postado em 17/07/2018 16:06
Washington, Estados Unidos -O presidente Donald Trump afirmou nesta terça-feira, 17/7, que aceita a conclusão dos órgãos de inteligência sobre a ingerência russa nas eleições de 2016, em uma tentativa de apagar o incêndio político provocado por suas declarações da véspera sobre o tema.
[SAIBAMAIS]"Aceito a conclusão da nossa comunidade de Inteligência de que a ingerência da Rússia nas eleições de 2016 ocorreu", declarou Trump na Casa Branca.
Em entrevista coletiva depois do encontro com o presidente russo, Vladimir Putin, Trump havia dito que não via "razões" para que a Rússia exercesse ingerência nas eleições, ignorando a convicção dos órgãos americanos de inteligência.
Este episódio deixou Trump praticamente isolado nos Estados Unidos, e ele se tornou alvo de uma avalanche de críticas pesadas de aliados e adversários.
Nesta terça-feira, em uma tentativa de apaziguar a crise, Trump alegou que se "expressou mal" na entrevista coletiva com Putin.
"Eu disse que não via nenhuma razão para que tivesse sido a Rússia, mas queria ter dito que não havia razões para que não fosse, mas achei que não seria tão claro com uma dupla negativa", explicou Trump.
Admitiu, mas nem tanto
Até mesmo a suposta aceitação de Trump das conclusões de inteligência sobre a ingerência russa foi questionada nesta terça-feira, por ele ter acrescentado que essa intromissão nas eleições "pode ter sido por outras pessoas, também". "Há muita gente por aí".
Embora o presidente ainda admita a possibilidade de ingerência de Moscou, ele ressalta que "as ações da Rússia não tiveram qualquer impacto no resultado" das eleições.
Na manhã desta terça-feira, em meio à chuva de críticas, Trump afirmou no Twitter que sua reunião com Putin foi "ainda melhor" do que a cúpula com chefes de Estado da Otan, realizada na última sexta-feira, 13/7, em Bruxelas.
Hoje a tensão em Washington era tamanha que o senador conservador Bob Corker disse em um tuíte que "chegou o momento de o Congresso se colocar de pé e recuperar a nossa autoridade".
Em uma posição mais delicada, o presidente da Câmara de Representantes, Paul Ryan, disse em uma entrevista coletiva que "é muito claro" que a Rússia interferiu nas eleições presidenciais de 2016.
"Eu entendo o desejo de que tenhamos boas relações. É perfeitamente razoável. Mas a Rússia é um governo ameaçador que não compartilha nossos interesses e tampouco compartilha nossos valores", declarou Ryan.
Olhar desastroso
A sutileza de Ryan foi deixada de lado pelo consultor Anthony Scaramucci, que em 2017 foi responsável pela comunicação da Casa Branca por uma semana, antes de ser demitido por seus comentários grosseiros.
De acordo com Scaramucci, Trump "tem que mudar de rumo imediatamente", "precisa sair de onde está imediatamente".
"O olhar sobre essa situação é um desastre", admitiu o ex-funcionário, que diz ainda ser leal a Trump.
O legislador republicano Adam Kizinger, por sua vez, declarou à imprensa que "foi realmente um mau dia para o presidente. Foi uma entrevista coletiva vergonhosa".
Para Kizinger, Trump deve enviar uma mensagem direta ao país sobre o que pensa, e não pelo Twitter.
Apenas um senador republicano partiu em defesa de Trump. Rand Paul, líder da corrente "libertária" do partido Republicano e que já se opôs a diversas iniciativas de lei da Casa Branca por considerar que não são conservadoras o suficiente.
Para Paul, aqueles que criticam o presidente são anti-Trump. "Todos são motivados por seu persistente e constante sentimento contra o presidente", avaliou.
Em resposta, Trump voltou ao Twitter para fazer um agradecimento especial: "Obrigada, Rand Paul! Realmente, você entendeu corretamente", escreveu.
Sobre a cúpula da Otan, realizada nesta sexta-feira em Bruxelas, Trump afirmou nesta terça que os países-parte do bloco "pagarão centenas de milhões de dólares a mais no futuro (em gasto militar), graças somente a mim".
"A imprensa só diz que eu fui descortês com os outros líderes, mas nunca mencionam o dinheiro".