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Londres detalha plano para o Brexit que provocou crise no governo

Londres pretende acabar com a liberdade de movimento europeia, mas estaria disposta a receber estudantes e imigrantes capacitados

Agência France-Presse
postado em 12/07/2018 10:35
Londres pretende acabar com a liberdade de movimento europeia, mas estaria disposta a receber estudantes e imigrantes capacitadosA primeira-ministra britânica, Theresa May, publicou nesta quinta-feira o muito aguardado "livro branco" do Brexit sobre as futuras relações com a União Europeia (UE), um documento que provocou a renúncia de dois ministros eurocéticos no início da semana.

E para completar o cenário, o presidente americano Donald Trump também colocou em dúvida se a proposta de May para o Brexit é a mesma votada pelos britânicos, enquanto uma porta-voz da City chamou o plano de "duro golpe" ao setor financeiro, que será traduzido em demissões.

May se defendeu e afirmou que um acordo com os sócios europeus "requer pragmatismo e compromisso de ambas as partes", em uma introdução a este documento, que pretende propor a Bruxelas a criação de uma área de livre comércio para bens e um conjunto de normas comuns.

[SAIBAMAIS]O Reino Unido ainda planeja abandonar o mercado único europeu e a união alfandegária, além de traçar o próprio caminho para seu grande setor de serviços, com a esperança de alcançar os próprios acordos de livre comércio com terceiros países e controlar a entrada de imigrantes europeus.

Londres pretende acabar com a liberdade de movimento europeia, mas estaria disposta a receber estudantes e imigrantes capacitados.

Além disso, Londres quer evitar o sistema judicial europeu. Os litígios entre Reino Unido e os 27 países da UE seriam solucionados nos tribunais britânicos, caso aconteçam no país, e nas cortes europeias quando acontecerem fora.

Para o setor financeiro, o plano prevê uma "associação mais flexível" com a UE, ao invés da proposta original do governo de "um reconhecimento mútuo" das regras britânicas e europeias após a saída do bloco em março de 2019, segundo o Financial Times.

Embora o plano envolva os territórios de ultramar, um porta-voz do governo explicou que o caso de Gibraltar, no sul da península ibérica, exigirá negociações adicionais. Bruxelas concedeu direito de veto a Espanha sobre o acordo final caso Madri não concorde com este ponto.

"Não estamos garantindo que teremos um relacionamento feito sob medida com a UE", disse o ministro para o Brexit, Dominic Raab, nomeado na segunda-feira no lugar de David Davis, à BBC.

"É uma proposta confiável. É ousada, ambiciosa, mas também é pragmática", completou.

O plano gerou a indignação dos eurocéticos e provocou o pedido de demissão do ministro das Relações Exteriores, Boris Johnson, e de outros membros do gabinete, atiçando a possibilidade de uma rebelião conservadora para derrubar May.

Em sua despedida, Johnson afirmou que o sonho do Brexit "está morrendo" com este plano. "Nos dirigimos verdadeiramente para o status de colônia da UE", escreveu Johnson em sua carta de demissão a May.

O presidente americano, Donald Trump, também falou sobre o tema.

Antes de viajar a Londres para uma visita de quatro dias, Trump disse duvidava que a proposta de May para o Brexit fosse a mesma que os britânicos tinham em mente quando votaram no referendo de junho de 2016.

"Não sei se votaram nisso. As pessoas votaram para se separar (da União Europeia), por isso imagino que é isso o que farão, mas talvez tomem um caminho diferente", comentou Trump em uma coletiva de imprensa em Bruxelas, após uma reunião da Otan.

Também não está claro se Bruxelas vai aceitar a relação "sob medida", que poderia levar outros países a abandonar a UE e reclamar algo similar. O bloco já advertiu Londres a reduzir suas expectativas.

"Certamente os 27 estão abertos a um compromisso, mas não a um que abale os principais pilares do mercado único", disse uma fonte europeia que pediu anonimato.

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