Agência France-Presse
postado em 03/10/2018 15:25
Rancagua, Chile - O cardeal arcebispo de Santiago, Ricardo Ezzati, escolheu nesta quarta-feira ficar em silêncio diante do promotor Emiliano Arias, que o intimou para depor como acusado do crime de ocultação de abuso sexual.
Ezzati, a mais alta autoridade da Igreja católica chilena a sentar no banco dos réus, responde por supostamente encobrir o padre e ex-chanceler do arcebispado de Santiago, Oscar Muñoz, acusado de abuso sexual e estupro de pelo menos sete crianças.
Muñoz foi o primeiro padre preso e levado à justiça em maio passado depois que o papa Francisco adotou medidas corretivas após a crise de abuso sexual de menores sofrida pela Igreja Católica do Chile.
Ao chegar às dependências do Ministério Público de Rancagua, sul de Santiago, em meio a uma forte proteção policial e presença da mídia, Ezzati viu um solitário manifestante que exibia um cartaz com os dizeres: "Igreja romana depravada".
Ao final de uma hora, o religioso deixou o prédio em meio ao caos, afirmando para todos: "Vamos colaborar com tudo".
No entanto, seu advogado, Hugo Rivera, relatou mais tarde que Ezzati reservara seu direito de permanecer em silêncio.
"Por enquanto o cardeal não fez declarações. Iremos discutir com o Ministério Público a declaração final", declarou o advogado.
"O covarde cardeal Ezzati vai testemunhar como acusado e decide não falar para não se incriminar. Onde está o ;colaborarei em tudo com a justiça;? Os bispos delinquentes vão ter que um dia acabar na cadeia, eles destruíram tantas vidas", declarou, em seu Twitter, o jornalista Juan Carlos Cruz, vítima de abuso sexual pelo ex-padre Fernando Karadima, que o papa Francisco expulsou da Igreja na última sexta-feira.
O advogado de Ezzati explicou que o religioso optou pelo silêncio nesta quarta após a decisão de terça-feira do tribunal de Rancagua de declarar-se "incompetente" em uma das acusações contra Oscar Muñoz e transferir o caso para Santiago.
Sua posição à frente da Igreja está sob a lupa do papa Francisco, que está determinado a dar um fim ao que ele mesmo definiu como "uma cultura de abuso" na Igreja chilena. Algumas vozes asseguram que o pontífice o manteve em seu cargo porque não encontrou um substituto.
No total, de acordo com um balanço mais recente do Ministério Público, o sistema de justiça chileno mantém 119 casos abertos por alegações de abuso sexual.