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Trump admite que cúpula com líder norte-coreano pode ser adiada

Trump e Kim têm agendado um encontro em Singapura em 12 de junho para discutir a eliminação de armas nucleares por parte de Pyongyang e da península coreana

Agência France-Presse
postado em 22/05/2018 16:49
Trump e Kim têm agendado um encontro em Singapura em 12 de junho para discutir a eliminação de armas nucleares por parte de Pyongyang e da península coreana
Washington, Estados Unidos - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, admitiu nesta terça-feira (22/5) que existe uma possibilidade real de que a aguardada cúpula com o líder norte-coreano, Kim Jong Un, não ocorra em 12 de junho, conforme previsto, porém "mais tarde".

"Francamente, seria uma possibilidade de fazer grandes coisas para a Coreia do Norte e para o mundo. Se não ocorrer, talvez possa acontecer mais tarde. Talvez ocorra em outro momento", disse Trump no Salão Oval da Casa Branca, ao receber o presidente sul-coreano, Moon Jae-in.

Trump e Kim têm agendado um encontro em Singapura em 12 de junho para discutir a eliminação de armas nucleares por parte de Pyongyang e da península coreana, mas nas últimas semanas esta reunião ficou envolta em incertezas.

Para além da data em que o encontro será celebrado, Trump insistiu em que Kim é sério quando fala da desnuclearização norte-coreana. "Acho que ele é sério. Acho que gostaria de que isto ocorra", comentou.

Washington e Pyongyang iniciaram no fim de abril um processo de aproximação que teria como ponto alto o encontro de 12 de junho, mas à medida que as negociações se aprofundaram, aumentaram também as divergências sobre as expectativas.

Segundo Trump, Kim parece ter mudado de postura com relação a essa aproximação depois de uma visita surpresa à China, onde encontrou o presidente Xi Jinping. "Devo dizer que fiquei um pouco decepcionado porque depois que Kim Jong Un teve um encontro com o presidente Xi (...) Houve certa mudança de atitude", disse o presidente americano.


Kim "estará seguro"

No entanto, Trump reiterou que, caso seja possível alcançar um acordo com a Coreia do Norte por seu programa nuclear, Washington garantirá a continuidade do governo de Kim. "Vamos garantir sua segurança. E temos falado sobre isso desde o começo. Ele (Kim) estará seguro. Estará feliz. Seu país será rico, muito próspero", destacou.

Moon disse, por sua vez, sentir-se confiante de que Trump será capaz de "alcançar uma mudança dramática", que inclua por fim à guerra da Coreia, que dura 65 anos, a completa desnuclearização da Coreia do Norte e normalizar as relações.

O súbito resfriamento no processo de aproximação acabou por afetar também as relações entre Pyongyang e Seul, que tinham se beneficiado claramente de um clima de momentânea distensão.

Kim e Moon inclusive mantiveram em abril uma reunião histórica na zona desmilitarizada que divide o país, embora com o novo cenário um novo encontro entre os dois líderes coreanos pareça ter ficado em suspenso. Moon chegou à Casa Branca nesta terça em uma tentativa desesperada de manter em andamento o encontro entre Trump e Kim e salvar o processo de aproximação iniciado no fim de março.

Esta aproximação incluiu passos que meses atrás teriam sido impensáveis, como a viagem sigilosa do então diretor da CIA, Mike Pompeo, a Pyongyang. Uma viagem que ele repetiu em maio já como secretário de Estado para reuniões pessoais com Kim.

Como gesto de boa vontade, o governo norte-coreano pôs em liberdade três cidadãos americanos que estavam detidos em Pyongyang.


Ruídos na comunicação

Sutilmente, no entanto, os dois países pareciam falar de coisas sutilmente diferentes. Washington antecipou que o objetivo é convencer a Coreia do Norte a renunciar imediatamente a seu arsenal nuclear. Pyongyang, por sua vez, insistiu em que a questão de fundo é a desnuclearização da península coreana, em alusão também à presença de 30.000 soldados americanos na Coreia do Sul.

No entanto, de repente todo esse delicado processo de aproximação pareceu prestes a desandar, fazendo acender as luzes de alerta no governo sul-coreano para a gravidade de um fracasso. Inicialmente, a Coreia do Norte reclamou porque a Coreia do Sul e os Estados Unidos decidiram continuar realizando gigantescos exercícios militares conjuntos.

A partir desses exercícios, Pyongyang cancelou na semana passada uma importante reunião de alto nível prevista com representantes de Seul, um gesto que caiu literalmente como um balde d;água fria no entusiasmo dominante.

No passo seguinte, Washington decidiu elevar o tom a ponto de Trump sugerir à imprensa que a reunião tanto poderia ocorrer como poderia ser cancelada, sem mostrar preocupação para um eventual fracasso do processo.

O ruído na comunicação tornou-se ensurdecedor quando o assessor de segurança da Casa Branca, o agressivo John Bolton, sugeriu uma solução que seguisse o "modelo líbio" para forçar uma desnuclearização da Coreia do Norte.

Imediatamente, Pyongyang ameaçou cancelar a reunião se Washington insistisse em considerar um "modelo líbio", isto é, um cenário que incluísse a destruição total do país. Na Casa Branca, Trump afirmou que o chamado "modelo líbio" "não está nos planos", embora tenha apontado que a ideia de Bolton se referia a um cenário no qual Washington e Pyongyang não cheguem a um acordo.

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