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Macron fracassa na tentativa de abafar escândalo envolvendo segurança

Esta crise política é a mais grave que Emmanuel Macron enfrenta desde que foi eleito, em 2017

Agência France-Presse
postado em 25/07/2018 16:57
A foto mostra o chefe de Segurança, Alexandre Benalla ao lado de Vincent Crase, também segurança de Macron agredindo um protestante, no dia primeiro de maio em Paris
Paris, França - O presidente francês, Emmanuel Macron, assumiu a responsabilidade pelo caso envolvendo um de seus chefes de segurança, que agrediu dois manifestantes durante um protesto, mas não conseguiu calar as críticas que seguiam denunciando a maneira como tem lidado com o chamado "Benallagate".

[SAIBAMAIS]"O responsável sou eu. Quem confiou em Alexandre Benalla fui eu, o presidente da República", declarou Macron na terça-feira à noite, 24/7, para deputados aliados e membros do governo em Paris, rompendo o silêncio mantido desde a quarta-feira passada quando veio à tona o caso envolvendo Alexandre Benalla, um de seus homens de confiança.

Nesta quarta, 25/7, Macron também acusou os meios de comunicação de publicarem "muitas besteiras". "Vocês disseram nos últimos dias muitas besteiras sobre supostos salários, vantagens. Tudo isso é falso", lançou a jornalistas da BFMTV e CNEWS.

Benalla, de 26 anos, agrediu dois manifestantes para dispersar um protesto em uma praça de Paris em 1; de maio, usando capacete e braçadeira da Polícia. O caso veio à tona na quarta-feira passada, depois que o jornal Le Mende divulgou um vídeo filmado por testemunhas da agressão.

O assessor de segurança de Macron, que inicialmente havia sido punido com suspensão de 15 dias sem vencimentos, foi demitido e acusado de violência em concentração e usurpação de funções, depois que a imprensa revelou o caso, quase três meses após os fatos.

"O que aconteceu em 1; de maio [...] foi grave, sério e uma decepção para mim, uma traição", revelou o chefe de Estado.

O presidente centrista de 40 anos, cuja popularidade despencou após o escândalo, chegando a 32%, quis deixar claro que não tinha a intenção de se esquivar do caso, como afirmam seus críticos.

"Não se pode ser chefe apenas quando as coisas saem bem para você (...) Respondo perante o povo francês".

Mas sua contra-ofensiva para tentar acabar com o escândalo não convenceu a oposição, que criticava nesta quarta-feira o fato de o chefe de Estado falar diante de seus partidários e não perante todos os franceses.

"Eu gostaria que ele se dirigisse à França e aos franceses. O presidente não deve falar aos deputados do LREM, mas aos franceses, que são os que deram a sua legitimidade", declarou o presidente do Senado, Gérard Larcher.

O presidente do partido conservador Os Republicanos no Senado, Bruno Retailleau, denunciou por sua parte o que considerou "um corte de mangas à oposição, à imprensa e aos franceses". "Que reserve o furo (de suas declarações) apenas aos seus é algo muito desconcertante", opinou.

O porta-voz do governo, Benjamin Griveaux, assegurou nesta quarta-feira que o governo "aprenderá todas as lições" deste caso, mas negou que seja um "escândalo de Estado", como a oposição afirma.

"Construir uma República exemplar", como Macron prometeu quando assumiu o cargo, "não significa ter prometido uma República infalível", acrescentou.

Esta crise política é a mais grave que Emmanuel Macron enfrenta desde que foi eleito, em 2017.

"Um colaborador do chefe de Estado agredir manifestantes é a verticalidade do poder em sua manifestação mais crua, especialmente quando, inicialmente, o macronismo defendia uma horizontalidade da sociedade civil", apontou o historiador Christophe de Voogd em uma entrevista ao jornal Le Figaro.

"Pensávamos que o Eliseu com Macron era um modelo de organização eficaz e descobrimos de súbito enormes problemas de funcionamento", explicou o cientista político Bruno Cautr;s.

Este caso "marcará um antes e um depois para Emmanuel Macron", acrescentou o especialista do Centro de Pesquisa Política do centro universitário Science Po.

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