Agência France-Presse
postado em 06/06/2018 07:31
Manágua, Nicarágua - A Nicarágua vive uma "tragédia humana" pela repressão desatada pelo governo contra manifestantes que pedem a saída do presidente Daniel Ortega do poder e que deixou pelo menos 121 mortos em quase dois meses, informou nesta terça-feira um organismo de direitos humanos.
Adicionalmente, 1.300 pessoas foram feridas na onda de protestos contra o governo de Ortega. "Isso já é um massacre, uma tragédia humana onde se busca exterminar todos os jovens que pensam diferente ou são críticos a uma gestão de governo", disse à AFP a secretária-executiva do Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh), Marlin Sierra, que informou sobre o novo balance de 121 mortos.
Os confrontos entre manifestantes e as forças do ordem continuaram nesta terça-feira com um menor de idade morto na turística cidade de Granada depois de ter tomado um tiro, segundo o Cenidh.
O pároco da igreja Xalteva de Granada, Wilmer Pérez, disse ao canal 100% Noticias que o menor morreu em meio a enfrentamentos quando grupos ligados ao governo tentaram retirar uma barricada na cidade, 45 quilômetros ao sul da capital.
[SAIBAMAIS]Desde que os protestos começaram em 18 de abril, há uma média de 2,5 mortos por dia nas mãos das forças irregulares, como os grupos de choque, paramilitares e efetivos antidistúrbios, denunciou Sierra.
A Anistia Internacional (AI) afirmou em um comunicado publicado no México que Ortega "não tem demonstrado a menor inclinação para pôr fim à sua política sistemática de repressão violenta que já custou mais de 100 vidas em menos de dois meses, com um saldo que sobe a cada dia".
O governo inicialmente não se pronunciou sobre a denúncia da Anistia Internacional.
OEA condena violência mas poupa Ortega
A Assembleia da Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou nesta terça-feira a violência que sacode o país, mas não responsabilizou o governo de Ortega pela repressão aos manifestantes.
A "Declaração de Apoio ao Povo da Nicarágua", apresentada pelos Estados Unidos e pelo próprio governo nicaraguense, exige "o fim imediato dos atos de violência, intimidação e ameaças dirigidas contra o público em geral".
Também convoca o governo e outros atores sociais a participar "construtivamente de negociações pacíficas para fortalecer as instituições democráticas e a celebração de eleições livres, justas e oportunas".
O documento exorta a CIDH a informar "assim que possível" ao Conselho Permanente da OEA sobre os resultados e conclusões da visita de trabalho realizada à Nicarágua em maio, mas não condena explicitamente Manágua pela repressão praticada pela polícia e por grupos armados ligados ao governo, como denunciam organizações de defesa dos direitos humanos.