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Merkel e ministro alemão do Interior fecham acordo sobre imigração

O compromisso alcançado prevê que os solicitantes de asilo que cheguem à Alemanha e já estejam registrados em outros países da União Europeia (UE) sejam levados a "centros de trânsito" na fronteira e não distribuídos em locais de acolhida no país

Agência France-Presse
postado em 02/07/2018 19:39
O compromisso alcançado prevê que os solicitantes de asilo que cheguem à Alemanha e já estejam registrados em outros países da União Europeia (UE) sejam levados a
O ministro alemão do Interior, Horst Seehofer, em conflito com a chanceler Angela Merkel sobre a política migratória, anunciou nesta segunda-feira ter alcançado um acordo sobre a questão e permanecerá no cargo.

[SAIBAMAIS]Após dias difíceis e duras negociações, acredito que hoje obtivemos um bom acordo", disse à imprensa a chefe de governo, ao final do que se apresentava como a última tentativa de conciliação com Seehofer, que exigia maior firmeza nas fronteiras em relação aos solicitantes de asilo já registrados em outros países da UE.

"Após negociações intensivas" entre o partido de centro direita de Merkel, a CDU, e o conservador bávaro CSU, "chegamos a um acordo" sobre as medidas para reduzir a imigração irregular, revelou Seehofer, que preside o CSU.

O Partido Social Democrata, terceiro membro da coalizão de governo, ainda deve avalizar o acordo.

"Temos um acordo claro sobre a forma de impedir no futuro a imigração ilegal na fronteira entre Alemanha e Áustria", celebrou Seehofer ao final da queda de braço que mantinha há semanas com Merkel.

"Este acordo muito sólido, que corresponde as minhas ideias, me permite seguir dirigindo o ministério federal do Interior", declarou Seehofer, que no domingo anunciou sua demissão por não concordar com as decisões de Merkel sobre a questão migratória.

O compromisso alcançado prevê que os solicitantes de asilo que cheguem à Alemanha e já estejam registrados em outros países da União Europeia (UE) sejam levados a "centros de trânsito" na fronteira e não distribuídos em locais de acolhida no país.

Enquanto se examinam seus casos, serão enviados aos países da UE de onde chegaram, com base nos acordos administrativos concluídos com os Estados envolvidos.

O ministro do Interior defendia, a princípio, a rejeição na fronteira de todos os imigrantes registrados em outro país da UE, o que Merkel negava para evitar um "efeito dominó" no continente.

Delírio do ego

A frágil coalizão formada a duras penas em março, reunindo a direita bávara, os democrata-cristãos da CDU e os socialdemocratas, estava sob ameaça. Assim como a aliança CDU-CSU formada em 1949.

Nesta segunda-feira, 2/7, a dirigente social democrata Andrea Nahles chegou a acusar o campo conservador, em geral, "de irresponsabilidade", e a CSU, em particular, de "delírio de ego".

Falando para seus correligionários no domingo, o ministro surpreendeu ao anunciar sua renúncia, pondo seu futuro político e o do governo na berlinda.

O que todas as pesquisas mostravam é que os alemães não apoiam a via do conflito escolhida pelo ministro. Segundo uma enquete do instituto Frosa para a RTL publicada hoje, 67% dos entrevistados consideram "irresponsável" a posição dos conservadores bávaros.

Merkel hesita

"Ninguém quer pôr o governo em xeque", declarou o chefe do Executivo da Bavária, Markus S;der, admitindo que, "sinceramente, Horst nos surpreendeu" com sua ameaça de demissão.

Na verdade, o conflito de Horst com Merkel tem sido quase permanente desde sua polêmica decisão de 2015 de abrir a Alemanha a centenas de milhares de candidatos ao asilo.

Há três anos, ele não se cansa de denunciar essa escolha, e sua ofensiva parece mirar na própria chanceler, vista como um obstáculo pelos conservadores mais duros.

Apesar da solução do desfecho, Angela Merkel sai no mínimo enfraquecida, menos de um ano depois de sua vitória nas legislativas.

Após quase 13 anos no poder, a chanceler é abertamente contestada em seu governo e em seu grupo político, combatida na Europa, em especial pelos vizinhos do leste e pela Áustria, e em conflito com o presidente americano, Donald Trump, em uma série de temas.

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