Agência France-Presse
postado em 05/06/2018 14:59
Líderes da esquerda na Alemanha pediram nesta terça-feira a expulsão do embaixador dos Estados Unidos em Berlim, um ferrenho defensor do presidente Donald Trump, que foi acusado de tentar interferir em assuntos internos do país.
Richard Grenell assumiu o cargo em 8 de maio e, imediatamente, provocou polêmica ao escrever no Twitter que as empresas alemãs deveriam deixar de fazer negócios com o Irã, depois que o governo dos Estados Unidos abandonou o acordo nuclear assinado com a República Islâmica em 2015.
Também teria afirmado no fim de semana, de acordo com a imprensa, que sua ambição é "fortalecer" as políticas e os líderes conservadores na Europa. Grenell gerou mais uma polêmica ao convidar para um almoço em 13 de junho o chanceler conservador austríaco Sebastian Kurz, a quem chamou de "estrela do rock"
O líder social-democrata Martin Schulz, ex-presidente do Parlamento Europeu, pediu nesta terça-feira que o diplomata seja reenviado a Washington. "O que faz este homem é inaudito na diplomacia internacional", afirmou à agência DPA.
"Se o embaixador alemão afirmasse em Washington que estava lá para fortalecer os democratas, receberia um chute no traseiro", acrescentou Schulz, após ter acusado no Twitter Grenell de se comportar como "um oficial colonial de extrema-direita".
A líder do partido de extrema-direita Die Linke, Sahra Wagenknecht, afirmou que o governo deveria expulsar Grenell de modo imediato. "Alguém como o embaixador americano Richard Grenell, que considera que pode ser o senhor da Europa e determinar quem governa nela, não pode seguir mais como diplomata na Alemanha", disse Wagenknecht ao jornal Die Welt.
O descontentamento chegou ao governo de Angela Merkel. "Grenell quer reforçar as correntes que na Europa tentam freiar ou inverte o processo de união europeia", afirmou nesta terça o líder do partido da chanceler, encarregado da pasta de Política Externa, Jürgen Hardt.
O ministro alemão das Relações Exteriores pediu explicações sobre os comentários de Grenell. O tema deve ser abordado em um encontro, que já estava marcado, na quarta-feira entre o embaixador e o secretário de Estado Andreas Michaelis.
O embaixador americano também gera desconforto por sua hiperatividade em Berlim: na segunda-feira organizou uma entrevista com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em visita à Alemanha, que acabara de se reunir com Merkel.
A chanceler acabara de reafirmar sua disposição de manter vivo o acordo nuclear iraniano, que Netanyahu categoricamente rejeita, com o apoio do governo Trump. Homossexual e defensor do casamento entre pessoas do mesmo sexo, Grenell é descrito no Twitter como um "discípulo imperfeito de Cristo".
A nomeação como embaixador de Grenell - ex-porta-voz da missão dos Estados Unidos na ONU - foi por muito tempo bloqueada pelo Senado e só ocorreu no final de abril. A oposição o censurava sobretudo por seus tuítes sexistas.
Seu desempenho como embaixador não ajuda a melhorar as difíceis relações entre os Estados Unidos e a Alemanha, especialmente com o risco de guerra comercial em ambos os lados do Atlântico, e as críticas de Washington a Berlim por seus baixos gastos em defesa.