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Acordo nuclear: Irã aumenta pressão, e europeus tentam reagir

Desta forma, a Europa sofre uma pressão dupla, a de Teerã e sua insatisfação e a de Washington, que poderia atacar suas empresas

Agência France-Presse
postado em 06/06/2018 13:15
O presidente do Irã, Hassan Rohani
O Irã fechava o cerco nesta quarta-feira (6/6), confirmando sua vontade de relançar seu programa nuclear em caso de cancelamento do acordo internacional de 2015, para grande desgosto dos europeus que tentam salvar o acordo e preservar suas empresas das sanções americanas.

[SAIBAMAIS]Teerã começou os "trabalhos preparatórios no caso de o JCPOA (abreviatura oficial do acordo) infelizmente fracassar, para que, assim, o Irã possa reviver as suas atividades sem restrições ligadas ao JCPOA", declarou seu embaixador na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Reza Najafi, corroborando as informações veiculadas pela agência de notícias iraniana Fars.

"Essa iniciativa não é bem-vista. Mostra uma forma de irritação, e é sempre perigoso flertar com as linhas vermelhas", reagiu o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian.

Se avançarmos para "um estágio mais elevado, o acordo será rompido", advertiu.

"Neste momento e na situação atual, não contribui para construir a confiança, que também seria do interesse de Teerã", declarou por sua vez um porta-voz do ministério das Relações Exteriores da Alemanha.

Os europeus tentam salvar o acordo duramente conquistado em 2015, que deveria impedir o Irã de obter acesso a armas atômicas em troca da suspensão das sanções que o isolaram e estrangularam sua economia.

Mas o governo americano de Donald Trump se retirou deste acordo em maio, restabelecendo suas sanções a todos aqueles que gostariam de negociar com o país.

Desta forma, a Europa sofre uma pressão dupla, a de Teerã e sua insatisfação e a de Washington, que poderia atacar suas empresas.


Pedido de isenções

França, Alemanha e Reino Unido também pediram aos Estados Unidos isenções de sanções para suas empresas presentes no Irã.

"Como aliados, esperamos que os Estados Unidos se abstenham de tomar medidas que prejudiquem os interesses em termos de defesa europeias", escreveram os ministros das Finanças e do Exterior dos três países ao secretário de Estado americano, Mike Pompeo, e ao secretário do Tesouro, Steven Mnuchin.

A carta, datada de segunda-feira, foi tornada pública no Twitter pelo ministro francês das Finanças, Bruno Le Maire.

Esta questão das empresas europeias é essencial para a evolução da questão, enquanto Teerã precisa de investimentos estrangeiros para recuperar sua economia.

O acordo corre o risco de perder sua substância pela única ameaça americana, como implicitamente declarado por um dos mais ferozes adversários de Teerã, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, na noite de terça-feira em Paris: "Eu não pedi ao presidente (Emmanuel) Macron para sair do acordo. Acredito que a realidade econômica vai decidir essa questão".

De fato, o problema começa a ganhar contornos reais. Nesta quarta-feira, a americana Boeing, que recebeu encomendas das companhias iranianas Iran Air e Aseman Airlines, por um montante de 20 bilhões de dólares, informou que não fornecerá os aviões prometidos.

"Para ser claro sobre os pedidos, ainda não entregamos nenhuma aeronave ao Irã e, visto que não temos mais permissão para negociar com o Irã, não entregaremos nenhum avião", afirmou um porta-voz da empresa.


Lei de bloqueio

Outras empresas, como a francesa Total (petróleo) e PSA (automóveis) começaram a dizer que reduziriam sua atividade no Irã por temer as sanções americanas.

A onipotência econômica dos Estados Unidos e a absoluta preponderância do dólar no comércio tornam muito difícil para uma empresa internacional ignorar ameaças de sanções americanas.

Muitas empresas ainda se lembram da dolorosa multa de quase US$ 9 bilhões imposta por Washington ao banco francês BNP Paribas por burlar os embargos.

A União Europeia está tentando se organizar para combater as advertências americanas, mas o processo é lento e incerto.

A Comissão Europeia adotou nesta quarta-feira um regulamento chamado "lei de bloqueio", criado em 1996 para contornar o embargo a Cuba, sem nunca ter sido realmente usado e precisando ser alterado para se aplicar ao caso iraniano.

Os Estados-membros e o Parlamento Europeu têm dois meses para se oporem.

"Se nenhuma objeção for levantada", a legislação entrará em vigor "no máximo" no início de agosto, como as primeiras sanções dos Estados Unidos, segundo o Executivo europeu.

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