Agência France-Presse
postado em 14/05/2018 19:24
Roma, Itália - Os bispos chilenos Fernando Ramos e Ignacio González reconheceram, nesta segunda-feira (14/5), em Roma, que a hierarquia da Igreja chilena convocada pelo Papa Francisco ao Vaticano por encobrir os escândalos de pedofilia chegou carregada de "dor e vergonha" e disposta a "reparar" as vítimas de abusos.
"Em primeiro lugar queremos comunicar nossa dor e vergonha. Dor porque existem vítimas de abusos e vergonha porque esses abusos aconteceram em ambientes eclesiais", assegurou Ramos em uma entrevista coletiva realizada na sede da Rádio Vaticano, na véspera do encontro com o papa.
Os 34 bispos, 31 deles em função e três eméritos, manterão reuniões entre terça e quinta-feira com o papa Francisco e com o cardeal canadense Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos.
As reuniões foram programadas em uma sala anexa à de Aula Paulo VI, dentro do Vaticano.
"Viemos com a intenção de ouvir o papa, de falar com ele", disseram.
Para González, bispo de San Bernardo, "o ponto central são as vítimas, sempre se pode reparar e caminhar na reparação das vítimas", explicou.
"Se fizermos bem as coisas, com humildade, esperança, efetivamente achamos que podemos reparar a tempo todas as feridas da sociedade chilena e das vítimas, que são fundamentais para a Igreja neste momento", continuou.
"Se o problema persiste, se a dor, a indignação e o incômodo de algumas vítimas (persistem), quer dizer evidentemente que não fizemos bem o nosso trabalho, que ele tem que ser melhorado", reconheceu Ramos.
A Igreja chilena está disposta a fazer um grande mea culpa, anunciou Ramos, e a aceitar seus próprios erros, seguindo o exemplo do papa Francisco, que em abril reconheceu publicamente ter "incorrido em graves equivocações de avaliação e percepção da situação, especialmente pela falta de informação verdadeira e equilibrada". Ele se referia às denúncias de encobrimento de abuso sexual contra o bispo de Osorno, Juan Barros, que também estará presente nas reuniões.
O bispo González, que há alguns anos trabalha com as vítimas de abusos, em particular menores de idade, explicou que "estão analisando a imprescritibilidade desses crimes. Existe uma disposição do papa Bento XVI, do papa Francisco e nossa para que isso acabe definitivamente", disse.