Agência France-Presse
postado em 13/07/2018 12:32
Londres, Reino Unido -Na tentativa de acabar com a polêmica criada por seus comentários em uma entrevista, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, elogiou nesta sexta-feira (13) a primeira-ministra britânica, Theresa May, que anunciou que seus países vão buscar um acordo de livre-comércio depois do Brexit.
Trump e May andaram de mãos dadas pelos últimos metros até o pódio de sua coletiva de imprensa em Chequers, a casa de campo da primeira-ministra nos arredores de Londres.
"Faça o que fizer, tudo bem", disse o magnata a May, em um tom conciliador depois de ter criticado sua estratégia de negociação no Brexit em uma entrevista ao The Sun, alegando que impossibilitava um acordo comercial com os Estados Unidos, além de elogiar seu rival político Boris Johnson.
"Esta senhora", acrescentou, voltando-se para ela, "é uma mulher incrível que está fazendo um trabalho incrível".
"Ela é uma negociadora durona. Eu a tenho observado nos últimos dois dias, e ela é uma pessoa muito, muito inteligente e determinada", reforçou o republicano. "Prefiro tê-la como amiga", concluiu.
Sobre a relação bilateral, Trump garantiu que "é especial em seu maior grau".
De sua parte, May anunciou que os dois países buscarão um "acordo ambicioso de livre-comércio" depois da saída da Grã-Bretanha da União Europeia.
"Nenhum outro país faz mais do que nós para manter seu povo seguro e próspero", declarou.
"E queremos aprofundar essa cooperação ainda mais", sentenciou.
Em uma entrevista ao jornal The Sun, que começou a ser divulgada na quinta-feira à noite, quando May presidia um jantar de gala em homenagem a Trump, o presidente disse que Boris Johnson seria "um grande primeiro-ministro" e que os planos da premiê de manter vínculos com a União Europeia após o Brexit impossibilitam um acordo comercial com os Estados Unidos. Declarou ainda tê-la aconselhado a negociar com Bruxelas de um modo, e ela fez o contrário.
Além disso, acusou o prefeito de Londres, Sadiq Khan, de ter feito um trabalho "terrível" contra o terrorismo, um ano depois da onda de atentados de 2017.
Sobre o Brexit, "teria feito isto de maneira muito diferente. De fato, disse à Theresa May como fazê-lo, mas ela não concordou, não me escutou. Tomou outro caminho", afirmou Trump, para quem a proposta de May não respeita o que os britânicos decidiram no referendo sobre a UE de junho de 2016.
- Oposição defende May -
A intromissão de Trump sobre o plano de May para resolver o principal tema doméstico e internacional de seu governo ocorreu em um momento de fragilidade política de Londres.
A oposição defendeu Theresa May.
"É extraordinariamente grosseiro por parte de Trump comportar-se desta maneira", disse a vice-líder do Partido Trabalhista no Parlamento, Emily Thornberry.
"O que sua mãe ensinou?", questionou, antes de pedir que May o enfrente.
Anthony Gardner, que foi o embaixador americano na União Europeia durante o governo do presidente Barack Obama, afirmou que as declarações "são um ataque sem precedentes a um aliado durante uma visita oficial".
Trump "está fora de controle e é um constrangimento", completou.
- Protestos -
Em meio à visita, milhares de pessoas se reuniram em Londres nesta sexta-feira para protestar.
"Este é o carnaval da resistência" e "Minha mãe não gosta de você, e ela gosta de todo mundo", eram alguns dos cartazes carregados pelos manifestantes que avançavam pela Oxford Street com destino à Trafalgar Square.
"Não a Trump, não à Ku Kux Klan, não aos EUA fascistas", gritavam, batendo panelas, ou tocando trombetas.
"Donald Trump é misógino, machista, homofóbico, xenófobo, promove a intolerância... e tem mãos pequenas", disse uma manifestante, Georgina Rose, de 42 anos, usando uma piada comum sobre o presidente e empresário.
A imagem do dia era, no entanto, o grande balão representando Trump como um bebê de fraldas que flutuou no céu perto do Parlamento por algumas horas, com a aprovação do prefeito Sadiq Khan.
A parte oficial da visita de Trump ao Reino Unido, sua primeira como presidente, termina nesta sexta-feira com um encontro para o chá com a rainha Elizabeth II, antes de viajar para a Escócia para passar o fim de semana em privado.
No domingo, ele viajará para Helsinque para uma cúpula com o presidente russo, Vladimir Putin, na segunda-feira (16).
Esta questão foi, inclusive, citada na coletiva de imprensa com May. "Ninguém foi mais firme com a Rússia", vangloriou-se Trump.
Sobre o encontro com Putin disse não ter "grandes expectativas": "Não vou com grandes expectativas, mas talvez haja surpresas".