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Síria ameaça utilizar a força contra os curdos apoiados pelos EUA

O conflito já deixou 350.000 mortos e milhões de deslocados

Damasco, Síria - O presidente sírio, Bashar al-Assad, afirmou que está aberto a trabalhar pela reconciliação no país em guerra, mas não descartou recorrer à força contra os combatentes curdos apoiados pelos Estados Unidos para reconquistar as regiões sob seu controle.

Em uma entrevista ao canal russo Russia Today, exibida nesta quinta-feira, Assad afirmou que se evitou um confronto direto na Síria entre Rússia e Estados Unidos, onde as duas potências atuam militarmente.

"O único problema que resta na Síria são as Forças Democráticas Sírias (FDS)", disse o presidente sírio, cujas tropas conseguiram reconquistar mais de 60% do território que era controlado pelos rebeldes e os jihadistas.

"Temos duas opções para resolver o problema: abrimos primeiro a via das negociações, já que a maioria dos membros (das FDS) são sírios. Se não funcionar, vamos liberar nossos territórios à força. Não temos outra opção", completou.

As FDS, apoiadas militarmente pelos Estados Unidos, são uma coalizão de combatentes curdos e árabes. O grupo teve um papel crucial na luta contra o Estado Islâmico (EI) e derrotaram os extremistas em várias regiões da Síria, incluindo sua "capital" Raqa. Os combates continuam na zona leste da província de Deir Ezzor.

[SAIBAMAIS]Controlam importantes setores do território nas regiões norte de nordeste da Síria. "É nossa terra e é nosso direito e nosso libertá-la. Os americanos devem partir e sairão, de uma maneira ou de outra", completou Assad.

"Com a libertação de Aleppo (norte), depois (a cidade de) Deir Ezzor e antes Homs (centro) e agora Damasco, os americanos perdem suas cartas", disse.

As FDS não reagiram até o momento às ameaças, mas o porta-voz da coalizão internacional, o coronel Sean Ryan, destacou "o incrível trabalho da força opositora na luta contra o EI". Estes rebeldes devem ser "elogiados e não ameaçados", disse.

Evitar confrontos maiores

No fim de abril explodiram combates entre as forças do regime e os combatentes das FDS na província de Deir Ezzor, que possui reservas de petróleo.

As forças de Damasco apoiadas pela aviação russa e as das FDS, respaldadas pela coalizão internacional liderada por Washington, realizaram ofensivas para expulsar os extremistas do EI de seus últimos redutos na província.

Assad controla a cidade de Deir Ezzor, capital da província, assim como toda a margem oeste do Eufrates, enquanto as FDS estão mobilizadas na margem leste.

Os combates desta quinta-feira mataram oito civis na província de Deir Ezzor.

A intervenção militar russa na Síria, a partir de setembro de 2015, permitiu ao regime de Damasco retomar os territórios que eram controlados pelo EI e enfraquecer significativamente os grupos rebeldes.

A Rússia não consegue, no entanto, transformar as vitórias militares em um êxito político para resolver o conflito.

Assad afirmou na entrevista que um confronto direto entre Rússia e Estados Unidos foi evitado. "Estivemos perto de um conflito direto entre as forças da Rússia e dos Estados Unidos", declarou Assad ao canal Russia Today.

O presidente sírio elogiou a "sabedoria da direção russa" que permitiu, segundo ele, afastar o fantasma de um conflito, pois "ninguém no mundo, e em primeiro lugar os sírios, tem interesse que este confronto aconteça".

;Não há tropas iranianas na Síria;

Sobre o denunciado envolvimento de seu aliado Irã no conflito, e os recentes bombardeios israelenses contra posições militares apresentadas como iranianas na Síria, Assad afirmou que "não há tropas iranianas em nosso território".

"Não podemos escondê-los (os iranianos) e não temos vergonha de afirmar claramente que não há. Apenas oficiais iranianos ajudam o exército sírio".

"Israel diz ter atacado bases e acampamentos iranianos. Mas na realidade tivemos dezenas de sírios mortos ou feridos, e nenhum iraniano", afirmou.

A guerra na Síria, que começou em 2011 após a repressão de manifestações, se tornou progressivamente mais complexa com o passar dos anos e o envolvimento de múltiplos personagens.

O conflito deixou 350.000 mortos e milhões de deslocados.