Agência France-Presse
postado em 08/06/2018 16:58
Um grupo de arqueólogos descobriu os restos mortais de cerca de 50 crianças oferecidas em um ritual da cultura pré-colombiana chimu, na costa norte do Peru, perto de onde foram achados há pouco tempo os vestígios do maior sacrifício de crianças do mundo.
"Até o momento encontramos os restos mortais de 56 crianças que foram sacrificadas pela cultura chimu", declarou à AFP o arqueólogo Gabriel Prieto.
O novo local de sacrifício maciço de crianças foi descoberto no setor Pampa La Cruz, em Huanchaco, município costeiro de Trujillo, a terceira cidade do Peru, 700 quilômetros ao norte de Lima.
"Agora, com mais argumentos, confirma-se que temos o maior sacrifício de crianças do mundo. Tranquilamente neste novo espaço podemos dobrar o número de restos mortais que encontramos em Huanchaquito" anteriormente, indicou Prieto, após destacar que o trabalho no novo sítio arqueológico acaba de começar.
Prieto explicou que os restos mortais das 56 crianças, de entre seis e 14 anos, foram encontrados no início de maio envolvidos em tecido de algodão como mortalhas em frente ao mar, um quilômetro ao norte de Huanchaquito.
"O interessante do tema é que foram sacrificados com um corte no esterno e mostram as costelas abertas assim como em Huanchaquito", comentou o arqueólogo da Universidade Nacional de Trujillo.
"Reforça-se que Huanchaco foi um local onde foram feitos sacrifícios maciços de crianças durante a cultura chimu", acrescentou.
Testes de radiocarbono
Em Huanchaquito foram encontrados os restos de 140 crianças e 200 lhamas oferecidas em ritual, segundo informou no fim de abril a revista National Geographic.
Essas escavações remontam a 2011, quando foram descobertos os restos mortais de 42 crianças e 76 lhamas em um templo de 3.500 anos, segundo o relatório.
Esta primeira descoberta, que obrigou a revisar a história de sacrifícios humanos, ocorreu em um alcantilado sobre o Oceano Pacífico nessa mesma região.
"Ao final das escavações em 2016, haviam descoberto no sítio mais de 140 restos mortais de crianças e 200 lhamas jovens", ressaltou a National Geographic.
A revista indicou que testes com radiocarbono em cordas e tecidos dataram os objetos descobertos nos túmulos entre os anos 1400 e 1450, cerca de um século antes do conquistador espanhol Francisco Pizarro chegar ao Peru (1532).
O local desses sacrifícios é conhecido como Huanchaquito-Las Llamas e fica 300 metros acima do nível do mar no meio de um complexo de casas residenciais em expansão de Huanchaco.
Conquistados pelos incas
A National Geographic destacou em abril que "até agora, o maior de que se tem evidência é o sacrifício e enterro de forma ritual de 42 crianças no Templo Mayor, na capital azteca de Tenochtitlán (atualmente, Cidade do México)".
O antropólogo John Verano, da americana Tulane University, e sua equipe de pesquisa analisam as novas descobertas.
O projeto foi realizado graças ao apoio da National Geographic, da Universidade Nacional de Trujillo e do município de Huanchaco.
A civilização chimu se estendeu ao longo da costa peruana até o atual Equador, e desapareceu por volta do ano 1475 ao ser conquistada pelo império inca.