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Renúncia do ministro britânico para o Brexit é um golpe para Theresa May

Segundo a imprensa britânica, também se demitiu o secretário de Estado para o Brexit, Steve Baker

Agência France-Presse
postado em 09/07/2018 06:45
Em sua primeira entrevista após a demissão, Davis afirmou à rádio BBC que não pretendia provocar a queda de May, nem liderar um levante

Londres, Reino Unido - O ministro britânico para o Brexit, David Davis, renunciou ao cargo no domingo (8/7), um duro golpe para a premiê, Theresa May, que tenta unir seu partido em torno de um plano para manter fortes laços econômicos com a União Europeia após sair do bloco.

"A direção-geral da política nos deixará, na melhor das hipóteses, em uma posição frágil de negociação", disse Davis, em carta dirigida a May.

Em sua primeira entrevista após a demissão, Davis afirmou à rádio BBC que não pretendia provocar a queda de May, nem liderar um levante.

"É uma boa primeira-ministra", declarou Davis, embora tenha manifestado a esperança de que sua renúncia sirva para "pressionar para que não se façam mais concessões" a Bruxelas.

Segundo a imprensa britânica, também se demitiu o secretário de Estado para o Brexit, Steve Baker.

As duas renúncias ocorrem dois dias depois de o Executivo aprovar um plano para desbloquear as negociações com Bruxelas.

[SAIBAMAIS]Para Davis, o plano "fará com que o suposto controle do Parlamento seja mais uma ilusão que uma realidade".

E foi especialmente crítico à proposta de um "regulamento comum" para permitir o livre comércio de bens, ao considerar que "se entrega à UE o controle de amplos setores da nossa economia, e claramente não nos devolve o controle de nossas leis em nenhum sentido real".

Para Davis, seu cargo demandaria que fosse "um entusiasta, crente do enfoque" de May, "e não só um recruta reticente".

May respondeu em uma carta que seu plano para o Brexit "significará, sem dúvida, o retorno de poderes de Bruxelas ao Reino Unido" e que está em linha com seu compromisso de abandonar o mercado único europeu e a união alfandegária.

"Gostaria de agradecê-lo sinceramente por tudo o que fez nos dois últimos anos como ministro para dar forma à nossa saída" da União Europeia, disse May.

Brexit só "no nome"

Davis, um eurocético de longa data, foi designado há dois anos para dirigir o recém-criado Departamento para a Saída da União Europeia depois que os britânicos votaram em um referendo a favor de deixar o bloco.

Tornou-se a face do Brexit, ao liderar as delegações britânicas nas conversações com Bruxelas, ainda que seu papel tenha sido ofuscado nos últimos meses, à medida que May e seus assistentes assumiam um papel maior na estratégia de negociação.

O ministro, de 69 anos, teria supostamente ameaçado se demitir várias vezes por considerar que a posição britânica não era firme o suficiente, mas em público sempre se manteve leal à primeira-ministra.

May tem previsto discursar no Parlamento na segunda-feira para explicar seu plano de que o Reino Unido adote normas europeias sobre o comércio de bens, o que irrita os deputados de seu próprio partido, que querem uma ruptura clara com a Europa, e os empresários, que acreditam que a proposta ainda provocará prejuízos econômicos.

O deputado conservador Peter Bone avaliou que Davis "fez o certo", ao considerar que as propostas de May não tinham de Brexit "mais que o nome" e que "não são aceitáveis".

Ian Lavery, presidente do Partido Trabalhista, principal partido da oposição, considerou que "isto é um caos absoluto e Theresa May não tem mais autoridade".

O plano de May previa a criação de uma zona de livre comércio de bens com a UE, o que serviria para proteger alguns setores, como o manufatureiro, ao mesmo tempo em que se mantém a flexibilidade para o setor de serviços, dominante no Reino Unido.

Não está claro se Bruxelas vai aceitar este plano, depois de ter advertido repetidamente o Reino Unido que não pode escolher algumas partes do mercado único.

Davis, de 69 anos, é um velho conhecedor da política britânica. Foi secretário de Estado para Assuntos Europeus entre 1994 e 1997, e em 2005 se apresentou à direção do Partido Conservador, mas foi derrotado por David Cameron.

Durante a campanha para o referendo sobre o Brexit, foi um claro defensor da saída britânica da UE.

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