Agência France-Presse
postado em 23/06/2018 09:53
O hondurenho Ever Sierra retorna deportado para seu país. Em sua mochila carrega os sapatos de sua filha de oito meses, que ficou em um centro de detenção em McAllen, Texas, com sua mãe. Em poucos dias, Ever tentará emigrar novamente para se encontrar com elas.
"No domingo ou segunda-feira vou voltar, quero estar com a minha família", declarou à AFP o jovem de 28 anos.
No dia 2 de janeiro, Ever deixou a cidade de El Progreso, no norte, em busca do sonho americano com sua esposa Iris Janeth (26) e sua filha, que tinha dois meses de idade.
"Busco um futuro melhor para a nossa família. Aqui, com 250, 300 lempiras (10 a 12 dólares) por dia, não se faz nada", lamenta o pedreiro.
Um mês depois, em 3 de fevereiro, enquanto navegavam pelo rio Piedras Negras, perto da fronteira mexicana, foram presos por agentes de imigração americanos. Eles estavam acompanhados pelo irmão de Ever, Juan Carlos, sua esposa e o filho do casal de cinco anos.
Famílias separadas
Segundo Ever, Iris Janeth e sua filha foram levadas para um centro de detenção juvenil na cidade de McAllen, Texas. Sua cunhada foi levada para um centro em Miami, seu irmão foi enviado para La Salle, também no Texas, enquanto ele foi levado para outro centro na Louisiana.
A separação de famílias é resultado da política de "tolerância zero" do presidente Donald Trump com os imigrantes em situação ilegal. Sua ação levou à separação de mais de 2.000 crianças de seus pais e gerou tanta rejeição que o presidente teve que desistir e aceitar a reintegração familiar.
Ever, de pele branca, cabelos escassos, vestido com uma camisa esportiva branca e um colete preto, carrega em sua mochila os sapatos de sua filha pendurados para não esquecê-la.
O jovem desembarcou em um dos dois voos que chegou na sexta-feira com deportados da Louisiana no aeroporto de San Pedro Sula, a segunda cidade de Honduras, 180 quilômetros ao norte da capital. No primeiro voo chegaram 118 e no segundo 120.
"Eles nos trouxeram acorrentados pelos pés, mãos e cintura", reclama José Miguel Sagotizado, outro deportado de 32 anos. "Não tiraram nossas correntes nem para ir ao banheiro" durante o voo.
"Trump é um racista. Todos estão contra ele, até mesmo sua esposa", diz o homem de constituição forte, olhos vivos e cabelos aparados.
Outros 108 deportados chegaram ao aeroporto da Cidade da Guatemala, onde foram recebidos com música.
Um deles, Benjamín Raymundo, de 33 anos, partiu em abril passado do povoado indígena de Maya-Q;anjob;al, no oeste da Guatemala, com seu filho Roberto, de cinco anos.
Benjamin conta à AFP que a pobreza em sua região e o desejo de dar uma vida melhor à sua família o levaram a tentar pela segunda vez entrar no território americano.
Ele deixou sua esposa Rosalia e sua filha mais nova, de dois anos e meio de idade, e partiu para a viagem. Atravessaram o México de ônibus e conseguiram chegar à fronteira, mas foram impedidos pela "migra" na Califórnia.
Lá viu pela última vez seu filho, que foi levado para Nova York. Um cunhado que mora nos Estados Unidos e um advogado conseguiram descobrir o paradeiro da criança e agora esse parente assumiu sua guarda.
"É uma grande tristeza para mim, é como se nunca mais fosse ver meu filho", lamenta Benjamin, que disse que não vai tentar fazer a viagem para os Estados Unidos e que espera que a criança obtenha refúgio.
Uma mulher guatemalteca de 40 anos, que optou por não dar seu nome, conta que passou 10 meses detida em um centro no Arizona. A mulher, que se apoia em muletas após uma cirurgia recente no pé direito, explica que migrou para os Estados Unidos em 2004 e que dois anos atrás seu filho de 14 anos cruzou a fronteira.
Nos Estados Unidos, seu filho mais velho, de 22 anos e também em situação irregular, ficou responsável pelo menor e por sua outra menina de três anos que é cidadã americana.
Lamenta que agora a situação em relação aos imigrantes "esteja mais difícil", mas viajará novamente para se juntar aos filhos. "Pelos meus filhos eu pretendo voltar, não sei como, mas pretendo voltar", consola-se.