Agência France-Presse
postado em 04/06/2018 09:32
[FOTO1172234]Escuintla, Guatemala - Com os olhos voltados para baixo, Manuel ainda se assombra por ter sobrevivido à potente erupção do vulcão de fogo que, nesse domingo (3/6), deixou em comunidades assentadas no pé do cume, no sudoeste da Guatemala.
Descalço e sentado sobre uma fina manta junto com a mulher e a filha, um bebê de dois meses que dorme, Manuel López, de 22 anos, lembra o momento em que ficaram presos em sua casa por uma corrente de lava que desceu do vulcão após a erupção e provocou a tragédia.
"Tudo uso (o material vulcânico) entrou pelas portas e janelas. Fazia muito calor, não dava para respirar, isso aqui fervia", relatou Manuel, que conversou com a AFP em um salão comunitário na Ciudad de Escuintla, preparado para atender a um grupo de desabrigados.
As 272 pessoas instaladas no albergue, quase metade crianças, são de diferentes áreas da aldeia El Rodeo, em Escuintla, uma das zonas arrasadas pelos fluxos de fogo que desceram do vulcão.
"Conseguimos sair quebrando lâminas, cercas, passando pelas paredes, e conseguimos chegar até onde estavam os bombeiros e os soldados", contou o sobrevivente do deslizamento, acrescentando que sua outra filha, de 4 anos, foi levada para o hospital local com queimaduras nas pernas.
Segundo o informe da Defesa Civil, a forte atividade do vulcão, de 3.763 metros de altitude e situado 35 quilômetros ao sudoeste da capital, causou a morte de pelo menos 25 pessoas - incluindo vários menores - em comunidades do flanco sul.
Medo latente
Cerca de 3.000 pessoas foram evacuadas, e 653, abrigadas, nos departamentos de Escuintla (sul) e Sacatepéquez (oeste), os quais, junto com o de Chimaltenango (oeste), são os três mais afetados pela erupção que levantou colunas de cinza de até 2.200 metros sobre a cratera.
A chuva de cinza percorreu dezenas de quilômetros, levando ao fechamento do aeroporto da capital. O presidente Jimmy Morales decretou três dias de luto nacional pela catástrofe.
Depois de várias horas de intensa atividade, o vulcão acalmou suas erupções. As tarefas de busca dos desaparecidos vão continuar nesta segunda-feira, mas, diante do ocorrido, o temor é evidente entre os moradores.
"Deu medo isso. Nunca tinha acontecido", afirmou Cleotilde Reyes, uma senhora nascida na aldeia e acostumada com as constantes erupções do vulcão. Ela conseguiu fugir momentos antes com sua filha e dois netos na caminhonete de um vizinho que as alertou sobre o deslizamento que se aproximava.
"Tenho medo de voltar", expressou Erick Ortiz, enquanto cuidava da mulher e dos dois filhos pequenos. Segundo ele, a família decidiu abandonar a comunidade antes, pressentindo o perigo.
"Me assustei ao ver o breu (pelas cinzas) que vinha para baixo e disse a ela (referindo-se à sua mulher) que saíssemos antes que nos pegasse", completou, angustiado.
Enquanto a maioria tentava dormir, e as luzes no abrigo se apagavam, encostado em uma parede, Efraín González, de 52, não perdia a esperança de encontrar com vida seu filho de 10 anos e sua pequena de 4, desaparecidos depois do deslizamento. Ele está no albergue junto com a esposa e com a outra filha pequena. Outros, como Miguel Tilón, de 45, esperam receber mais ajuda ao longo dos próximos dias: "Não temos para onde ir".