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Rebeldes sírios anunciam novas negociações com a Rússia

O regime sírio e a Rússia, principal aliado de Damasco, bombardearam nesta quinta-feira, 5/7, os setores rebeldes da província de Deraa

Agência France-Presse
postado em 05/07/2018 16:36
Desde 2011 fracassaram todas as iniciativas internacionais para encontrar uma solução à guerra na Síria, que provocou mais de 350.000 mortes
Os rebeldes do devastado sul da Síria voltarão à mesa de negociações com a Rússia, aliado do governo de Damasco, informou um porta-voz da oposição depois de um dia de bombardeios contínuos sem precedentes contra suas posições.

[SAIBAMAIS]"As conversas serão retomadas", informou à AFP Hussein Abazeed, porta-voz das operações rebeldes no sul.

O regime sírio e a Rússia, principal aliado de Damasco, bombardearam nesta quinta-feira, 5/7, os setores rebeldes da província de Deraa, com uma intensidade que não havia sido registrada desde o início da ofensiva na região, após o fracasso das negociações com os insurgentes.

Durante toda noite de quarta-feira, 4/7, centenas de mísseis e barris de explosivos foram lançados por aviões sírios e russos em zonas rebeldes, em particular perto da cidade de Deraa, capital da província de mesmo nome, informou a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

Os bombardeios prosseguiam na manhã de quinta-feira, 5/7.

"Os aviões sírios e russos tentam transformar estas zonas em um inferno", afirmou o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman, que citou um "bombardeio histérico na província de Deraa em uma tentativa de dobrar os rebeldes depois que se recusaram a aceitar as condições russas para o fim dos combates".

Em uma das entradas de Deraa, o bombardeio foi constante durante toda a noite e o mais intenso desde o início da ofensiva em 19 de junho. As tropas de Damasco tentam recuperar o controle de toda a província, próxima da fronteira com a Jordânia e a Colinas de Golã, região em maior parte ocupada por Israel.

Nesta quinta-feira, as tropas de Damasco conseguiram assumir o controle de um posto de segurança na fronteira com a Jordânia, que era dominado pelos rebeldes há mais de três anos, segundo o OSDH.

Na cidade de Saida, oeste da província, seis civis, incluindo uma mulher e quatro crianças morreram nos bombardeios, informou a ONG.

"Esta é a noite mais dura e violenta desde o início da ofensiva do regime e das forças de ocupação russas", escreveu no Twitter o militante sírio Omar al Hariri.

"Desde o anúncio do fracasso das negociações, os bombardeios não param", afirmou à AFP Samer Homsi, de 47 anos, que fugiu da cidade de Deraa com a mulher e os quatro filhos.

A Rússia tentou convencer os rebeldes a entregar as armas, mas as negociações terminaram em fracasso.

Damasco abriu a nova frente no sul depois de consolidar seu poder ao redor de Damasco, expulsando os rebeldes e jihadistas.

Bashar al-Assad controla agora 60% do território sírio, de acordo com o OSDH. O presidente sírio combinou uma estratégia de bombardeios e negociações mediadas por Moscou para reconquistar várias regiões.

Quase 30 localidades rebeldes na província de Deraa passaram ao controle de Damasco após acordos de "reconciliação" que mais parecem atos de rendição dos insurgentes.

Moscou propôs aos rebeldes que entregassem a artilharia pesada e retornassem à vida civil ou que se alistassem nas forças pró-governo que lutam contra os jihadistas.

Mas as negociações terminaram em fracasso na quarta-feira.

Diante da atual ofensiva, a comunidade internacional se mostra impotente.

Desde 2011 fracassaram todas as iniciativas internacionais para encontrar uma solução à guerra na Síria, que provocou mais de 350.000 mortes.

A violência na região de Deraa forçou o deslocamento de entre 270.000 e 330.000 pessoas desde 19 de junho, segundo a ONU. Alguns seguiram para as fronteiras com Jordânia e Israel, mas os dois países se recusam a receber os sírios que fogem da guerra.

Na ONU, a Rússia bloqueou nesta quinta a adoção pelo Conselho de Seguranã de uma declaração sobre a situação no sudoeste da Síria, segundo diplomatas após uma reunião de emergência convocada pela Suécia e Kuwait.

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