 25 pessoas, incluindo seis jornalistas

Entre os mortos está um fotojornalista da agência de notícias France-Presse, Shah Marai, diretor do departamento de fotografia do escritório da AFP em Cabul

Agência France-Presse
postado em 30/04/2018 07:21
Marai trabalhava desde 1996 para a AFP e cobriu amplamente a situação no país sob o regime talibã

Cabul, Afeganistão -
Ao menos 25 pessoas, incluindo um fotógrafo da AFP e outros cinco jornalistas, morreram em dois atentados suicidas, nesta segunda-feira (30/4), em Cabul, o segundo deles dirigido especificamente contra a imprensa.

O grupo extremista Estado Islâmico (EI) reivindicou os ataques. Em um comunicado divulgado por sua agência de propaganda Amaq, o grupo afirma que o primeiro atentado atingiu a sede do serviço de inteligência em Cabul e das forças de segurança afegãs, e o segundo os jornalistas que seguiram para o local.

"Os apóstatas das forças de segurança, dos meios de comunicação e outras pessoas compareceram ao local da operação, onde um irmão os surpreendeu com seu colete de explosivos", completou o braço do EI no Afeganistão.

O comunicado identifica o primeiro homem-bomba como "Kaaka al-Kurdi", o que sugere que era de origem curda, e o segundo como Khalil al Qurashi. O ministério do Interior divulgou um balanço de 25 mortos e 49 feridos.

"Seis jornalistas e quatro policiais estão entre os mortos nas duas explosões", afirmou à AFP o porta-voz do ministério, Najib Danish. Shah Marai, diretor do departamento de fotografia do escritório da AFP em Cabul, que seguiu para o local da primeira explosão, morreu na segunda detonação, que aconteceu 30 minutos após o ataque inicial.

Marai trabalhava desde 1996 para a AFP e cobriu amplamente a situação no país sob o regime talibã e a invasão americana do Afeganistão em 2001, posterior aos atentados da Al-Qaeda em Nova York e Washington.

"Minhas melhores recordações são as de quando eu supero a concorrência com as melhores fotografias do presidente ou de outra pessoa, ou da cena de um ataque. Gosto de ser o primeiro", declarou Shah Marai sobre seu trabalho.

Outros cinco jornalistas também morreram na segunda explosão. Todos trabalhavam para canais de televisão afegãos, um deles para a emissora Tolo News, que em 2016 foi alvo de um atentado que deixou sete mortos e foi reivindicado pelos talibãs.

De acordo com uma fonte das forças de segurança, o homem-bomba que atacou a imprensa estava disfarçado como um fotógrafo.

Talibãs e Estado Islâmico

"Estamos devastados pela morte de nosso fotógrafo Shah Marai, que era testemunha há mais de 15 anos da tragédia que afeta o país. A direção da AFP saúda o valor, o profissionalismo e a generosidade deste jornalista que cobriu dezenas de atentados antes de ser ele mesmo vítima da barbárie", declarou a diretora Informação da agência, Mich;le Léridon.

Várias mensagens de condolências foram enviadas ao escritório da AFP em Cabul. Um jornalista da agência no país, Sardar Ahmad, morreu em março de 2014 ao lado de sua família - com exceção do filho de três anos - em um atentado talibã.

Sardar era amigo de Shah Marai, que deixa seis filhos, o mais novo de apenas algumas semanas.

Marai e outros jornalistas seguiram para o local do primeiro atentado, cometido pouco antes das 8H00 locais em uma área próxima à sede do Serviço de Inteligência Afegão (NDS) em Cabul.

"Um homem-bomba que circulava em uma motocicleta detonou seus explosivos na área de Shash Darak", afirmou o chefe de polícia de Cabul, Hashmat Stanikzai. A sede do NDS foi alvo de um atentado em março, que deixou três mortos e cinco feridos.

Cabul se tornou, de acordo com a ONU, o local mais perigoso do Afeganistão para os civis com um aumento dos atentados, geralmente cometidos por homens-bomba e reivindicados pelos talibãs ou o grupo extremista EI.

Os atentados contra civis provocaram o dobro de vítimas nos primeiros três meses de 2018 - 763 civis mortos, 1.495 feridos - que no mesmo período de 2017. Um ataque no dia 22 de abril na capital afegã deixou quase 60 mortos e 20 feridos em um bairro de maioria xiita. No dia 27 de janeiro, um atentado na cidade provocou 103 mortes e deixou mais de 150 feridos.

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