postado em 06/05/2018 06:48
Cinco milhões de tunisianos estão habilitados para eleger hoje os conselhos municipais, na primeira votação livre na esfera local, há muito esperada para fortalecer a democracia no país que foi berço da chamada Primavera Árabe ; a onda de manifestações e protestos que varreu ditaduras do Oriente Médio e do Norte da África em 2011. ;Nunca houve eleições municipais livres e competitivas;, recorda Michael Ayari, pesquisador do International Crisis Group (ICG). As anteriores foram realizadas sob regime de partido único.
No início do ano, a Tunísia voltou a ser tomada por protestos, impulsionados pela entrada em vigor de um orçamento de austeridade. A previsão dos observadores para hoje é de elevada abstenção: sete anos após a Primavera Árabe, muitos tunisianos se dizem desmotivados diante da inflação, do desemprego persistente e de acordos partidários que dificultam o debate democrático. Em outro sinal de desinteresse, a votação antecipada de policiais e militares, no fim de abril, teve participação de apenas 12%.
As duas principais forças políticas do país ; a legenda islamista Ennahda e o Nidaa Tounes, partido fundado pelo presidente Beji Caid Essebsi ; são as únicas que apresentaram listas de candidatos em todas as cidades, em condições de conquistar boa parte dos municípios. Adiada quatro vezes, a eleição de hoje envolve 350 municípios e 57 mil candidatos. Os locais de votação estarão abertos das 8h às 18h (das 4h às 14h, em Brasília). Cerca de 30 mil agentes das forças de segurança foram mobilizados, e o país permanece em estado de emergência desde os ataques extremistas de 2015.
A votação marca o primeiro passo tangível da descentralização prevista na Constituição, que era uma das reivindicações da revolução lançada nas regiões marginalizadas por um poder hipercentralizado. Na era do partido único, os municípios administravam apenas parte de seu território e tinham pouco poder de decisão, sujeitos à boa vontade de uma administração central que muitas vezes era clientelista.
Desde a queda do ditador Zine Abidine Ben Ali, em 2011, as cidades são administradas por delegações especiais nomeadas pelo governo, e muitas vezes não conseguem atender as demandas dos moradores. Mas a Tunísia tem agora um Código do Governo Local, votado no fim de abril, que, pela primeira vez, confere independência e liberdade administrativa às entidades.
Os observadores não excluem uma surpresa na eleição, com a participação de muitas listas independentes, o que poderia perturbar os complexos equilíbrios de poder em nível nacional. As municipais serão seguidas pelas eleições legislativas e presidenciais, em 2019.