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Médico congolês encoraja iraquianas a vencerem estigma do estupro

Denis Mukwege luta para devolver a dignidade às mulheres vítimas de estupro nas guerras, sobretudo no Congo. Ele denuncia o estupro como "arma barata e eficaz" que destrói as mulheres

Agência France-Presse
postado em 29/06/2018 10:25
médicoDohuk, Iraque - Em um templo sagrado da minoria yazidi do Iraque, o conhecido ginecologista congolês Denis Mukwege elogia o chefe religioso desta comunidade, perseguido pelos jihadistas por ter proibido que as mulheres usadas como escravas sexuais pelo grupo Estado Islâmico (EI) sejam estigmatizadas.

Os yazidis, uma minoria de fala curda adepta a uma religião esotérica monoteísta, foram alvo no Iraque do ódio dos jihadistas que empreenderam contra eles uma campanha qualificada de "genocídio" pela ONU.

Em 2014, o Estado Islâmico matou milhares de yazidis em seu bastião do monte Sinjar, e sequestrou milhares de mulheres e adolescentes para torná-las escravas sexuais.

O doutor Mukwege viajou ao Iraque convidado por Yazda, uma ONG criada em 2014 para ajudar as yazidis traumatizadas.

No pátio do templo de Lalish, cerca de 60 km ao norte da cidade de Mossul (norte), Denis Mukwege aperta a mão do xeque Baba, de barba branca e sentado em um colchão.

"Vim aqui para conhecê-lo porque em muitas comunidades as mulheres são excluídas, estigmatizadas após terem sido estupradas", explica à AFP este ginecologista, apelidado "o homem que conserta as mulheres".

Denis Mukwege luta para devolver a dignidade às mulheres vítimas de estupro nas guerras, sobretudo na República Democrática do Congo (RDC). Denuncia o estupro como "arma barata e eficaz" que destrói as mulheres e mergulha a sociedade na indiferença.

"O xeque Baba disse que (...) as mulheres não deveriam ser estigmatizadas depois do que aconteceu com elas", e graças à sua tomada de posição "as yazidis podem testemunhar (...) e, como mulheres, romper o silêncio".


"Unir forças"

Segundo o Ministério de Assuntos Religiosos da região autônoma do Curdistão iraquiano, mais de 6.400 yazidis foram sequestradas em 2014 pelo EI. Cerca de 3.200 foram resgatadas ou conseguiram fugir.

Embora o EI tenha perdido quase todo o território conquistado no país, se desconhece o paradeiro das demais yazidis, muitas delas reduzidas a escravas sexuais.

"Venho compartilhar nossas experiências. Há muitas coisas que podemos aprender e o mundo deve conhecer os estupros que sofreram, porque o que aconteceu é um genocídio", explica o doutor Mukwege.

O ginecologista congolês fundou na RDC um hospital e uma fundação para atender as vítimas do estupro como arma de guerra.

"Somos uma pequena organização, mas na minha clínica tratamos 50.000 mulheres, e também vim unir forças para lutar contra o estupro como arma de guerra. Quando acontece algo assim não se deve dizer: é Iraque, Congo, Colômbia ou Coreia, é preciso dizer que é a Humanidade foi maltratada", insiste o médico.

Na segunda-feira, o ginecologista participou em uma oficina de trabalho em Dohuk, no Curdistão, para transmitir seu saber aos que trabalham na reabilitação das yazidis estupradas.

Graças a esta formação, sabemos o que fizeram no Congo para depois "aplicá-lo em nossa comunidade através de apoio médico, psicossocial, legal e meios de subsistência" a estas mulheres, explica Nagham Alawka, da ONG Yazda.

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