Mundo

Quais os cenários na Itália após fracasso do governo populista?

O primeiro passo será a criação de um governo técnico dirigido por Carlo Cottarelli

Agência France-Presse
postado em 28/05/2018 10:23
O primeiro passo será a criação de um governo técnico dirigido por Carlo Cottarelli
Roma, Itália - O fracasso dos eurocéticos de formar um governo na Itália, depois de o presidente vetar a nomeação de um ministro da Economia antieuro, empurra o país para uma crise política, cujo único resultado parecem ser eleições antecipadas.

Um governo Cottarelli

O primeiro passo será a criação de um governo técnico dirigido por Carlo Cottarelli.

Este ex-dirigente do Fundo Monetário Internacional (FMI), encarnação da austeridade orçamentária, foi convocado para uma reunião nesta segunda-feira pela manhã com o presidente Sergio Mattarella, que designou Cottarello como chefe de Governo.

Considerando-se que não deve negociar com os partidos políticos, Cottarelli tem de formar rapidamente seu governo, prestar juramento e, depois, pedir a confiança do Parlamento.

Rejeição do Parlamento

É muito improvável que Cottarelli obtenha a confiança do Parlamento, dominado por membros do Movimento 5 Estrelas (M5S, antissistema) e pela Liga (extrema direita), que são contra tudo o que ele representa.

Portanto, o governo se encarregará apenas da gestão dos assuntos correntes, enquanto se espera por novas eleições, cuja data será fixada pelo presidente da República, de acordo com os principais responsáveis políticos e os presidentes das duas Câmaras do Parlamento.

"Vou apresentar-me ao Parlamento com um programa que, se receber o voto de confiança, prevê apenas a aprovação da lei de orçamentos, depois do que será dissolvido para a celebração de eleições no mais tardar no início de 2019", afirmou.

Cottarelli acrescentou que se não conquistar o voto de confiança do Parlamento convocará novas eleições para depois de agosto.

Equilíbrio de poder

Nas legislativas de 4 de março, a coalizão de direita/extrema direita conseguiu 37% dos votos - com a Liga de Matteo Salvini (17%) à frente da Forza Italia de Silvio Berlusconi (14%) -, e o M5S, mais de um 32%. Já o Partido Democrata (PD, centro esquerda) ficou com 19%.

Agora, as pesquisas colocam a Liga em torno de 22% nas intenções de voto, enquanto as outras siglas mantêm seu nível de março.

Ainda não é certo que a coalizão de direita vá sobreviver à crise atual. Berlusconi deu sinal verde para as negociações M5S/Liga, mas o programa comum não lhe agradou. Defensor de uma ancoragem europeia da Itália, ele ficou ao lado de Mattarella no domingo.

[SAIBAMAIS]A imprensa não descarta uma aliança, ou acordo, entre a Liga e o M5S. O jornal "La Stampa" falava, por exemplo, de um eventual "pacto de não agressão para as próximas eleições". "Já veremos. Vamos avaliar os projetos na base", declarou Salvini nesta segunda sobre este tema, indicando que o programa comum duramente negociado entre os dois partidos "estabeleceu boas bases para trabalharmos juntos".

E uma forma de pressionar Berlusconi, com um ultimato para os próximos dias: "Se Silvio Berlusconi votar a confiança ao governo Cottarelli, rompe-se a aliança", advertiu Salvini.

Com que lei?

A paralisia na Itália é fruto, entre outras coisas, da lei eleitoral, que ainda deixa grande parte para uma votação proporcional em um cenário político dividido em três campos: direita, antissistema e centro-esquerda.

"Se, agora, voltarmos a votar com a mesma lei eleitoral, teremos as mesmas dificuldades que neste momento", advertiu no domingo a presidente do Senado, Maria Elisabetta Alberti Caselatti.

E com uma nova lei? Salvini não descarta a possibilidade, consciente de suas relações agora privilegiadas com Luigi Di Maio, líder do M5S.

"A única certeza que temos é que há uma maioria no Parlamento que pode propor e aprovar leis. E a primeira coisa que faremos é começar a discussão sobre a lei eleitoral", prometeu nesta segunda-feira.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação