Agência France-Presse
postado em 22/05/2018 19:44
Caracas, Venezuela - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou nesta terça-feira (22) a expulsão do maior representante dos Estados Unidos em Caracas, após repudiar as sanções econômicas de Washington em represália por sua reeleição.
"Declaro persona non grata e anuncio a saída dentro de 48 horas do encarregado de negócios dos Estados Unidos (Todd Robinson)", disse Maduro, ao receber as credenciais como o vencedor da eleição de domingo, boicotadas e desconhecidas pela oposição.
O presidente respondeu assim a um decreto assinado na segunda-feira por seu homólogo americano, Donald Trump, que complica ainda mais o financiamento do país petroleiro, afundado em uma de suas piores crises econômicas.
"Repudio todas as sanções pretendidas contra a República Bolivariana da Venezuela porque causam dano, geram sofrimento ao povo (...) Rechaço e repudio a conspiração permanente", acrescentou. Maduro também ordenou a expulsão do chefe da seção política, Brian Naranjo, número dois da embaixada e a quem identificou como o representante em Caracas da Agência Central de Inteligência (CIA).
Os Estados Unidos ameaçaram "tomar as medidas recíprocas pertinentes", segundo declarações feitas à AFP por um funcionário do Departamento de Estado. Robinson, por sua vez, negou as acusações de Maduro de uma "conspiração militar".
"Repudiamos energicamente as acusações feitas contra mim e contra o meu ministro conselheiro (Brian Naranjo)", disse a jornalistas o representante diplomático dos Estados Unidos expulso na cidade de Mérida, à qual prometeu voltar.
"Essa é a minha primeira visita, mas não será a última visita a Mérida, ou à Venezuela", acrescentou. "O país precisa de uma mudança".
Contudo, Robinson não quis fazer mais comentários sobre a medida. "Como vocês entendem, esse é um momento bastante delicado e não vou responder as perguntas agora". O governante socialista, de 55 anos, disse ter "provas" da "conspiração" dos Estados Unidos e de sua embaixada nos campos militar, econômico e político. Ambos os países carecem de embaixadores desde 2010.
;Ganhei uma boa disputa;
Maduro foi proclamado oficialmente reeleito para governar até 2025, com um país em ruína e cada vez mais isolado, após a rejeição de vários governos que apoiaram o boicote da opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD).
Com uma abstenção eleitoral recorde de 54%, Maduro foi reeleito com 68% dos votos contra 21% do ex-chavista Henri Falcón, que participou se afastando da linha da MUD e acusou o governo de "compra de votos" e "chantagem" com os programas sociais.
"Ganhei uma boa disputa. Ninguém me deu essa vitória (...) que conquistei com a bravura e coragem com que enfrento o império", expressou na cerimônia ante a cúpula militar, o gabinete e membros da governista Assembleia Constituinte.
Os Estados Unidos descreveram as eleições como uma "farsa" e anunciaram imediatamente sanções, enquanto a União Europeia denunciou "irregularidades" na eleição e analisa medidas.
"Ao governo de Donald Trump, ao governo da Ku Klux Klan, eu digo: nem com sanções nem com ameaças nem conspirações vocês impediram as eleições", disse Maduro, acusando Falcón de ceder à pressão de Washington.
O Grupo Lima, composto por Canadá e 13 países latino-americanos, chamou para consultas seus embaixadores em Caracas e concordou em baixar o nível das relações e bloquear fundos internacionais à Venezuela. "O que está vindo é um maior isolamento diplomático e comercial, e mais dificuldades de conceder crédito e financiamento", previu o analista AFP Diego Moya-Ocampos do IHS Markit, com sede em Londres.
Revolução econômica
Os analistas preveem um agravamento do colapso socioeconômico do país com as maiores reservas de petróleo do mundo, refletidas na escassez de alimentos e remédios, na hiperinflação, na brutal queda da economia e na produção de petróleo e no êxodo de centenas de milhares de pessoas.
"Me comprometo a fazer uma revolução econômica", disse o presidente, prometendo prosperidade durante seu segundo mandato, que terá início em janeiro de 2019. Mas os Estados Unidos, que compram um terço da produção de petróleo venezuelana e ameaçam com um embargo de petróleo, buscam complicar a chegada de recursos em tempos de grave falta de liquidez.
Trump já havia proibido os americanos de negociar novas dívidas do país sul-americano, em default parcial, e na segunda-feira ampliou a medida para ativos e contas a pagar do país e da estatal Pdvsa.
"A Venezuela está começando a sofrer um boicote econômico dos Estados Unidos e de seus aliados. Será fatal para a permanência do regime", disse à AFP o internacionalista Carlos Romero. Os Estados Unidos, o Canadá e a UE sancionaram dezenas de hierarcas venezuelanos. Na lista de Washington figuram, inclusive, Maduro e o número dois do chavismo, Diosdado Cabello.
Maduro pediu um "diálogo", mas a oposição, profundamente dividida, assegurou que não cairá em "estratégias dilatórias" e pede "eleições verdadeiras". O Parlamento de maioria opositora, na prática anulado pelo governo através do poder judiciário e da Constituinte, chamou nesta terça-feira Maduro de "usurpador".
"Que fique claro, é um ditador. Não podemos continuar divididos", assegurou a deputada Mariela Magallanes. Para os especialistas, o desafio da oposição é se reunificar em torno de "uma estratégia" que quebre o chavismo, no poder desde 1999.