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Para prejudicar economia, EUA retoma sanções unilaterais contra o Irã

A primeira rodada de sanções americana entrou em vigor nesta terça-feira e inclui bloqueios às transações financeiras e às importações de matérias-primas, além de medidas para impedir as compras no setor automotivo e de aviação comercial

Agência France-Presse
postado em 07/08/2018 08:46

Bandeira dos EUA retrata crânios no lugar das estrelas na avenida Karim Khan Zand, o centro de Teerã capital do país onde as sanções impostas estão provocando uma mistura de raiva, medo e desafio

Teerã, Irã - Os Estados Unidos começaram a aplicar nesta terça-feira (7/8) uma série de sanções contra o Irã para punir a economia do país, meses depois da retirada unilateral de Washington do acordo histórico sobre o programa nuclear iraniano assinado em 2015.

O presidente iraniano, Hassan Rohani, acusou Washington de "querer lançar uma guerra psicológica contra a nação iraniana e provocar divergências" entre os cidadãos do país. O presidente americano, Donald Trump, voltou a usar palavras duras a respeito do Irã, ao mesmo tempo que fez um apelo à negociação. O presidente americano afirmou que o regime iraniano tem uma opção "Pode mudar sua atitude ameaçadora e desestabilizadora e se reintegrar à economia mundial ou pode continuar na rota do isolamento econômico" e completoudizendo que continua "aberto a alcançar um acordo mais amplo que aborde toda a gama de atividades malignas do regime, incluindo seu programa de mísseis balísticos e seu apoio ao terrorismo", completou.

A primeira rodada de sanções americana, que entrou em vigor nesta terça-feira às 00H01 de Washington (01H01 de Brasília), inclui bloqueios às transações financeiras e às importações de matérias-primas, além de medidas para impedir as compras no setor automotivo e de aviação comercial.

Em novembro, uma segunda fase de sanções se concentrará no setor de petróleo e gás, assim como no Banco Central. As medidas provavelmente terão graves consequências para a economia iraniana, já castigada por uma elevada taxa de desemprego e pela inflação. A moeda do país, o rial, perdeu quase metade de seu valor desde que Trump anunciou sua decisão. "Os preços aumentaram nos últimos três ou quatro meses e tudo que precisamos ficou mais caro, mesmo antes das sanções", lamentou Yasaman, um fotógrafo de 31 anos de Teerã.

Assim como Yasaman, muitas pessoas no Irã acreditam que os dirigentes do país deveriam negociar com os Estados Unidos, país com o qual Teerã não tem relações diplomáticas desde 1980. Trump, que adotou uma atitude muito hostil a respeito do Irã desde que chegou ao poder, quer intensificar a pressão sobre Teerã para que mude de comportamento. Ele critica, entre outras coisas, o apoio do país ao presidente sírio Bashar al-Assad, aos rebeldes huthis no Iêmen e ao movimento palestino Hamas em Gaza.

A chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Federica Mogherini, disse que o bloco, assim como o Reino Unido, a França e a Alemanha, lamentam profundamente a decisão de Washington. "Estamos determinados a proteger os operadores econômicos europeus que estão envolvidos em negócios legítimos com o Irã", disse.

Novo acordo

Depois de meses de retórica violenta, na semana passada Trump surpreendeu, ao afirmar que estava disposto a se reunir com os dirigentes iranianos, sem condições prévias. Mas o ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohamad Javad Zarif, afirmou ser difícil imaginar uma renegociação do programa nuclear iraniano alcançado em 2015, após anos de negociações entre o Irã e as potências ocidentais (EUA, Reino Unido, França e Alemanha, além de Rússia e China).

O acordo tem como objetivo garantir o caráter estritamente pacífico das atividades nucleares da República Islâmica em troca do fim progressivo das sanções econômicas. Ao falar sobre a ideia de Trump de negociar, Rohani insistiu que não faz sentido propor novas conversações ao mesmo tempo que restabelece as sanções contra seu país. "Se você é um inimigo e enfia uma faca em alguém e em seguida diz que quer negociar, a primeira coisa a fazer é tirar a faca", disse Rohani em entrevista, na qual afirmou ainda que seu pais "sempre esteve aberto às negociações. "Como eles podem mostrar que são dignos de confiança? Voltando ao JCPOA", afirmou, referindo-se ao acordo nuclear concluído de 2015.

Desvalorização e protestos

O Irã registrou greves e protestos em várias cidades nos últimos dias pela falta de água e os preços elevados, ao mesmo tempo que aumenta a insatisfação com o sistema político. No entanto, as duras restrições dificultam a verificação independente das publicações divulgadas nas redes sociais a esse respeito.

Além disso, muitas grandes empresas europeias estão deixando o Irã por medo de sanções. "Pessoas ou entidades que não cancelarem suas atividades com o Irã estão em risco de sérias consequências", disse Trump na segunda-feira. Rohani abrandou as regras cambiais no domingo, permitindo a importação ilimitada de moeda estrangeira e ouro livres de impostos, assim como a reabertura de casas de câmbio após uma tentativa fracassada de fixar o valor do rial em abril, o que provocou uma grande movimentação no mercado negro.

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