Agência France-Presse
postado em 05/09/2018 17:21
Washington, Estados Unidos - Os esforços políticos para renegociar o Acordo de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta, na sigla em inglês) são retomados nesta quarta-feira, após diálogos entre técnicos dos Estados Unidos e do Canadá durante o fim de semana.
As discussões estão marcadas por reiteradas ameaças do presidente americano, Donald Trump, de tirar o Canadá do Nafta e continuar apenas com o México, que já chegou a um acordo com Washington e poderia assinar o Nafta 2.0 até 30 de novembro.
Quando o otimismo reinava na sexta-feira, comentários explosivos de Trump incomodaram o Canadá e as negociações ministeriais foram interrompiadas.
A ministra canadense de Relações Exteriores, Chrystia Freeland voltou a Washington nesta quarta-feira para se reunir com o representante comercial americano (USTR), Robert Lighthizer, com esperança de diálogos construtivos.
Após o primeiro encontro, ela disse que "há verdadeira boa fé e boa vontade de ambos os lados da mesa", mas repetiu que "estamos aqui para conseguir um bom acordo, e não qualquer um".
Trump manteve, durante o fim de semana, um tom combativo contra o Canadá, e provavelmente não cooperará muito, após dados oficiais mostrarem nesta quarta-feira que o déficit comercial dos Estados Unidos com o vizinho cresceu e o déficit com China e União Europeia alcançou novos recordes.
"Não há uma necessidade política de manter o Canadá em um novo acordo Nafta. Se não alcançamos um bom acordo depois de décadas de abuso, o Canadá sairá", tuitou no sábado.
Trump também ameaçou "dar fim a todo o Nafta" se o Congresso interferir. "Ou alcançamos um bom acordo ou voltamos ao pré-Nafta", disse Trump no Twitter.
A Casa Branca já notificou ao Congresso sua "intenção de assinar um acordo comercial com o México - e com o Canadá se for sua vontade - nos próximos 90 dias a partir de hoje.
O governo tem agora até 30 de setembro para apresentar ao Congresso o texto completo do novo acordo, o que dá tempo para Washington e Ottawa para solucionar as diferenças.
Trilateral ou bilateral?
Contudo, congressistas e especialistas em direito comercial alertaram que Trump não tem autoridade para suprimir o Nafta trilateral por um pacto bilateral com o Canadá.
Chrystia Freeland e Robert Lighthizer disseram que os dois avançaram nos quatro dias de negociações da semana passada.
Nesta quarta-feira, o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau insistiu que seus negociadores não vão abrir mão de manter o Capítulo 19 do tratado - que estabelece os mecanismos de solução de processos judiciais entre os parceiros e aos quais Washington resiste.
"Precisamos manter a resolução de disputas do Capítulo 19 porque isso garante que as regras sejam realmente cumpridas", disse Trudeau à estação de rádio CHED, de Alberta.
"Quero dizer, nós temos um presidente (dos EUA) que nem sempre segue as regras como estão estabelecidas", acrescentou.
[SAIBAMAIS]O Canadá já recorreu a esse mecanismo com sucesso para controvérsias sobre tarifas americanas sobre a madeira canadense e outros setores-chave.
Depois que os Estados Unidos e o México chegaram a um acordo sobre novas regras para o comércio de automóveis e maiores proteções para trabalhadores e propriedade intelectual, o sucesso das negociações com o Canadá depende dos mecanismos de solução de controvérsias e do que Ottawa esteja disposta a ceder no seu setor de laticínios, altamente protegido.
Autoridades mexicanas disseram em comunicado que "continuarão promovendo um acordo do qual o Canadá faça parte".
Mas eles também indicaram que eles já estão protegidos por um acordo bilateral com os Estados Unidos. Empresários mexicanos também disseram que apoiariam um pacto bilateral.
Um acordo sem o Canadá "não é o cenário ideal, mas é melhor que ficar sem um acordo válido e manter a incerteza", disse Gustavo de Hoyos, presidente da Confederação dos Empregadores da República do México.
Já o setor empresarial dos Estados Unidos defende com firmeza que o Nafta permaneça trilateral. "Algo diferente de um acordo trilateral não teria o apoio do Congresso e poderia perder o apoio das empresas", alertou Thomas Donohue, presidente da poderosa Câmara de Comércio dos Estados Unidos.
Em uma coincidência rara, o presidente da organização sindical da AFL-CIO, Richard Trumka, também defende o Nafta trilateral.
Trumka disse que "é muito difícil ver" como os esforços para modernizar o Nafta poderiam funcionar "sem ter o Canadá no acordo".