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Bispo chileno renuncia a comissão contra abusos sexuais por investigação

Submetida a uma profunda crise pelo acobertamento e por denúncias de abusos sexuais, a Igreja chilena recebeu a renúncia de Goic do conselho, criado em 2011

Agência France-Presse
postado em 26/05/2018 21:18
A Igreja católica chilena sofreu um novo golpe neste sábado (26) com a renúncia de Alejandro Goic, bispo da cidade de Rancagua, à presidência do Conselho Nacional de Prevenção de Abusos Sexuais da Conferência Episcopal, que investigava denúncias contra sacerdotes.

A Conferência Episcopal do Chile, "após deliberar sobre as razões citadas e dialogar com ele (Goic), decidiu aceitá-la na data de 26 de maio do presente ano", indicou um comunicado do Comitê Permanente do episcopado divulgado neste sábado.

Submetida a uma profunda crise pelo acobertamento e por denúncias de abusos sexuais, a Igreja chilena recebeu a renúncia de Goic do conselho, criado em 2011, após o escândalo provocado pelo influente sacerdote chileno Fernando Karadima, acusado de pedofilia e suspenso em definitivo pelo Vaticano.

[SAIBAMAIS]Sete anos depois, Goic recebeu este novo escândalo em que 13 sacerdotes e um diácono de Rancagua (90 km ao sul de Santiago) foram acusados de delitos sexuais e onerosos gastos pessoais com dinheiro da Igreja, após denúncias de uma paroquiana, Elisa Fernández, em uma reportagem do Canal 13 veiculada há uma semana.

"Compreendemos que as atuais necessidades e dificuldades que ocorreram na diocese em que pastoreia tornaram necessária essa determinação", afirma a nota episcopal.

Goic, que presidiu o conselho desde sua criação, explicou que sua renúncia se deve à sua necessidade de "concentrar seus esforços para esclarecer" as denúncias contra os 14 religiosos, segundo entrevista publicada neste sábado pelo jornal La Tercera.

Os 14 religiosos, que estão suspensos de suas funções desde segunda-feira, foram denunciados por supostos delitos sexuais consumados em uma rede denominada "La família" durante pelo menos uma década, segundo as declarações de Fernández, ex-coordenadora da pastoral juvenil de Rancagua.

"A comunidade olha para todos nós, os cristãos, com desconfiança, e nós estamos indignados, queremos mudar isso", manifestou-se, por sua vez, Gustavo Madrid, porta-voz da rede Laicos do Chile, que teme, ainda, que os casos de abusos possam se multiplicar.

O Conselho de Prevenção de Abusos é formado por quatro religiosos e quatro profissionais. Agora, será presidido por Ignacio González, bispo de San Bernardo, comuna ao sul de Santiago.

- Investigação -

O bispo de 78 anos anunciou que foi iniciada uma investigação dos 13 padres "pelo uso de dinheiro paroquial em despesas pessoais ou por conduta imprópria em relação ao celibato, que não corresponde à sua missão sacerdotal".

"Peço-lhes que rezem por mim, para que eu não desanime na busca da verdade, por mais dolorosa que seja", acrescentou.

Goic explicou que, dos 13, o padre Luis Rubio, da cidade de Paredones (242 km ao sul de Santiago), é o único que foi denunciado por abuso sexual de menores, em 2013. Depois disso, ele foi suspenso e os antecedentes do caso foram levados ao Vaticano e à Justiça civil.

Uma vez concluída a investigação, Goic determinará a gravidade dos crimes cometidos. Então, tomará a decisão, se for necessário, de iniciar um processo canônico contra os supostos criminosos.

Ele também não descartou a possibilidade de ir à Congregação para a Doutrina da Fé, um órgão colegiado do Vaticano que investiga esse tipo de crime.

O Ministério Público de Rancagua, diante do qual Goic depôs nesta quarta-feira, também abriu uma investigação "por possíveis crimes sexuais contra menores" com base nas denúncias de Elisa Fernández.

A igreja chilena passa por uma profunda crise após as denúncias de acobertamento de abusos sexuais de Karadima, que levaram o papa Francisco a convocar todos os bispos do Chile ao Vaticano. Eles ofereceram sua renúncia há duas semanas.

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