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Mario Abdo Benítez toma posse e busca acordos com a oposição no Paraguai

O Atual presidente do país, Horacio Cartes, do mesmo partido, não comparecerá à cerimônia de posse

Agência France-Presse
postado em 15/08/2018 09:49
O presidente eleito paraguaio Mario Abdo Benitez e sua esposa Silvana Lopez Moreira chegam à cerimônia de posse em Assunção
Asunción, Paraguai - Mario Abdo Benítez, do Partido Colorado, assume nesta quarta-feira (15/8) a presidência do Paraguai com o desafio de estabelecer acordos com oposição, já que não possui maioria plena no Congresso. "Seu partido se encontra profundamente dividido e a oposição poderá acompanhá-lo se seus projetos forem genuínos, democráticos e se demonstrar que seu governo é de abertura", disse à AFP o líder opositor Miguel Abdón Saguier, do Partido Liberal.

O Partido Colorado tem 17 de 45 senadores e 41 dos 80 deputados. As divergências entre os colorados são tão profundas que o atual presidente do país, Horacio Cartes, do mesmo partido, não comparecerá à cerimônia de posse. O presidente do Congresso, Silvio Ovelar, vai comandar o evento.

Saguier afirmou que os opositores serão tão intransigentes como foram com Horacio Cartes "quando ele decidiu quebrar as regras institucionais para promover sua reeleição", em 2017. Em março daquele ano, manifestantes incendiaram parte do prédio do Congresso, revoltados com a manobra de senadores ;cartistas; a favor da reeleição, com a conivência de uma ala minoritária da oposição.

Os protestos terminaram com um morto e vários feridos. Cartes desistiu da emenda constitucional, mas anunciou a candidatura a senador, cargo que não vai assumir. O presidente Mario Abdo Benítez teve uma participação ativa nas manifestações contra Cartes.

"Concordamos espontaneamente antes, na defensa da democracia. Por quê não poderíamos concordar agora nos temas de interesse nacional?", questiona Saguier. A divisão entre os colorados reduz o capital político de Abdo para enfrentar os primeiros 100 dias de governo.

"Este é um tempo fundamental, importante para qualquer governo. Abdo terá que construir legitimidade", disse à AFP o analista argentino Daniel Montoya. A oposição deseja reformas fundamentais no sistema eleitoral, com base em sugestões da União Europeia. "Eu vou respeitar as instituições", disse o novo presidente algumas horas antes da posse."Quero demonstrar que meu compromisso é com o futuro da República", completou o político de 46 anos, filho do ex-secretário particular do ditador Alfredo Stroessner.
Abdo Benítez defende o aumento dos impostos para reduzir a desigualdade - a pobreza é calculada em 26,4%, de acordo com números oficiais - e uma ação para corrigir a elevada taxa de informalidade da economia do país, que alcança 40%. A cerimônia de posse em Assunção terá as presenças dos presidentes Mauricio Macri (Argentina), Michel Temer (Brasil), Tabaré Vázquez (Uruguai), Evo Morales (Bolívia), Iván Duque (Colômbia), Jimmy Morales (Guatemala) e Tsia Ing Wen (Taiwan).

Família e Carreira

Com 46 anos, graduado em marketing nos Estados Unidos, "Marito", como é popularmente conhecido, é marcado por ser de uma família muito próxima do ex-ditador Alfredo Stroessner, por isso se esforçou durante toda a campanha em provar suas credenciais democráticas e republicanas.

Seu pai foi secretário particular de Stroessner. Entre eles havia um parentesco por parte das avós. "Eu lamento a parte negra da nossa história, mas, como muitos paraguaios, acho que não deve ser uma desculpa para manter uma divisão entre compatriotas. Eu tinha 16 anos quando Stroessner caiu", afirmou recentemente. Mas esse passado foi deixado de fora de sua carreira política e da campanha eleitoral.

Divorciado de Fátima María Díaz Benza, com quem teve dois filhos, Abdo se casou novamente com Silvana López Moreira Bo, filha de uma família da alta sociedade de Assunção. Tem apenas uma irmã e sete meio-irmãos.

Afirma ter construído uma identidade própria, apesar de sua origem, tendo sido criado como um pequeno príncipe. Seu pai foi processado por enriquecimento ilícito. Foi um dos primeiros prisioneiros da democracia que se instalou após a queda de Stroessner, mas finalmente foi absolvido.

Juntou-se à militância política dentro do movimento Paz e Progresso, o lema do governo da ditadura. Em 2013, foi eleito senador e depois presidente do Congresso em 2015, ano que marcou o ponto de virada e o ponto de ruptura de suas relações com o presidente Cartes.
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