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Seis crianças brasileiras seguem em abrigos dos EUA, separadas dos pais

Segundo o cônsul-geral adjunto do Brasil em Houston, quatro das 10 crianças brasileiras que estavam nessa situação no país foram liberadas

Jorge Vasconcelos
postado em 27/07/2018 15:25
Manifestantes protestam contra política migratória de Trump:
Seis crianças brasileiras detidas pelas autoridades de imigração dos Estados Unidos continuam em abrigos norte-americanos, separadas de seus pais. Segundo nota do Ministério das Relações Exteriores (MRE), emitida na quinta-feira (27/7), 10 menores se encontravam em abrigos nos EUA, sendo quatro em Chicago e seis em Houston. Porém, o cônsul-geral adjunto do Brasil em Houston, Felipe Costi Santarosa, disse ao Correio que, naquela cidade, o número havia sido reduzido a dois.

Nas duas últimas semanas, segundo o Itamaraty, 39 menores brasileiros foram liberados e reintegrados às famílias, e há "vários outros processos de reunificação familiar em fase de finalização". O MRE sustenta que tem feito chegar ao governo americano, em diferentes momentos, "seu firme desagrado com uma prática que considera cruel e em franca violação de instrumentos internacionais de proteção aos direitos das crianças".

Para o cônsul Santarosa, a situação representa um avanço significativo. "Considerando-se que o número de crianças e adolescentes brasileiros nos abrigos chegou a 56, podemos dizer que houve um grande avanço no esforço para solucionar essa questão", afirma o diplomata, que se diz confiante de que todos encontrarão suas famílias.


Pressão da Justiça

A Justiça dos Estados Unidos deve elevar a pressão sobre o governo do presidente Donald Trump, após o descumprimento do prazo para reunir milhares de crianças estrangeiras com os pais e mães, de quem foram separadas pela política de ;tolerância zero; à imigração ilegal.

Quando venceu o prazo dado por um juiz da Califórnia, na quinta-feira, às 22h (19h em Brasília), a Casa Branca já tinha admitido que, de um total de 2.551 menores amparados pela ordem judicial, 711 eram considerados "inelegíveis" para a reunião: os laços familiares não puderam ser confirmados, os pais tinham antecedentes criminais ou eram portadores de doença contagiosa, ou ainda não puderam ser localizados.

A lentidão das autoridades dos EUA e a deportação sumária de alguns pais dificultaram o cumprimento do prazo estipulado pelo juiz federal Dana Sabraw. Nesta semana, advogados do governo reconheceram nos tribunais que nem todas as famílias seriam reunidas a tempo.

As polêmicas separações começaram em maio, no âmbito da política de ;tolerância zero; do presidente Donald Trump. Os migrantes que entravam no país pela fronteira sul, ilegalmente ou pedindo asilo, eram detidos e processados em massa. Consequentemente, milhares de crianças foram separadas dos pais ou tutores e enviados a albergues em todo o país.

Essa política gerou uma onda de críticas dentro e fora dos EUA, especialmente após a difusão de um áudio ; supostamente gravado em um abrigo ; no qual se ouvem crianças pequenas chorando e chamando pelos pais, que na maioria procuravam fugir da violência das gangues da América Central.

Ritmo lento

O governo Trump anunciou o fim da política de separações após aplicá-la por seis semanas, permitindo a reunião de centenas de famílias. No entanto, o ritmo tem sido lento, pois muitos pais e menores foram detidos e levados para diferentes partes do país, às vezes, a milhares de quilômetros de distância. Alguns adultos foram deportados sem os filhos.

Segundo boletim do governo americano, dos 711 menores considerados ;inelegíveis;, 431 já poderiam estar fora dos Estados Unidos, alguns voluntariamente, o que complica enormemente qualquer reunião com seus filhos.

;Os outros casos, incluindo os daqueles que podem não estar nos EUA, não serão reunidos antes do prazo;, disse Adam Isacson, da ONG Escritório de Washington para a América Latina (Wola). ;Caberá ao juiz Sabraw decidir se aprova isso ou não.; Consultada sobre como o governo lidará com filhos de pais que foram deportados, a secretária de Segurança Interna, Kirstjen Nielsen, respondeu: ;Se os pais nos indicam que querem ser reunidos, logicamente que trabalharemos com eles.;

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