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Sem condições, sistema de saúde de Gaza atende a feridos de guerra

No último dia 14 foi registrado o maior número de mortes em Gaza desde a operação militar israelense de 2014: 2 mil palestinos morreram em 50 dias

postado em 23/05/2018 08:16
pessoas jogando fogos em gazaO Exército de Israel informou que os protestos na Faixa de Gaza deixaram 114 palestinos mortos e que os "ataques terroristas" foram respondidos em legítima defesa. A Anistia Internacional considera que o grande número de feridos, principalmente nas extremidades inferiores, é semelhante ao que ocorre em períodos de guerra e não em protestos, pois há indícios de uso de rifles de atiradores de elite, que trabalham com munição de caça, que se expande e se espalha dentro do corpo.

No último dia 14 foi registrado o maior número de mortes em Gaza desde a operação militar israelense de 2014: 2 mil palestinos morreram em 50 dias, um episódio de crise que fez os médicos aprenderem e planejarem formas de enfrentar emergências com certa capacidade. Os dados são confirmados pela Organização das Nações Unidas (ONU).

O sistema de saúde público de Gaza, região isolada há 11 anos pelo bloqueio, sofre com a limitação de equipamentos, materiais e remédios por ser dependente do Ministério da Saúde da Autoridade Nacional Palestina (ANP), na Cisjordânia, e devido às restrições israelenses.

A energia elétrica, que só está habilitada por quatro ou seis horas por dia, e as deficiências de saneamento tornam a situação ainda mais delicada.

Drama

Muletas e pinos ensanguentados nas pernas, como os usados pelo jovem Wadie Ras, identificam os feridos nos protestos em hospitais de Gaza, onde centenas de pessoas se submetem a complexos tratamentos, a sequelas físicas de longa - ou perpétua - duração, em um sistema de saúde frágil.

Diante da gravidade do ferimento produzido "por bala explosiva" do Exército israelense, Ras foi o primeiro a ser operado no Hospital Al-Shifa, no dia 14 de maio, quando mais de 60 palestinos morreram e 1.300 ficaram feridos na Grande Marcha do Retorno, agravada pela mudança da embaixada dos Estados Unidos para Jerusalém.

"Muitos vão precisar de reabilitação ortopédica e depois de tratamentos reconstrutivos e físicos. Além de todo o impacto que representa para a pessoa que vai ter limitações de locomoção, existe o impacto econômico que isso terá na sociedade", advertiu Gabriel Salazar, coordenador de saúde do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).

Amputação

O palestino Ali Mohammed Abu Hashem deu entrada em 13 de abril e precisou da amputação imediata da perna direita por ferimento de bala. Ele é uma das 26 pessoas que, até o momento, perderam alguma extremidade entre os mais de 3 mil feridos nos protestos, conforme dados do Ministério da Saúde da Faixa de Gaza.

"Depois de 27 dias de tratamento, a inflamação está controlada e o ferimento finalmente fechou. Espero que a situação melhore", disse Shifa, que divide um quarto no hospital com mais cinco feridos nos protestos.

A alta precoce - o que significa enviar a pessoa para casa, em muitos casos, com recursos limitados e alto nível de pobreza -, aumenta o risco de infecção do paciente, que precisa, em média, de duas ou três cirurgias e, em casos mais complicados, de amputações.

Marcha

Os protestos conhecidos como a Grande Marcha do Retorno, promovidos por setores sociais e políticos para reivindicar o direito dos refugiados de voltarem para as suas cidades de origem, levaram um grande número de jovens apolíticos a manifestar frustração com a falta de oportunidades.

Agora, esses mesmos jovens enfrentam meses ou semanas de tratamento, diante de um futuro incerto, que pode levar a uma falta de mobilidade temporária ou até permanente.

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