Agência France-Presse
postado em 28/09/2018 09:43
Cabul, Afeganistão - A campanha para as eleições legislativas no Afeganistão, adiadas durante muito tempo, começa nesta sexta-feira (28/9) em um clima de medo e incerteza ante os riscos de violência e as múltiplas alegações de fraude.
Mais de 2.500 candidatos estão na disputa das eleições de 20 de outubro, nas quais a Câmara Baixa do Parlamento afegão será totalmente renovada. A votação, que acontece com três anos de atraso pela situação instável do país, também é encarada como um teste geral antes da eleição presidencial, prevista para abril.
As legislativas acontecerão um mês antes de uma importante conferência da ONU em Genebra, na qual a comunidade internacional espera convencer os países doadores sobre os progressos alcançados no Afeganistão. mConferências anteriores, em Tóquio no ano de 2012 e em Bruxelas em 2016, resultaram em promessas de doações de mais de 30 bilhões de dólares.
Mas a preparação para as eleições legislativas é caótica, por questões burocráticas, alegações de fraude no processo de registro dos eleitores, a tardia implementação de um sistema de verificação biométrica dos votantes, além de vários episódios de violência. Todos estes fatores podem levar a um resultado de pouca credibilidade.
As máquinas biométricas exigidas pelos líderes da oposição têm como objetivo impedir que uma pessoa vote diversas vezes. Mas apenas 4.400 máquinas foram entregues até o momento, contra 22.000 solicitadas.
A Comissão Eleitoral independente insiste, no entanto, que a votação deve acontecer, com ou sem máquinas.
Nova geração
Trinta e cinco candidatos condenados por corrupção ou tráfico foram eliminados e 2.565 candidatos, em sua maioria independentes, disputam as 249 cadeiras em jogo.
Muitos dos atuais membros do Parlamento - vários com reputação de corruptos ou ineptos - são candidatos à reeleição. Terão como adversários centenas de novos aspirantes a políticos, descendentes de senhores da guerra, empresários ou integrantes da sociedade civil.
"O Parlamento deveria ser a casa do povo. Ao invés disso, se tornou um local para as redes mafiosas, a corrupção e para os que trabalham por seus próprios interesses", critica a ex-jornalista Maryam Sama, de 26 anos, candidata na província de Cabul.
A rápida mudança demográfica no Afeganistão deve, em tese, favorecer os jovens candidatos. Mas seu desafio é imenso diante da velha guarda, que dominou por muito tempo a política afegã e ainda mantém uma influência considerável.
"Os antigos políticos, herdeiros de poderes étnicos e religiosos, se consideram os proprietários legítimos e exclusivos da política" observa Naeem Ayubzada, diretor da Fundação Independente para Eleições Transparentes no Afeganistão (TEFA).
Talibãs e Estado Islâmico
A onda de violência em grande parte do país nos últimos meses alimentou a dúvida sobre a pertinência das eleições em tal contexto. A tarefa é gigantesca, pois os talibãs e o grupo Estado Islâmico (EI) prometeram prejudicar as eleições.
Pela primeira vez, 54.000 membros das forças de segurança afegãs protegerão 5.000 locais de votação. Por razões de segurança, outros 2.000 pontos não abrirão as portas.
A missão da Otan no país permanece voluntariamente em segundo plano, deixando a manutenção da ordem para as forças afegãs.
Apesar das medidas, alguns observadores se mostram céticos e opinam que que teria sido melhor adiar as eleições legislativas até depois da votação presidencial.