Agência France-Presse
postado em 24/08/2018 16:33
Bogotá, Colômbia - Quando se fala de corrupção na Colômbia, as pessoas acabam discutindo política. A corrupção está tão arraigada na vida do país que os colombianos participarão no domingo de uma consulta popular que pretende combater esta chaga e castigar com firmeza os funcionários públicos corruptos.
"Ser corrupto hoje na Colômbia é mais rentável que ser narcotraficante", afirma a ex-senadora Claudia López, promotora da iniciativa que deseja dimensionar esse fenômeno no país que mais exporta cocaína no mundo.
Dirigente do opositor Partido Verde, López apresentou ante o Senado uma proposta de medidas anticorrupção que recebeu o apoio com mais de três milhões de assinaturas válidas.
"Teremos a oportunidade, mediante voto popular, de dar um mandato de cumprimento obrigatório ao Congresso para que, no máximo em um ano, aprove as medidas anticorrupção", acrescentou López.
[SAIBAMAIS]Apesar de a população estar perturbada com a dimensão da rede de propinas a políticos articulada pela empreiteira brasileira Odebrecht, o vencedor da consulta deve ser a abstenção, segundo prognósticos.
A iniciativa desperta dúvidas sobre sua eficiência para extirpar "o mal endêmico que se incrustou na sociedade colombiana", como definiou o ex-magistrado Juan Carlos Henao, que apresentou recentemente uma pesquisa sobre a corrupção.
Propostas
A consulta contém sete medidas, que vão do corte de salários dos altos funcionários, incluindo congressistas, até a eliminação de benefício e embargo de bens de políticos condenados.
Caso seja aprovada, a consulta também proibirá que uma empresa condenada volte a ter contrato com o Estado.
Os cálculos mais conservadores avaliam que a Colômbia perdeu 4% do PIB por conta da corrupção entre 1991 e 2011, uma média de 9 trilhões de pesos por ano (quase 3 bilhões de dólares ao câmbio atual), segundo o estudo da Universidade Externado.
Para sua aprovação, a iniciativa deverá reunir 12,1 milhões de votos, um terço do censo eleitoral em um país onde o voto não é obrigatório e a abstenção ronda os 50%.
A proposta enfrenta o ceticismo de alguns especialistas e as reservas do partido no poder, começando pelas do ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010), que prefere apoiar os projetos anticorrupção de sua bancada.
No Índice de Percepção da Corrupção - que a ONG Transparência Internacional publica todos os anos -, a Colômbia está no posto 96 entre 180 países, sendo os primeiros lugares ocupados pelos países menos corruptos.
No último ano, o Ministério Público processou cerca de 2.200 pessoas por casos de corrupção em governos locais.