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Brasileiro inventor de óculos de holograma disputa Prêmio na Europa

Inicialmente utilizado em jogos eletrônicos, os óculos de realidade virtual aos poucos conquistam a confiança do público, com utilizações que vão de treinamento em empresas a projetos de educação

postado em 09/06/2018 17:12
País que inventou o relógio de pulso, o identificador de chamadas telefônicas e os caixas eletrônicos automatizados, o Brasil teve o talento reconhecido em nível internacional. Desenvolvedor de óculos de realidade virtual que exibem hologramas, o engenheiro Alex Kipman, nascido em Curitiba, tornou-se o primeiro brasileiro finalista do Prêmio Inventor Europeu, na categoria de países de fora da Europa.

A invenção de Kipman destacou-se em meio a mais de 500 inscrições neste ano e foi escolhida para ser um dos 15 concorrentes que disputaram o prêmio do Escritório Europeu de Patentes (EPO, na sigla em inglês), organização internacional com 38 países-membros. Ao todo, foram cinco categorias (indústria, pesquisa, pequenas e médias empresas, países de fora do EPO e reconhecimento da obra), com três finalistas cada.

A vencedora na categoria de Kipman foi a americana Esther Sans Takeuchi, que inventou as baterias compactas presentes em desfibriladores cardíacos e marca-passos. Apesar de não ter levado o prêmio, o engenheiro disse que se considera um vencedor por ter o trabalho reconhecido. Segundo ele, o HoloLens (nome comercial dos óculos de realidade virtual) está revolucionando a interação entre os seres humanos à medida que tem a utilização disseminada.

[SAIBAMAIS]Kipman explicou que a invenção nasceu de uma interrogação há dez anos sobre o significado da tecnologia. ;Não podemos existir sem a tecnologia. E a tecnologia pode deslocar o tempo e o espaço. Por meio da realidade virtual, posso andar em Marte. A realidade virtual até permite que eu converse com alguém que esteja em qualquer lugar do planeta, mesmo 100 anos depois da minha morte. Nossa tarefa é fazer o futuro acontecer, mais, melhor e mais barato;, afirmou.

Presidente do EPO, o francês Beno;t Batistelli disse à Agência Brasil que a premiação não se baseou apenas nas inovações, mas principalmente no impacto econômico e social de cada invenção patenteada. ;Este não é prêmio para a inovação, mas aos inventores. Eles são heróis do nosso tempo, que trazem soluções para desafios. Criam valor para desenvolverem atividades econômicas, gerarem empregos e mudarem a vida da humanidade;, destacou.

Aplicações

Inicialmente utilizado em jogos eletrônicos, os óculos de realidade virtual aos poucos conquistam a confiança do público, com utilizações que vão de treinamento em empresas a projetos de educação. ;Visitei uma faculdade de medicina nos Estados Unidos que começou a usar o HoloLens nas aulas, e o resultado foi fantástico. Em vez de aprenderem anatomia por meio de desenhos e de cadáveres, os alunos aprendem interagindo em tempo real em três dimensões. O conteúdo de meses agora pode ser ensinado em dias;, disse Kipman.

No Brasil, uma empresa de elevadores passou a usar os óculos de realidade virtual para treinar os técnicos que fazem a manutenção, com acesso a manuais por comandos de voz. O dispositivo, no entanto, ganhou outras utilidades, como avaliar o desgaste de cada componente e permitir trocas preventivas. ;Antes, os funcionários da empresa tinham que viajar para treinamentos. Hoje, o trabalhador pode se teletransportar e consertar o elevador. Cada etapa da cadeia produtiva ficou melhor por causa da realidade virtual;, constatou Kipman.

O legado, no entanto, não se restringe à produtividade. O engenheiro destacou que os óculos de realidade virtual podem ser usados para romper barreiras entre os seres humanos, citando as pessoas com deficiência. ;A realidade aumentada pode fazer todo mundo ter habilidades iguais. Da mesma forma que uma pessoa com deficiência pode sentir coisas que não sentiriam e se comunicar de uma maneira em que não se comunicariam, uma pessoa sem deficiência pode sentir na pele a sensação de ter limitações. Isso cria empatia;.

Desafios

Filho de diplomata, Kipman fez parte do ensino básico e médio no Brasil, mas cursou engenharia nos Estados Unidos. Ele hoje mora nos Estados Unidos, mas começou a desenvolver o projeto do HoloLens enquanto trabalhava na filial brasileira da Microsoft. Apesar das dificuldades na educação no Brasil, o engenheiro disse acreditar que a determinação e o talento do brasileiro inspiram o desenvolvimento de inovações.

;O povo brasileiro é determinado, apaixonado, empreendedor e criativo. Esses são ingredientes para o sucesso. Todos os países têm obstáculos, mas sou utópico e acredito que as pessoas certas, nos projetos certos, com a atitude certa e no tempo certo sempre mudarão o mundo. O que a sociedade brasileira pode fazer é intervir mais e exigir mais para conseguir um lugar melhor;, declarou.

O presidente do EPO disse que a entidade tem uma longa tradição de cooperação com o Brasil e que o país tem melhorado significativamente no registro de patentes. ;O desafio para qualquer país inventar e inovar está em desenvolver a interação entre a pesquisa, as universidades e as indústrias. Mas o Brasil tem feito progressos e está usando ferramentas, base de dados, sistemas de busca de patentes muito positivos;, ressaltou Beno;t Batistelli.

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