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Mais de cinco milhões de crianças ameaçadas de fome no Iêmen

O governo iemenita, apoiado pela Arábia Saudita, combate os rebeldes huthis, apoiados pelo Irã, em uma guerra que já causou a morte de 2.200 crianças, de acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Agência France-Presse
postado em 19/09/2018 10:13
Iemenitas deslocadas de Hodeida encherão seus contêineres de água em um acampamento improvisado em uma vila no distrito de Abs, na província de Hajjah, no dia 16 de setembro de 2018. As Nações Unidas estão trabalhando para abrir uma ponte aérea humanitária para levar pacientes de câncer iemenitas para tratamento em instalações qualificadas, representante para o Iêmen Nevio Zagaria da Organização Mundial da Saúde (OMS), disse ontem.
Sana, Iêmen - Mais de cinco milhões de crianças estão ameaçadas de fome no Iêmen- indicou nesta quarta-feira (19/9) a ONG Save the Children, enquanto o conflito se agrava, e os preços dos alimentos e do combustível aumentam. Em um relatório, a organização britânica advertiu para o risco "de uma fome sem precedentes" neste país que vive a pior crise humanitária do mundo, segundo a ONU.

[SAIBAMAIS] O governo iemenita, apoiado pela Arábia Saudita, combate os rebeldes huthis, apoiados pelo Irã, em uma guerra que já causou a morte de 2.200 crianças, de acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Save the Children estimou que mais de um milhão de crianças correm o risco de passar fome, enquanto os preços dos alimentos e dos custos de transporte aumentam, elevando para 5,2 milhões o número total de crianças ameaçadas neste pobre país da península arábica.

A retomada, na segunda-feira (17/9), de uma ofensiva das forças pró-governo no porto estratégico de Hodeida - principal ponto de entrada para as importações e para a assistência internacional - põe em risco o acesso à ajuda humanitária e já tem um impacto econômico sobre os civis, apontam especialistas.

De acordo com o Escritório para a Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (OCHA), o preço dos alimentos aumentou 68% desde 2015, quando uma coalizão liderada pela Arábia Saudita entrou na guerra em apoio ao governo para combater os huthis que controlam vastos territórios, incluindo a capital do país, Sanaa, e o porto de Hodeida.

De acordo com o OCHA, o custo dos produtos de uma cesta básica aumentou 35%, enquanto os preços da gasolina, diesel e gás de cozinha aumentaram mais de 25% desde novembro de 2017. Desde outubro de 2017, o Programa Alimentar Mundial (PAM) adverte que, além dos combates e dos ataques aéreos, a comida é agora "uma arma de guerra" no Iêmen.

Batalha de Hodeida
A interrupção do fornecimento de alimentos através do porto de Hodeida, no Mar Vermelho, "colocaria as vidas de centenas de milhares de crianças em perigo imediato, enquanto empurra milhões para a fome", denunciou a Save the Children. Os confrontos mortais recomeçaram em torno da cidade portuária depois de fracassadas negociações no início deste mês em Genebra.

As Nações Unidas alertaram que qualquer grande conflito na cidade de Hodeida poderia acabar com a distribuição de alimentos para oito milhões de iemenitas que dependem dela para sobreviver.

A cada 20 crianças com menos de cinco anos, pelo menos uma sofre de desnutrição aguda grave em Hodeida, de acordo com o Unicef.
A Arábia Saudita e seus aliados acusam os rebeldes de contrabandearem armas do Irã por Hodeida e impuseram um bloqueio quase total ao porto. Os huthis e o Irã negam essas acusações. "Milhões de crianças não sabem quando a próxima refeição virá", lamentou Helle Thorning-Schmidt, diretora da Save the Children. "Em um hospital que visitei no norte do Iêmen, os bebês estavam muito fracos para chorar, seus corpos exaustos pela fome", relatou.

Segundo a ONU, três iemenitas em cada quatro precisam de ajuda atualmente, sobretudo, alimentar, e o país está ameaçado por uma terceira onda de cólera. Desde março de 2015, 10.000 pessoas foram mortas, em sua maioria civis, e mais de 56.000 foram feridas no conflito.

Em um relatório publicado em 4 de setembro, a organização Norwegian Refugee Council havia ressaltado que tais balanços não incluíam as consequências econômicas da guerra. "Este caos econômico tem o potencial de matar muito mais iemenitas do que a violência", escreveu o diretor da ONG no Iêmen, Mohamed Abdi.

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