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Bruxelas inaugura parque para refletir sobre estigmas da colonização

Parque presta homenagem a Patrice Lumumba, belga assassinado durante processo de colonização do Congo

Agência France-Presse
postado em 30/06/2018 09:30
Bruxelas, Bélgica - Bruxelas inaugura neste sábado (30/6) o parque Patrice Lumumba em homenagem a um dos heróis da independência do ex-Congo, belga assassinado em circunstâncias confusas em 1961, num contexto de reflexão sobre os estigmas da colonização.

As associações da diáspora congolesa há anos reclamam uma homenagem a Lumumba na capital belga. Ele foi, entre junho e setembro de 1960, o efêmero chefe de governo do jovem Congo independente, a atual República Democrática do Congo.

O lugar escolhido fica perto da estação de metrô Porte de Namur, na entrada de Matongé, o bairro congolês de Bruxelas.

"Algumas associações passaram 13 anos reclamando este símbolo", explica à AFP Philippe Close, prefeito socialista de Bruxelas, que lembrou que seu conselho municipal votou a decisão em abril "por unanimidade".

É a primeira vez que um espaço público recebe o nome de Lumumba na Bélgica, onde é comum encontrar estátuas do rei Leopoldo II ou esculturas em memória dos "heróis" belgas que colonizaram o Congo.

Lumumba, patriota considerado pró-soviético pelos americanos e rejeitado nos círculos de negócios belgas, foi assassinado em 17 de janeiro de 1961 na província de Katanga, com a suposta cumplicidade da CIA e do MI6 britânico.

Uma comissão de investigação do Parlamento belga tentou, entre 2000 e 2001, esclarecer a zona cinza da relação entre o Congo e sua ex-potência colonial. Em novembro de 2001, concluiu que "certos ministros e outros atores" belgas tiveram uma "responsabilidade moral" no assassinato do líder congolês. A Bélgica pediu desculpas por isso em 2002, por meio de seu então ministro de Relações Exteriores, Louis Michel.

A historiadora Natou Sakombi considera a inauguração de um parque Lumumba uma "hipocrisia".

Para esta filha de refugiados políticos que fugiram da ditadura de Mobutu nos anos 1980, seria necessário antes reconhecer oficialmente que Lumumba "incomodava claramente" aos interesses belgas em sua ex-colônia, embora não exista nenhuma prova de que a ordem de matá-lo tenha partido de Bruxelas.

Passado problemático

"Acho que é inútil criar uma praça Lumumba, há muitas coisas que precisam ser solucionadas antes", opina Sakombi.

"Há um forte valor simbólico, mas não é o gesto que vai resolver todas as perguntas que ainda podem ser feitas sobre a colonização", admite Philippe Close.

A inauguração se dá 58 anos depois da proclamação da independência do Congo, num momento em que os debates sobre o passado colonialista belga se proliferando.

Um deles provocou a transformação do Museu Real da África Central de Tervuren, nos arredores de Bruxelas, que abriga 120 mil objetos e 10 milhões de espécies zoológicas e foi criado no século 19 por Leopoldo II para oferecer à população de seu país uma mostra dos "benefícios" da presença belga no Congo - que se estendeu a Ruanda e Burundi no século 20.

O espaço será reaberto em dezembro após cinco anos de obras e promete agora lançar um "olhar crítico" sobre a colonização. Alguns belgas defendem a restituição das obras africanas "saqueadas".

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