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Atirador do jornal nos EUA queria fazer massacre

Um estudo recente mostrou que os americanos têm 40% das armas disponíveis no mundo, apesar de representarem apenas 4% da população mundial

Agência France-Presse
postado em 29/06/2018 18:04
Um estudo recente mostrou que os americanos têm 40% das armas disponíveis no mundo, apesar de representarem apenas 4% da população mundial
O homem que invadiu com uma escopeta, na quinta-feira, 28/6, o jornal The Capital Gazette, na cidade americana de Annapolis, queria fazer um massacre, aparentemente motivado por desejos de vingança, disseram autoridades nesta sexta-feira.

[SAIBAMAIS]O ataque, que o presidente Donald Trump condenou como "horrível", deixou cinco mortos, incluindo quatro jornalistas.

O suposto autor do massacre, identificado como Jarrod Ramos, de 38 anos, residente de Laurel, Maryland, um subúrbio de Washington DC, foi indiciado formalmente, nesta sexta-feira, 29/6, por cinco acusações de homicídio doloso, em uma audiência na qual o juiz ordenou que ele ficasse detido sem direito a liberdade sob fiança.

"Alega-se que Ramos executou uma brutal série de ataques contra vítimas inocentes", disse a jornalistas o promotor do condado, Wes Adams, após apontar uma "evidência" que sugere um planejamento de seus atos, como "a barricada para bloquear uma porta de saída e o uso de um posicionamento tático para perseguir e disparar".

Ele pretendia "matar o maior número de pessoas possível" e para isso usou uma escopeta comprada legalmente "há um ano ou mais", disse o chefe de polícia do condado de Anne Arundel, Timothy Altomare.

A polícia confirmou que Ramos estava há anos ressentido com o Capital Gazette pela publicação de uma coluna sobre seu suposto assédio a uma mulher. Por causa desse conteúdo, Ramos processou o jornal em 2011 por difamação, mas perdeu o caso na primeira instância e depois na apelação.

Ramos foi identificado graças a técnicas de reconhecimento facial usando a base de dados de Maryland, pois ele já havia estado em contato com a polícia, que investigou em 2013 ameaças na internet contra o Capital Gazette, disse Altomare.

Na época o jornal preferiu não apresentar queixa por "medo" de piorar a situação, acrescentou.

O ataque foi um dos piores contra jornalistas nos EUA, e é o último episódio da epidemia de violência armada vivida nos Estados Unidos, após os ataques a tiros em escolas, em fevereiro na Flórida e em maio no Texas.

Não temos palavas

"Não temos palavras", é o breve e único texto que se lê em uma página editorial praticamente em branco no jornal "The Capital", a edição impressa do periódico digital "Capital Gazette".

A edição busca homenagear as vítimas, mas garante que "amanhã esta página voltará a cumprir seu firme propósito de oferecer aos nossos leitores opiniões informadas sobre o mundo ao seu redor, para que possam ser melhores cidadãos".

O responsável pela parte editorial, Gerald Fischman, está entre os mortos.

O titular da primeira página sobre o tiroteio ocorrido na capital do estado de Maryland, Annapolis, cobria os aspectos básicos do fato, sem incluir um único adjetivo.

"Cinco mortos por disparos no The Capital", diz a manchete na capa, sob as fotos dos cinco mortos - quatro jornalistas e um assistente de vendas. Duas pessoas ficaram feridas.

Membros da equipe do jornal que sobreviveram ao tiroteio - executado por um homem que, segundo se descreveu, tinha uma longa batalha contra o jornal - trabalharam fora da sede após o dramático episódio, fosse um estacionamento, ou mesmo a parte de trás de uma picape.

Nesta edição, além da cobertura geral sobre sua própria tragédia, estão os perfis dos cinco mortos, em mais um capítulo da epidemia de violência armada que atravessa os Estados Unidos.

Ação por difamação

As autoridades descreveram o suspeito do ataque - que foi detido e está sendo interrogado - como um homem branco armado com um fuzil, ou uma escopeta e que, aparentemente, agiu sozinho.

O atirador, Jarrod Ramos, de 38 anos, processou o jornal há alguns anos por uma matéria que o relacionava a um caso de assédio.

Um artigo publicado no site do Capital Gazette em 22 de setembro de 2015 cita uma decisão favorável ao jornal em uma ação por difamação iniciada em 2011 por Jarrod Ramos, residente em Laurel (Maryland).

"Foi um ataque direcionado contra o Capital Gazette", confirmou o chefe de polícia do condado de Anne Arundel, Bill Krampf, à imprensa.

No Twitter, o repórter do jornal Phil Davis fez um relato arrepiante de como o "atirador disparou através de uma porta de vidro na redação contra vários funcionários".

O editor Rob Hiaasen, conhecido por ser o mentor de vários jornalistas, está entre as vítimas, segundo o jornal The Baltimore Sun, proprietário do Capital Gazette.

O ataque reavivou as lembranças de um incidente ocorrido em 2015 em Roanoke, na Virgínia, no qual dois jornalistas foram assassinados durante uma transmissão ao vivo de um canal local de TV.

"Meus pensamentos e orações estão com as vítimas e suas famílias. Obrigado a todos dos Primeiros Socorros, que estão atualmente no local" dos disparos, escreveu o presidente Donald Trump, em mensagem de apoio postada no Twitter.

Vários legisladores protestaram, fazendo apelos pelo fim da violência armada.

Um estudo recente mostrou que os americanos têm 40% das armas disponíveis no mundo, apesar de representarem apenas 4% da população mundial.

Das 857 milhões de armas que os civis possuem, 393 milhões estão nos Estados Unidos - mais do que aquelas nas mãos de todos os cidadãos comuns em outros 25 países somados, de acordo com a Small Arms Survey.

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