Agência France-Presse
postado em 19/06/2018 13:11
Cidade do Vaticano, Santa Sé -O papa Francisco, que prega a união dos cristãos sem distinção, visita na quinta-feira Genebra a convite da maior comunidade mundial de Igrejas protestantes e ortodoxas, a fim de uma aproximação.
O aniversário dos 70 anos do Conselho Ecumênico das Igrejas (COE, no original), nascido em 1948 - que conta em uma centena de países com 350 igrejas - será uma ocasião simbólica para o papa argentino de reforçar o "diálogo ecumênico".
Para o presidente do COE, o norueguês Olav Fykse Tveit, a mensagem do papa vai além da comunidade católica, é uma "voz forte" que fala a todos os cristãos.
"É uma decisão muito importante de aceitar o convite. Significa que a Igreja católica romana tem as mesmas prioridades que as outras Igrejas quando se trata de trabalhar sobre a expressão de nossa unidade cristã e sobre o tema de saber como podemos responder às necessidades do mundo de hoje", explicou.
Esta aproximação entre os cristãos tem sido uma preocupação da Igreja Católica há apenas sessenta anos e o seu famoso Concílio Vaticano II (1962-1965), que apelou ao respeito mútuo entre as religiões e renunciou a proclamar a Igreja como a única maneira de viver. Ou uma gota de água em uma história milenar marcada por cismas, guerras de religiões sangrentas e ódios.
Ao ir a Genebra, terra do teólogo e reformista francês João Calvino, o papa abraçará no COE a atual galáxia cristã mundial, incluindo o importante movimento evangélico. Cerca de 150 membros do COE, reunidos esta semana em Genebra para seu comitê central, vão recebê-lo, bem como as delegações cristãs das duas Coreias.
Numa época de descristianização desenfreada na Europa, as relações estão mais tranquilas entre católicos, ortodoxos e protestantes, apesar das persistentes diferenças teológicas. Esta reaproximação é nutrida pelas perseguições ou ataques terroristas contra cristãos em certas partes do mundo onde a liberdade religiosa está ausente.
O papa Francisco usa regularmente a expressão "ecumenismo de sangue", lamentado o assassinato indiscriminado de católicos, ortodoxos ou protestantes. "Se o inimigo nos une na morte, quem somos nós para nos dividir em vida?", afirma.
Segundo o cardeal suíço Kurt Koch, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, 80% das pessoas perseguidas no mundo são cristãs.
- Divergências doutrinais -
A Igreja católica romana (1,3 bilhão de batizados) não deseja ser membro do COE, que representa através de pequenas igrejas e comunidades mais de 500 milhões de cristãos que não reconhecem a primazia do papa. Mas com status de observadora, está envolvida há cinquenta anos em projetos de ajuda humanitária ou educação, bem como em discussões teológicas.
A Igreja católica, no entanto, continua a caracterizar as denominações protestantes de "comunidades eclesiais" e não Igrejas, devido à sua interpretação diferente da Eucaristia. Um documento do Vaticano de 2000 também diz que os protestantes estão menos preparados para receber a salvação por causa de seus diferentes sacramentos.
O papa participará em Genebra em uma "oração ecumênica" mostrando seu compromisso em promover a unidade dos cristãos. Mas, de acordo com o cardeal Koch, uma possível adesão ao COE ainda requer "estudos teológicos profundos" e essa "jornada ainda pode ser longa e difícil".
O pontífice também celebrará uma missa para 40.000 católicos. Esta será a terceira visita de um papa ao COE, depois de Paulo VI em 1969 e João Paulo II em 1984.
Francisco participou ao lado dos luteranos no lançamento do 500; aniversário da Reforma de Martinho Lutero, em 31 de outubro de 2016 na Suécia, uma oportunidade de expressar juntos o profundo pesar pelos massacres e preconceitos resultantes do cisma entre cristãos há 500 anos.
A proximidade do papa com uma Igreja luterana muito moderna (liderada por uma mulher casada e com dois bispos abertamente homossexuais), não agradou os círculos mais conservadores da Igreja católica.
E em fevereiro de 2016, o papa e patriarca ortodoxo russo Kirill deram em Cuba um passo histórico para a unidade do cristianismo após a primeira reunião entre os líderes das duas maiores denominações cristãs desde 1054. Eles assinaram uma declaração conjunta lamentando os abusos islâmicos contra cristãos no Oriente Médio que levaram ao seu êxodo em massa.
Mas o acordo com a conservadora Igreja de Moscou (mais de 130 milhões dos 250 milhões de ortodoxos) foi criticado pelos ucranianos greco-católicos que se sentiram traídos pelo papa.