Agência France-Presse
postado em 20/06/2018 08:43
Pequim, China - Kim Jong Un celebrou em Pequim a unidade inquebrantável com a China, país preocupado com o desejo de aproximação dos Estados Unidos após a histórica reunião do líder norte-coreano com Donald Trump em Singapura.
A visita de dois dias, a terceira em três meses, que termina nesta quarta-feira, pretende enviar uma mensagem clara: Pyongyang não deixará de lado os interesses chineses, inclusive no caso de uma lua de mel diplomática com o presidente dos Estados Unidos.
Este é um exercício de equilíbrio para o jovem Kim, que tem a ambição de desenvolver relações tranquilas com os Estados Unidos e preservar os laços históricos com a China, o principal sócio econômico e diplomático de Pyongyang.
Assim como Washington, Pequim espera ver a desnuclearização da península coreana. Mas a China teme que a aproximação entre Coreia do Norte e Estados Unidos aconteça às suas custas, uma possibilidade que ameaçaria seus interesses econômicos e de segurança na região.
A China não estava representada na reunião entre Kim Jong Un e Donald Trump em 12 de junho em Singapura, mas emprestou ao dirigente norte-coreano um avião para sua viagem à cidade Estado. Um sinal de que o país mantém uma influência determinante.
Chineses e norte-coreanos são aliados desde que lutaram juntos na guerra da Coreia (1950-1953). Mas a aplicação por Pequim das sanções da ONU destinadas a convencer Pyongyang a abandonar seu programa nuclear provocaram tensão entre os dois países, que agora se esforçam para recompor as relações.
Guarda de honra
No fim de março, Kim Jong Un viajou a Pequim, em sua primeira viagem ao exterior desde que assumiu o poder no fim de 2011, antes de umas segunda viisita em maio à cidade portuária de Dalian (nordeste da China).
O programa do dirigente norte-coreano para esta quarta-feira não foi divulgado.
[SAIBAMAIS]Durante o encontro de terça-feira com o presidente Xi Jinping, Kim agradeceu a China por "seu apoio positivo e sincero, assim como por sua ajuda para frutífera reunião de Singapura", afirmou a agência oficial norte-coreana KCNA.
Kim Jong Un, recebido com uma guarda de honra militar no monumental Palácio do Povo em Pequim, celebrou "a cooperação estratégica reforçada recentemente entre os dois países".
"Expressou a sua determinação e sua vontade de desenvolver ainda mais as estreitas relações de amizade, unidade e cooperação", informou a KCNA.
Kim também mencionou a "perspectiva de uma desnuclearização da península coreana".
Xi Jinping pediu a Coreia do Norte e Estados Unidos que concretizem o acordo alcançado em Singapura. Ele disse que a China continuará desempenhando "um papel construtivo" na questão nuclear.
Os meios de comunicação estatais dos dois países, no entanto, não indicaram se os dois líderes discutiram uma eventual retirada das sanções da ONU.
Espaço de entendimento
Shin Bum-cheol, pesquisador no Asan Institute for Policy Studies, um centro de reflexão em Seul, afirmou que os dois dirigentes encontraram um "espaço de entendimento" depois da reunião de cúpula de Singapura.
A Coreia do Norte é para a China "uma carta importante para jogar" em suas negociações com os Estados Unidos enquanto se perfila uma potencial guerra comercial entre Pequim e Washington, declarou Shin à AFP.
"Para o Norte, (esta visita) também serve para demonstrar ao mundo, e particularmente aos Estados Unidos, que Pequim pode contar com o respaldo de Pyongyang se as relações entre Coreia do Norte e Estados Unidos se deteriorarem", destacou.
Altos funcionários norte-coreanos viajaram recentemente a China com o objetivo de conhecer suas reformas econômicas. Outro sinal da dependência econômica de Pyongyang de seu vizinho.
"Estamos contentes de ver que (a Coreia do Norte) tomou a decisão importante de concentrar-se na construção de sua economia", declarou na terça-feira Xi Jinping a Kim Jong Un, segundo a agência oficial chinesa Xinhua.
A China indicou no ano passado que o Conselho de Segurança da ONU poderia considerar aliviar as sanções contra Pyongyang.