Agência France-Presse
postado em 23/09/2018 17:32
Colombo - O candidato opositor Ibrahim Mohamed Solih obteve uma inesperada e surpreendente vitória na eleição presidencial nas Maldivas, de acordo com resultados oficiais divulgados neste domingo (23/9).
Faltando a apuração de apenas 27.000 votos, Solih liderava a disputa por 34.000 votos contra o autoritário presidente Abdulla Yameen, segundo os resultados publicados pela imprensa local.
"Faço um apelo a Yameen para que respeite a vontade do povo e conduza uma transferência de poder pacífica e sem problemas", declarou Solih na televisão nacional pouco depois da divulgação dos resultados, que o apontavam com 58% dos votos.
O opositor aproveitou a ocasião para exigir a libertação imediata de dezenas de presos políticos. "A mensagem é alta e clara. O povo quer justiça e estabilidade", acrescentou.
À frente desta nação de mil ilhas habitadas por mais de 340.000 pessoas, o chefe de Estado em final de mandato tem conduzido uma repressão feroz contra os dissidentes.
O presidente Yameen e seu único rival Ibrahim Mohamed Solih, da coalizão de oposição, votaram em Malé, a capital e cidade mais densamente povoada do país, poucos minutos após a abertura das assembleias de voto.
"Há bastante entusiasmo. Os eleitores fizeram fila para votar, apesar do mau tempo", declarou Shauna Aminath, um membro do Partido Democrático das Maldivas (MDP, oposição).
Enquanto as Maldivas evocar lua de mel e praias, a situação política neste país é menos radiante. As Maldivas evocam luas de mel e praias paradisíacas no imaginário das pessoas, mas a situação política deste pequeno país do oceano Índico é bem menos radiante.
No sábado, a polícia invadiu a sede da campanha do MDP em Malé, segundo comunicado da formação política. A polícia afirmou que agiu para evitar "atividades ilegais".
As principais personalidades da oposição estão atrás das grades ou no exílio, como o ex-presidente Mohamed Nasheed. A sociedade civil, por sua vez, está amordaçada.
Líder dos protestos opositores, Nasheed - que perdeu as eleições para Yameen em 2013 em circunstâncias polêmicas - teve que desistir da atual disputa presidencial após ser condenado num processo movido por motivação política, de acordo com a ONU.
A coalizão de oposição acabou por apresentar Ibrahim Mohamed Solih, de 54 anos, pouco conhecido dos eleitores. A imprensa ignorou sua candidatura, por medo de represálias por parte do poder.
De acordo com a organização Human Rights Watch, o governo das Maldivas recorre a decretos e "leis vagas formuladas para silenciar a dissidência e intimidar e aprisionar os críticos", alguns dos quais foram agredidos ou mesmo mortos.
A maioria dos jornalistas estrangeiros que desejava cobrir as eleições não obteve visto. Apenas alguns, nos últimos dias, conseguiram uma autorização.
Na semana passada, a oposição denunciou esse bloqueio à imprensa internacional e acusou o regime de tentar limitar "a observação independente da votação e das prováveis tentativas de fraudes".
A repressão aumentou ainda mais no início de 2018, quando o chefe de Estado se opôs a uma decisão da Suprema Corte, que anulava as condenações judiciais de opositores e restabelecia em seus cargos os deputados rebelados.
Abulla Yameen impôs um estado de emergência por 45 dias, mandou prender dois juízes da Suprema Corte e o ex-autocrata do arquipélago (1978-2008) Maumoon Abdul Gayoom, seu meio-irmão e antigo mentor. A alta corte finalmente retrocedeu em sua decisão.
Durante um discurso de campanha, no sábado, Abdulla Yameen disse que enfrentou "enormes obstáculos para liderar a nação" e considerou que havia enfrentado "os desafios com resiliÊncia".