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Populistas assumem o governo da Itália, liderados por Giuseppe Conte

Os líderes do M5S, Luigi Di Maio, e da Liga, Matteo Salvini, ocuparão ministérios importantes

Agência France-Presse
postado em 01/06/2018 07:11
Giuseppe Conte
Roma, Itália - O primeiro governo de aliança entre um jovem movimento antissistema e um partido de extrema-direita deve prestar juramento nesta sexta-feira (1;/6), em Roma, sob a direção de Giuseppe Conte, um jurista novato na política, que prometeu uma política anti-austeridade e voltada para a segurança.

Depois de quase três meses de negociações, o Movimento 5 Estrelas (M5E, antissistema) e o partido Liga (extrema-direita) alcançaram um compromisso com o presidente Sergio Mattarella, que exigia garantias relativa à manutenção da Itália na zona do euro.

No último domingo, o presidente havia vetado uma primeira lista. Mas nesta quinta-feira à noite, assinou uma nova proposta. Os ministros devem prestar juramento às 16h00 (11h00 de Brasília) e buscar a confiança parlamentar no início da próxima semana.

Será Conte, um professor de direito e advogado de 53 anos totalmente desconhecido do grande público quando foi escolhido há 15 dias pelo M5E e pela Liga, quem se sentará ao lado de Mattarella no sábado para a parada militar do feriado nacional italiano.

E ele, que lecionou seu curso na Universidade de Florença esta manhã, também representará a Itália na próxima semana na cúpula do G7 no Canadá.

Luigi Di Maio, líder do M5E, e Matteo Salvini, chefe da Liga, serão vice-primeiros-ministros. O primeiro para o Desenvolvimento Econômico e do Trabalho e o segundo para o Interior.

Equilíbrio entre aliados

O sensível ministério da Economia e das Finanças ficará a cargo de Giovanni Tria, professor de economia política próximo das ideias da Liga em questões tributárias, mas favorável à manutenção da Itália no euro.

Inicialmente cotado para o cargo, Paolo Savona, o economista de 81 anos que vê o euro como "uma prisão alemã", será ministro dos Assuntos Europeus.

Ele será acompanhado pelo pró-europeu Enzo Moavero Milanesi, que trabalhou por 20 anos em Bruxelas e foi ministro dos Assuntos Europeus de Mario Monti e Enrico Letta (2011-2014), que será ministro das Relações Exteriores.

Finalmente, esta equipe de 18 ministros, incluindo apenas cinco mulheres, coloca quase em pé de igualdade os dois aliados, mesmo que a Liga tenha recebido apenas 17% dos votos nas eleições legislativas de 4 de março, contra mais de 32% dos votos para o M5E.

A reação dos mercados financeiros, febris nas últimas semanas, em particular com o aumento do "spread", a diferença entre as taxas de empréstimo de 10 anos da Alemanha e da Itália, era aguardada ansiosamente nesta sexta-feira.

Os investidores consideram o programa dos dois aliados perigoso para as contas públicas italianas, mas muitos temiam ainda mais um possível retorno às urnas nos próximos meses.

"Abordagem cultural diferente"

"Vamos trabalhar intensamente para alcançar os objetivos políticos que anunciamos no contrato do governo. Vamos trabalhar com determinação, para melhorar a qualidade de vida de todos os italianos", prometeu Conte na quinta-feira à noite após apresentar sua equipe.

Esse "contrato de governo", negociado há dez dias e revelado há duas semanas, vira resolutamente as costas à austeridade e aos ditames de Bruxelas e aposta em uma política de crescimento econômico para reduzir a colossal dívida pública italiana.

Promete uma redução da idade de aposentadoria, cortes de impostos draconianos - o cavalo de batalha da Liga - e a introdução de uma "renda cidadã" de 780 euros por mês - uma promessa fundamental do M5E.

Síntese de duas filosofias políticas diferentes, apresenta tanto a retórica do M5E sobre o meio ambiente, as novas tecnologias ou a moralização da vida pública que uma guinada em relação à segurança, com uma postura anti-imigrante e anti-Islã defendida pela Liga, aliada na Europa da Frente Nacional Francesa.

"Sem prometer milagres, posso dizer que gostaria que depois dos primeiros meses deste governo, tenhamos um país com um pouco menos de impostos e um pouco mais de segurança, um pouco mais de emprego e um pouco menos de imigrantes ilegais", disse Salvini na quinta-feira diante de seus partidários, confirmando o tom de sua campanha.

Ele prometeu "uma abordagem cultural ligeiramente diferente", com, por exemplo, "uma boa tesourada" nos fundos para a recepção dos requerentes de asilo.

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