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Após anos de negociações, China reconhece a autoridade do papa

Após anos de difíceis negociações, a Santa Sé selou um acordo histórico com o governo da China sobre a nomeação de bispos



Após anos de difíceis negociações, a Santa Sé selou um acordo histórico com o governo da China sobre a nomeação de bispos. Minoritários em um país com 1,5 bilhão de habitantes, os 12 milhões de católicos chineses professam a fé divididos há décadas entre uma Igreja ;patriótica;, controlada pelo regime comunista e outra, clandestina, que reconhece a autoridade papal. O tratado firmado ontem abrange apenas o tema religioso, e não engloba o restabelecimento das relações diplomáticas entre Pequim e a Santa Sé, interrompidas desde 1951 ; dois anos após a vitória de Mao Tsé-tung na guerra civil contra os nacionalistas, que se refugiaram na ilha de Taiwan.

O acordo preliminar foi assinado na capital chinesa pelos chefes das equipes negociadoras: o subsecretário de Estado da Santa Sé, Antoine Camilleri, e o vice-chanceler Wang Chao. Em seguida, o papa Francisco reconheceu sete bispos chineses que tinham sido nomeados pelo governo, sem aval pontifício. Alguns deles chegaram a ser excomungados. Um oitavo bispo, já falecido, foi reconhecido a título póstumo. Em troca desse gesto, Pequim reconheceria a autoridade do papa sobre a Igreja Católica na China, segundo o The Wall Street Journal.

Os dois lados esperam que o acordo favoreça o progresso no diálogo institucional e contribua positivamente para a vida dos católicos na China. ;Este não é o fim do processo, é o começo;, declarou o porta-voz do Vaticano, Greg Burke. ;Permitirá aos fiéis terem bispos em comunhão com Roma, mas, ao mesmo tempo, reconhecidos pelas autoridades chinesas;, complementou.

Desde que assumiu o pontificado, em 2013, Francisco busca aproximar o Vaticano do governo chinês, em um momento de auge para o cristianismo no país. O acordo, porém, pode se tornar alvo de críticas, já que coincide com uma brutal campanha de destruição de igrejas cristãs em algumas regiões chinesas. Francesco Sisci, pesquisador italiano que trabalha em Pequim por conta do governo chinês, acredita que a liberdade religiosa no país não é comparável à da Europa, mas aposta que ;a normalização com a Santa Sé pode contribuir para melhorar a situação;. Ele lembra que a Igreja ;clandestina; seguirá a decisão de Francisco.

"Cheque em branco"


O diretor do China Programs, instituto de pesquisas sobre Ásia da Universidade de Nottingham (Reino Unido), Jonathan Sullivan, mostra-se mais crítico. ;É um passo estratégico para a China e um passo ingênuo para o Vaticano. O Partido Comunista usará o acordo como um cheque em branco da Santa Sé para a Igreja controlada pelo Estado, no momento em que os fiéis são severamente reprimidos por suas crenças e práticas religiosas.;

Após o anúncio do acordo sobre as nomeações, o governo de Taiwan ; a ilha é tratada pela China como uma província rebelada ; garantiu que não corre o risco de perder o único parceiro na Europa. A Santa Sé é um dos últimos 17 países do mundo a reconhecer o governo de Taipé, o que é obstáculo para o estabelecimento de relações com Pequim. A chancelaria taiuanesa espera que o tratado abra caminho para a liberdade religiosa na China, mas manifestou a expectativa de que a Santa Sé procure garantir que os católicos ;terão a devida proteção e não estarão sujeitos à repressão;.

Defesa dos imigrantes

O papa Francisco criticou ontem, sem mencionar nomes, os países que ;expulsam os estrangeiros;, em referência à crise migratória enfrentada pela Europa nos últimos anos. O pontífice fez a declaração após desembarcar em Vilna, capital da Lituânia, primeira escala de uma visita de quatro dias às ex-repúblicas soviéticas do Báltico, vizinhas da Rússia. Em seu discurso, Francisco apontou a Lituânia, de sólida maioria católica, como exemplo para a comunidade internacional e para a União Europeia (UE).

A censura do papa aos governos que rejeitam imigrantes parecia endereçada ao Grupo de Visegrado (Polônia, Hungria, República Tcheca e Eslováquia), cujas autoridades não quiseram acolher em seu território os refugiados da África e do Oriente Médio desembarcados na Grécia e na Itália ; a despeito da distribuição decidida pela UE, da qual são membros. Ao falar para as autoridades lituanas e para o corpo diplomático, Francisco condenou as ;vozes que semeiam divisão e enfrentamento, instrumentalizando a insegurança e os conflitos;. E contestou a ideia de que ;a única maneira de garantir a segurança de uma cultura é eliminar ou expulsar as outras;.

O pontífice também se referiu a um dos principais problemas dos países bálticos, a emigração juvenil. ;Os jovens não são apenas o futuro, mas o presente dessa nação, sempre e desde que permaneçam unidos às raízes do povo;. O papa segue amanhã para a Letônia, de maioria protestante, e no dia seguinte para a Estônia, considerado o país mais ateu do mundo.