A Rússia anunciou nesta segunda-feira(24/9), que fornecerá ao governo sírio sistemas de defesa antimísseis S-300, mais modernos do que os atualmente utilizados. A decisão foi tomada após a derrubada de um avião russo pela Síria na semana passada. Apesar de ter sido um acidente de fogo amigo, o caso elevou as tensões na região.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que descobertas recentes dos militares russos mostraram que um jato israelense "deliberadamente" empurrou o Il-20 russo para a linha de fogo, permitindo sua derrubada. Funcionários de Moscou disseram que os sistemas antigos S-200 da Síria não eram sofisticados o suficiente para identificar o avião russo como amigo.
O avião militar derrubado pela defesa síria tinha 15 pessoas a bordo e todas morreram. Moscou culpou Israel pelo ocorrido, alegando que caças israelenses empurraram a aeronave russa para a linha de fogo síria. Pouco antes da queda, ataques de Israel haviam atingido alvos dentro do território sírio, impedindo um envio de armas ao grupo militante Hezbollah, apoiado pelo Irã.
Tensões
A Rússia começou a atuar na Síria em 2015, apoiando o governo do presidente Bashar Assad. Apesar de a atuação no país ter mudado a guerra em favor de Assad, Moscou tem buscado o equilíbrio, mantendo boas relações tanto com o Irã como com Israel. O governo israelense, por sua vez, é cauteloso sobre a crescente influência do Irã na Síria, que coloca as forças iranianas cada vez mais perto da fronteira.
A queda do avião russo na última semana colocou à prova as relações entre Rússia e Israel. O presidente Vladimir Putin inicialmente emitiu uma nota conciliatória, dizendo que o acidente aconteceu por uma "corrente de circunstâncias trágicas e fatais". Mas militares russos se manifestaram no domingo (23/9)
renovando as acusações contra Israel.
Armamento
Em um comunicado nesta segunda-feira, o ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, disse que a Rússia enviará o sistema de defesa antimísseis S-300 para a Síria nas próximas duas semanas.
Anteriormente, a Rússia havia suspendido o fornecimento de S-300. O governo israelense temia que as forças sírias pudessem utilizar os sistemas contra Israel. Mas Shoigu disse que a Rússia agora dará seguimento ao fornecimento porque "a situação mudou".
O ministro também afirmou que a Rússia começará a atacar eletronicamente aeronaves que tenham alvos no território sírio. "Nós estamos convencidos de que essas medidas irão acalmar alguns (militares) impulsivos e impedi-los de tomar ações descuidadas que representem perigo para nossas tropas", disse Shoigu.
O vice-ministro das Relações Exteriores, Mikhail Bogdanov, disse a agências de notícias que o fornecimento de S-300 para a Síria é um direito da Rússia e expressou confiança de que a medida não prejudicaria seus laços com Israel. Segundo o Kremlin, a decisão da Rússia não foi dirigida contra ninguém e apenas serve para proteger as tropas russas na Síria.
Guerra
O crescente papel da Rússia na Síria permitiu que as forças de Assad, que vinham perdendo território para a oposição armada, ganhassem vantagem e recuperassem territórios significativos mantidos pelos rebeldes. Nos últimos meses, o governo recapturou muitas áreas controladas pelas oposição.
Na semana passada, a Rússia chegou a um novo acordo com a Turquia, evitando uma ofensiva apoiada pelos russos contra a província de Idlib, no nordeste do país, uma das últimas áreas fora do controle governamental.
Idlib, controlada por uma mistura de grupos radicais e a oposição armada, apoiada pela Turquia, tem acesso à costa Síria, onde estão militares russos e bases aéreas, e teria sido atacada pelo fogo rebelde.
Pouco após o anúncio de Moscou, o gabinete do presidente sírio recebeu uma ligação de Putin e os dois discutiram os últimos acontecimentos, incluindo a negociação sobre Idlib e a entrega dos S-300. Segundo o comunicado, Putin reiterou que a Rússia responsabiliza Israel pela queda do avião russo.
Assad expressou suas condolências pelas mortes dos pilotos russos, dizendo que estavam "realizando uma missão nobre, combatendo o terrorismo na Síria". O Kremlin confirmou a ligação, dizendo que Assad e Putin discutiram trabalhar para "alcançar uma normalização duradoura na Síria e restaurar sua soberania, unidade e integridade eleitoral". Fonte: Associated Press.