Agência France-Presse
postado em 10/05/2018 12:50
Aquisgrano, Alemanha - "Não esperemos mais! Vamos agir agora", lançou o presidente francês, Emmanuel Macron, na localidade alemã de Aachen, nesta quinta-feira (10/5), pressionando a chanceler alemã, Angela Merkel, para que aceite ambiciosas reformas na Europa e deixe de lado o "fetichismo" de seu país com seus excedentes orçamentários.
Macron e Merkel estão envolvidos há semanas em complicadas negociações para tentar chegar a um acordo sobre uma série de projetos de reforma da Europa pós-Brexit, de olho na cúpula europeia de final de junho.
As conversas estão travadas, sobretudo, em relação à proposta francesa de dotar a Eurozona de um orçamento de investimentos para estimular o crescimento.
O presidente francês aproveitou a cerimônia de entrega do prêmio Carlos Magno, concedido por seu compromisso pró-europeu, para deixar clara sua crescente impaciência.
Fetichismo
"Não sejamos fracos e escolhamos", afirmou, em seu discurso.
"Acredito em um orçamento europeu muito mais ambicioso (...) Acredito em uma zona euro mais integrada, com um orçamento próprio", insistiu o jovem político que chegou há um ano à Presidência da França.
O governo alemão tem fortes reservas a esse respeito, porque teme ter de pagar pelos países do sul da Europa, que, em sua opinião, gastam demais.
Com palavras de uma dureza incomum, Macron atacou a timidez da Alemanha diante dos gastos e do investimento.
"Na Alemanha, não pode haver um fetichismo perpétuo com os excedentes orçamentários e comerciais, porque se fazem às custas dos demais", afirmou, na presença de Merkel.
O novo governo da chanceler alemã acaba de confirmar a muito ortodoxa meta financeira do país: não haverá déficit orçamentário nos próximos anos.
Merkel reconheceu que o futuro da Eurozona é motivo de polêmica com a França.
"Sim, mantemos conversas difíceis", admitiu durante a premiação.
"Temos culturas políticas e formas de abordar os temas europeus diferentes", disse ela, com muita diplomacia, assegurando ser a favor de uma Eurozona "mais resistente às crises".
- ;Potência geopolítica; -
Macron e Merkel convergem, porém, em outras reformas para a Europa, como em matéria de defesa, ou de política externa, diante das mudanças provocadas pelo crescente isolamento dos Estados Unidos.
"A época em que podíamos contar com os Estados Unidos para nos proteger passou", disse Merkel.
"A Europa tem que tomar seu destino com suas mãos. É nosso desafio para o futuro", acrescentou.
Macron defendeu "transformar a Europa em uma potência geopolítica" e "diplomática" e criticou implicitamente a vontade dos Estados Unidos de ditar aos europeus o que têm de fazer, como no caso do acordo nuclear com o Irã.
"Se aceitarmos que outras grandes potências, incluindo as aliadas, as amigas nas horas mais duras da nossa história, se ponham em situação de decidir por nós nossa diplomacia, nossa segurança, às vezes, fazendo-nos correr grandes riscos, então já não somos soberanos", disse Macron.