Agência France-Presse
postado em 15/08/2018 17:26
Alexandria, Estados Unidos - O ex-chefe da campanha do presidente americano, Donald Trump, Paul Manafort, "mentiu e voltou a mentir", afirmaram nesta quarta-feira (15) os promotores ao concluir um julgamento por fraude bancária e evasão fiscal, o primeiro processo decorrente da investigação do procurador especial Robert Mueller.
Em suas alegações finais, os promotores acusaram Manafort de tecer uma rede de mentiras para esconder dezenas de milhões de dólares ganhos em consultorias para políticos pró-russos na Ucrânia.
[SAIBAMAIS]"Este caso está repleto de mentiras", disse o promotor federal Greg Andres a um júri integrado por seis homens e seis mulheres, no 12; dia do ultra-midiático julgamento.
"O senhor Manafort mentiu e voltou a mentir", afirmou perante a corte federal lotada em Alexandria, perto de Washington. "Mentiu para ficar com mais dinheiro quando já o tinha. E mentiu para obter mais dinheiro quando não o tinha".
Manafort, um consultor político e lobista republicano de 69 anos, é alvo de 18 acusações de sonegação fiscal e fraude bancária em um caso derivado da investigação de Mueller sobre a interferência russa para favorecer Trump nas eleições presidenciais de 2016.
Manafort não foi acusado de nenhum delito relacionado a seu breve período como chefe da campanha de Trump, mas o julgamento é considerado um prova importante para a investigação de Mueller, que o presidente Trump denunciou repetidamente como uma "caça às bruxas".
As acusações contra Manafort se relacionam principalmente com o modo como administrou o dinheiro ganho na Ucrânia de 2005 a 2014, incluindo suas iniciativas para ajudar o magnata Viktor Yanukovych a se tornar presidente em 2010.
O promotor Andres disse que Manafort apresentou declarações de imposto de renda falsas entre 2010 e 2016 para esconder dezenas de milhões de dólares das autoridades fiscais americanas.
O dinheiro dos políticos ucranianos foi depositado em 31 contas bancárias estrangeiras, a maioria no Chipre. Segundo o promotor, Manafort não informou sobre a existência dessas contas nem a seu contador nem ao Serviço de Rendas Internas (IRS) americano.
"Ele possuía essas contas, as controlava, movimentava o dinheiro à vontade", disse Andres, enquanto Manafort, de terno azul, fazia esporádicas anotações sobre a mesa da Defesa.
"Não era necessário ser um especialista em impostos" para saber que o dinheiro deveria ter sido informado, afirmou Andres.
"Não é um crime ser rico"
Manafort também apresentou declarações falsas para obter milhões de dólares em empréstimos bancários quando teve problemas financeiros, disse o promotor.
A principal testemunha da promotoria contra Manafort e seu adjunto durante muitos anos, Rick Gates, explicou ao júri como ajudou seu chefe a proteger seus ganhos da Receita americana.
Os advogados de defesa, que não convocaram nenhuma testemunha própria, apresentaram Gates como um mentiroso e ladrão durante os interrogatórios, apontando que havia chegado a um acordo de culpabilidade com o governo na esperança de receber uma sentença menor por seus próprios crimes.
Durante seu testemunho, Gates, de 46 anos, reconheceu ter roubado centenas de milhares de dólares de Manafort e também de ter tido uma aventura extramatrimonial há mais de uma década.
"O fato de o senhor Gates ter tido uma aventura há mais de 10 anos faz o senhor Manafort menos culpado?", perguntou Andres, ao pedir que o júri considere o testemunho de Gates assim como os das outras 20 testemunhas que o governo convocou contra Manafort.
Durante o julgamento, a promotoria apresentou provas de anos de altos gastos de Manafort enquanto sonegava impostos: milhões de dólares em casas de luxo, automóveis, tapetes antigos e roupas. Andres disse que o caso "não se trata de sua riqueza".
"Não é crime neste país ser rico", disse. "O senhor Manafort conhecia a lei e a violou de todos os modos". A defesa de Manafort deve apresentar suas alegações finais. Os promotores terão 17 minutos para refutar esses argumentos e o juiz T.S. Ellis enviará o caso para consideração do júri.
Enquanto Gates e vários outros acusados no contexto das investigações de Mueller se declararam culpados, Manafort se negou a chegar a um acordo e insistiu em ir a julgamento.
Manafort, que trabalhou nas campanhas presidenciais dos republicanos Gerald Ford, Ronald Reagan, George H.W. Bush e Bob Dole, foi chefe da equipe de Trump de maio a agosto de 2016.
Ele pediu demissão em meio aos questionamentos sobre seu trabalho para Yanukovych e especialistas legais dizem que ele pode estar especulando sobre receber um indulto de Trump.
Manafort, que corre o risco de passar o resto de seus dias na prisão por este caso, enfrentará um segundo julgamento em setembro, também no contexto da investigação de Mueller.