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Empresários colaboram com a Justiça em escândalo de propinas na Argentina

Vários empresários, entre eles um primo do presidente Mauricio Macri, começaram a colaborar com a Justiça argentina no escândalo de pagamento de propinas durante os governos de Néstor e Cristina Kirchner

Agência France-Presse
postado em 06/08/2018 16:18
A investigação surgiu a partir da informação sobre supostas cobranças de subornos registrada em oito cadernos pelo motorista de um ex-funcionário do Ministério de Planejamento
Buenos Aires, Argentina - Vários empresários, entre eles um primo do presidente Mauricio Macri, começaram a colaborar com a Justiça argentina no escândalo de pagamento de propinas durante os governos de Néstor e Cristina Kirchner (2003-2015), pedindo para serem protegidos pela condição de "arrependidos", o que lhes permitirá ficar em liberdade.

O empresário Ángelo Calcaterra, primo do presidente, se apresentou espontaneamente à Justiça e admitiu ter ordenado o pagamento de propinas, segundo fontes judiciais. O juiz do caso, Claudio Bonadio, já realizou 16 prisões e 20 acusações de delitos. A ex-presidente e atual senadora Cristina Kirchner foi convocada a depor em 13 de agosto.

A investigação surgiu a partir da informação sobre supostas cobranças de subornos registrada em oito cadernos pelo motorista de um ex-funcionário do Ministério de Planejamento - responsável pela gestão das obras públicas nos três governos kirchneristas.

O juiz Bonadio ordenou mais de 20 operações de busca e apreensão na quarta-feira passada, que acabaram com a detenção de oito empresários e oito ex-funcionários. Ele também pediu autorização do Senado para fazer operações na casa de Cristina Kirchner. Os parlamentares vão debater o pedido nesta terça-feira.

Os registros do motorista sobre supostos pagamentos de propinas correspondem a um período de dez anos, entre 2005 e 2015.

Arrependidos

Calcaterra se apresentou voluntariamente nesta segunda-feira e se declarou arrependido. Admitiu ao juiz ter pagado propinas quando era dono da construtora IECSA. Com isso, ele foi acusado no caso, mas com isenção de prisão.

A IECSA foi fundada por Franco Macri, pai do presidente, e cresceu como beneficiária de grandes obras públicas. Em 2007, transferiu-a a seu sobrinho Calcaterra, primo do presidente. "O que está acontecendo representa uma mudança enorme na Argentina, empresários próximos ao presidente se apresentam à Justiça, não há impunidade para ninguém", afirmou a deputada governista Elisa Carrió em mensagem no Twitter.

Embora não tenha se referido ao caso, Macri afirmou em discurso nesta segunda-feira diante de associações da sociedade civil que, em matéria de transparência e de combate à corrupção, "os resultados estão à vista". Na lista de "arrependidos" também está o ex-executivo da IECSA Javier Sánchez Caballero, preso na quarta-feira passada e liberado nesta segunda, após ser declarado colaborador da Justiça.

Na sexta-feira, Juan Carlos de Goycochea, ex-diretor na Argentina do grupo construtor e energético espanhol Isoluz Corsan, se entregou e pediu para entrar no programa de "acusado-colaborador", para o qual precisa oferecer dados significativos à investigação. Goycochea declarou ter recebido de ex-funcionários "apertos (pressões) para contribuir com as campanhas eleitorais" do kirchnerismo, segundo fontes judiciais.

Calcaterra afirmou o mesmo, e especificou que em seu caso os "aportes" foram para as campanhas eleitorais de 2013 (parlamentares) e 2015 (presidenciais, vencidas por Macri)". Quatro dos empresários presos, todos de grandes empresas, devem depor nesta segunda-feira.

No caso de pedirem para serem declarados arrependidos, o juiz pode ordenar sua libertação na mesma semana.

Cadernos

O motorista e autor das anotações, Oscar Centeno, militar da reserva, foi libertado na sexta-feira após depor como arrependido e entrar no sistema de proteção da Justiça.

Segundo o Ministério Público, os supostos subornos foram pagos pelos empresários em um sistema de arrecadação que envolvia a transferência de sacolas com dinheiro para a Casa Rosada, para a residência presidencial de Olivos, nos arredores de Buenos Aires, ou para a residência privada dos Kirchners.

Os subornos foram recebidos nas garagens de algumas empresas e, em alguns casos, das mãos dos próprios executivos, segundo as anotações de Centeno, que identifica os envolvidos por nome e sobrenome. Centeno admitiu à Justiça ser o autor dos cadernos - dos quais há apenas cópias, já que ele afirma ter queimado os originais há muito tempo.

As cópias foram entregues por um ex-policial amigo de Centeno a jornalistas do La Nación, que as entregaram à Justiça em abril passado.

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