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Atacada por Trump como 'inimiga do povo', imprensa reage nos EUA

A iniciativa de contra-ataque liderada pelo jornal "The Boston Globe" se dá em um momento particular: o presidente americano multiplica os ataques contra a imprensa, classificando regularmente de "Fake News" (Notícias falsas) qualquer informação publicada pelos veículos de comunicação que possa lhe desagradar.

Agência France-Presse
postado em 15/08/2018 11:49
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Washington, Estados Unidos - Chamada de ;inimigo do povo; por Donald Trump, a imprensa americana está organizando um contra-ataque, com uma iniciativa para denunciar a retórica presidencial e lembrar a sagrada liberdade de imprensa protegida pela Primeira Emenda da Constituição. Espera-se que mais de 200 jornais publiquem editoriais, nesta quinta-feira (16/8), para ressaltar a necessidade de independência da imprensa. Nas redes sociais, o hashtag é #EnemyOfNone (#InimigoDeNinguém).

A iniciativa dessa convocação parte do jornal "The Boston Globe" e se dá em um momento particular: o presidente americano multiplica os ataques contra a imprensa, classificando regularmente de "Fake News" (Notícias falsas) qualquer informação publicada pelos veículos de comunicação que possa lhe desagradar. E Trump também ganha do "mainstream" da imprensa o apelido de "inimigo".

Nesse sentido, o "Boston Globe" convoca todas as redações do país a escreverem e publicarem editoriais para denunciar "uma guerra suja contra a imprensa livre". Para os defensores da liberdade de imprensa, esta retórica do presidente dos Estados Unidos ameaça o papel de poder compensatório para a mídia e põe em risco a Primeira Emenda constitucional.

Uma iniciativa limitada

"Não acho que a imprensa possa ficar de braços cruzados e sofrer. Tem que se defender, quando o homem mais poderoso do mundo tenta minar a Primeira Emenda", afirma Ken Paulson, ex-editor do jornal "USA Today" e diretor do centro "First Amendment Center", no Newseum, o museu do Jornalismo situado em Washington.
Ele ameniza, porém, o alcance da iniciativa: "As pessoas que leem editoriais não precisam ser convencidas" disse. "Não são elas que tentam gritar durante as reuniões presidenciais", afirmou Paulson, referindo-se à fria acolhida dada, com frequência, aos jornalistas da Casa Branca - como no caso da rede CNN.

Para Paulson, no clima atual, os veículos de comunicação devem desenvolver uma campanha de marketing mais ampla para ressaltar a importância da liberdade de imprensa como valor central. Os partidários do presidente veem, porém, outra razão para formular suas críticas.

"Os meios de comunicação têm um ataque deliberado público e mais ainda contra @realDonaldTrump" e contra "metade do país que o apoia. E os veículos se perguntam por que pensamos que são notícias falsas?", escreveu Mike Huckabee, ex-governador republicano e colunista do canal conservador Fox News.

Para James Freeman, colunista do prestigioso "The Wall Street Journal", jornal especializado em Economia propriedade do magnata Rupert Murdoch - um aliado do presidente -, esta iniciativa "provavelmente não é a melhor maneira de ampliar o número de leitores entre os eleitores de direita".


Resistência e valores

Para os defensores da imprensa, porém, o que está em jogo é importante demais para permitir a escalada retórica do presidente. Alguns acreditam que os comentários de Donald Trump deflagraram ameaças contra jornalistas que cobriam seus eventos e também podem criar um clima de hostilidade que abre as portas para ataques violentos, como o que aconteceu contra a sede do jornal "The Capital", em Annapolis, Maryland, no final de junho. No episódio, cinco pessoas foram assassinadas por um atirador que tinha uma relação conflituosa com o veículo.

O professor de Jornalismo Dan Kennedy, da Universidade Northeastern, não tem dúvida de que os simpatizantes do presidente verão nesta iniciativa "mais uma prova de que a imprensa age como um membro da Resistência" disse.

"Mas a retórica de Trump sobre os meios de comunicação se tornou cada vez mais ilimitada e é útil para que os jornais reafirmem seus valores e a importância da Primeira Emenda de forma coerente, coordenada", acrescentou.

Até terça-feira à noite, o jornal "The Washington Post", um dos mais investigados na administração Trump e um dos alvos mais frequentes da ira presidencial, ainda não tinha aderido à iniciativa.

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